Sócio correspondente da Academia Brasileira de Letras, Maura está no Cairo para a conferência 'O autor e suas máscaras: uma aproximação de Cervantes e Machado de Assis', no Instituto Cervantes, e afirma que, fora de suas fronteiras, o escritor brasileiro "é um grande desconhecido". Em sua opinião, até mesmo no Brasil os estudos sobre Machado de Assis "não refletiram bem" sua faceta de grande crítico do sistema de sua época e da escravidão.
Para ele, o cronista e poeta teve que recorrer à ironia
para falar "na surdina" de um tema que não podia ser encarado
abertamente por ele ser neto de escravos. Um exemplo disso é Memórias Póstumas
de Brás Cubas (1881). Segundo Maura, a verdadeira intenção do autor é
"colocar o dedo na ferida" da sociedade e para isso se serve de uma
sutil alegoria para denunciar que o morto é o próprio Brasil.
A escolha do nome do protagonista, que coincide com o
início do nome do país, "não é à toa" para um alguém tão
"inteligente e cuidadoso com a linguagem" quanto era Machado de
Assis. De acordo com ele, "a crítica brasileira foge" desta
interpretação porque "não é fácil aceitar que seu país é um país morto ou
esteve morto".
Maura defende que as obras que o romancista e dramaturgo
escreveu depois de Memórias Póstumas, como Dom Casmurro ouQuincas Borba, são
dos livros "mais importantes de sua geração, não apenas do Brasil, mas de
todo o mundo".
Segundo ele, alguns autores de língua espanhola, como
Jorge Edwards, Julián Ríos e Carlos Fuentes, destacaram a importância de
Machado de Assis, mas o mestre brasileiro ainda carece do merecido
reconhecimento mundial.
Antonio
Maura (Bilbao, 1953) es licenciado en Filosofía y en periodismo, y es doctor en
Filología Románica por la Universidad Complutense de Madrid con la primera
tesis defendida en España sobre un escritor brasileño, 'El discurso narrativo
de Clarice Lispector' (octubre, 1997).
Entre
2005 y 2009 fue director de la Cátedra de Estudios Brasileños en la Universidad
Complutense de Madrid. Además fue profesor visitante en la Universidad Federal
de Ceará (Brasil) y director de la Casa de Cultura Hispánica en dicha
Universidad (1982-85).