Partiste... e aquele momento,
no tempo, tornou-se eterno
conflito do pensamento
num céu, que se fez inferno...
Beijar-te os olhos quisera,
naquele instante de amor,
no entanto a doce quimera
fez-se um dilúvio de dor.
Nesta existência sofrida
triste certeza me invade:
o sonho ardendo na vida,
e a vida a arder na saudade.
Diante do altar, rezando,
minha mãe chorava e ria...
Era a ternura aflorando
no cálice da Poesia!
Minha saudade, tem pena
deste meu verso tristonho...
Mas não me seques a pena
com que burilo meu sonho!
No cais da vida, à distância,
eu vislumbrei, na verdade,
doce, acenando-me a infância,
com o lenço azul da saudade!
Teus olhos, ardentes círios,
meus dias tornam risonhos;
e tuas mãos, brancos lírios,
vão modelando os meus sonhos!
Entre as águas deslizando,
sem direção definida,
eu vou, qual pedra, rolando
nas correntezas da vida...
Tu voltaste... e a tarde finda
em rubra aurora se fez...
E a velha lembrança, ainda,
acendeu tudo outra vez...
Tu me pediste um sorriso;
eu, somente uma canção...
Te dei mais que um paraíso;
tu me deste a ingratidão!