quinta-feira, 11 de abril de 2019

UMA PARÓDIA INTELIGENTE DE VIANNEY MESQUITA




OH, MAMINHA!
Luz Braz de Canhões*

Oh maminha senil que te partiste
Com medo desta serra renitente
É cousa de beréu impenitente...
M’esquiva eu cá da perra que me assiste!

No momento funéreo em que cindiste
A escória desta lida putrescente,
Jamais te esqueças do fedor ingente
Que já do olfato meu também sentiste.

Se tu vires que podes esquecer-te
Da cousa: o mau odor que me restou
Da água – oh que tédio – a corromper-te,

Ora a Zeus, que teus planos abreviou,
Que tão cedo daqui leve a comer-te
Quem, ledo, sob escolhos, te cheirou.


*Paródia configura um arremedo burlesco de um texto de prosa ou poesia. Luz Braz de Canhões é o pseudônimo (neste soneto) de Vianney Mesquita.

O autor parodia o célebre soneto de Luís de Camões, dedicado a Dinamene (Tin Nam Men), ninfa aquática (nereida) chinesa, uma das 50 filhas de Nereu, inserida na Ilíada, de Homero. Decerto, de caso pensado, critica o cacófato que há no soneto de Camões, na expressão Alma minha gentil que te partiste - maminha - que gerou a paródia.

SONETO DE AMOR






SIMBIOSE
Giselda Medeiros

Dizer que somos dois... ah, que mentira!
Eu sou a tua voz, e és tu a minha.
Minha também é tua boca, a lira,
que embala os sonhos meus, que me acarinha.

E teus dedos, do amor a campainha,
a despertar-me o gozo, a ardente pira
do meu castelo de emoções... Rainha
eu sou de um rei que, como eu, delira!

Andamos sós, errantes pela vida,
sob este céu que é meu, que é teu, no entanto,
dispersa nosso sonho que definha.

E, enquanto os dois vagueamos (que ferida!)
eu cuido ver, por trás do nosso pranto,
tua alma a soluçar dentro da minha!