segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

BUSCA - Giselda Medeiros



Hoje quero tocar-te,
alcançar as dunas que circundam
a alvura de tuas praias.
Hoje queria ter
dedos insubmissos,
sentinelas destas mãos
que comandam a feroz audácia
de gestos indormidos.
Queria alongar-te pelo dorso manso
a inquietude de desejos secretos
até sentires a quentura gritante
da minha insaciável busca.

Sinto o tempo de amar,
o tempo de entrega.
Entanto, os meus olhos já se enublam
como um sol poente
nas águas sofridas de um rio.
E minha alma, cisne arisco,
já se inclina ante a miragem
do fogo de teus olhos.

Hoje queria tocar-te a superfície,
cadeia enervada de emoções.
Mas, que adianta!
Hoje é apenas um momento...
E o momento é breve como o canto
que te canto.
Depois... Somente a praia submersa
que se inclina
e o sol, pedaços de ânsias afogadas
na mansitude negra das águas.

TREVO- Giselda Medeiros



Tua ausência
é como este exílio
que me detém
feito pássaro sem asas
feito rio sem a foz
feito árvore sem frutos.

Tua ausência
é como este verão
que me calcina
que me alucina
que matou a menina
que deixaste
perdida na mina
do abandono.

Tua ausência
é toda esta saudade
que me invade
que me alaga as margens
soletrando adeus
taciturna
muda
no silêncio desta noite
cartilha em que aprendi
que o amor é coisa que não passa
é o túmulo onde jaz
o travo do trevo
plantado em tua boca
de adeus.

ACRÓSTICO PARA MÁRIO BARBOSA - Giselda Medeiros


Aos seus noventa anos

Mais um ano se junta ao calendário
Ativo de uma vida abençoada
Ritual que Deus promove e nos concede
Irmos também em sua caminhada
Onde só vemos bênçãos e ternura.

Beijamos, Mário, tua fronte altiva
Agradecendo a Deus por nos ter posto
Risonhamente no teu mar da vida
Barco a buscar as praias mais amenas
Onde águas claras de sabedoria
São os faróis que há noventa anos vemos
A irradiar-se de tua fronte altiva!

Giselda Medeiros
23/7/2009