O
Objeto Ausente
O
prestigiado Escritor, Ensaísta, Poeta, Jornalista e Professor Carlos D’Alge vem
de lançar, em elegantíssima noite no Centro Cultural Oboé, mais um de seus
livros. Trata-se, agora, de O Objeto Ausente (Fortaleza, Editora
ABC, 2003), obra que nos chega não para provocar polêmica, mas para provar e
comprovar o talento desse homem que, sendo grande, bem maior se tornou pela
coragem de levar a público seus dramas pessoais, desnudando-se completamente,
deixando sobre si apenas a túnica da verdade, esta que o conduz durante todo o
processo narrativo da obra.
Quem
teve ou ainda tem o prazer de compartilhar da amizade de Carlos D’Alge, e beber
dele a sabedoria e a experiência advindas do manancial de sua inteligência,
pode julgar-se verdadeiramente um privilegiado.
Sendo
ser humano em toda a extensão do termo, não poderia ele, porém, passar incólume
sobre este chão pedregoso da vida, sem ferir-se e, em assim sendo, ferir
também, embora de maneira involuntária, aqueles que lhe estiveram ou lhe estão
ao redor. Entretanto, jamais permitiu que ninguém ultrajasse com gestos ou
palavras as pessoas que ama, pois o seu caráter, a sua formação ética falam
muito mais alto que toda a pequenez dos invejosos.
Neste
livro, Carlos D’Alge afirma, mais uma vez, que a sua escrita é uma verdadeira
epifania, na qual ele se vai doando, em festa, ao banquete do leitor. E quanto
mais se o vai lendo mais gostoso vai sendo o ato da leitura, isto por que o seu
texto viabiliza o conhecimento de si, do outro e do mundo. Profundamente
cuidadoso na linguagem, que aparece supimpamente trabalhada, ele demonstra
ainda maior a discrição em não revelando nome das pessoas envolvidas em sua
trama amorosa, evitando desse modo qualquer constrangimento para as personagens.
Seu
drama não é menor nem maior que o de muita gente. Por isso, o leitor vai, aqui
e ali, identificando-se com particularidades das vivências do autor, mesmo por
que quem nunca se deixou levar pela ardência de uma paixão? Quem nunca teve de
tomar decisões que a outrem pareceriam pura loucura? Se ainda não, certamente
fá-lo-ão um dia. Eis por que concordamos com ele quando diz: Sem paixão não
existimos, deambulamos, e só.
Mas,
o livro não trata apenas da narrativa de seus amores, de suas paixões, das crises de depressão que o atormentaram,
das doenças, da dissolução matrimonial. Há a história de uma vida coroada de
êxito, de uma vida dedicada ao trabalho, à literatura, ao jornalismo, aos
amigos que fez nesta terra de Iracema, à família. É uma maneira que ele
encontrou para dar satisfações suas ao leitor, dentro daquele princípio que
sempre lhe norteou a vida, ou seja, o de fugir à mentira, ao fingimento, às
especulações dos que alardeiam um falso moralismo. Carlos D’Alge é transparente
e, de conformidade com Adélia Prado, coloca o sentimento “como a coisa mais
fina do mundo”. Como artista que o é, não poderia ser diferente. Escrever é um
ato de verdadeira entrega ao sentimento, e é este que move as pessoas, que dá
colorido ao mundo, que torna poética a vida. Só a beleza salvará o mundo, diz
Dostoievski.
Enfim,
Carlos D’Alge, munido do prazer aliciante da palavra, constrói em O Objeto
Ausente um mundo onde a sinceridade se faz presente em todos os sentidos, e
a verdade se planta em todos os ventos que, alvissareiros, vão-lhe invadindo o
coração numa canção de amor à vida, buscando o objeto amado que se fez ausente
na fúria dos desencontros e conflitos humanos.
E,
para concluir esta modesta apreciação, lembramos-lhe o patrício Fernando
Pessoa: “Para ser grande, sê inteiro: nada teu exagera ou exclui. Sê todo em
cada coisa. Põe quanto és no mínimo que fazes”. Assim é Carlos D’Alge.
Giselda Medeiros - in Crítica Reunida