CHAMAS
Derrama-se
em brasas o sol morrente...
Há
gritos de silêncio sobre a terra,
e
a alma dos rios, silente, chora a vida
que
morre entre as pedras submersas.
Pesado
é o céu... E as aves agoureiras
descem
as asas sobre a torre da matriz,
o
rude bico, as penas eriçadas,
o
canto mudo sofrendo na garganta.
No
manto aflito do horizonte surgem
assustadas
estrelas solitárias,
de
brilho morno e, com olhos de surpresa,
espreitam
tímidas a timidez da luz.
A
noite segue em sua nave de mistério,
a
negra mão a controlar as sombras,
a
cabeleira densa sobre os montes
e
o olhar a derramar-se nos caminhos.
Mas,
de repente, eis um clarão, e a bruma
de
um círculo de prata se reveste
e
alteia-se elegante pelas várzeas,
numa
festa de luz e de saudade.
Ó
loira lua, lunando, lua cheia,
em
tuas mãos de concha e de magia
aninha
a noite até que uma outra aurora
venha
explodir-se em chamas de desejo!
(do livro "Cantos Circunstanciais)