A Acadêmica, Dra. Angela Gutiérrez, em inflamado e primoroso discurso, apresentou a obra, que está prefaciada pelo escritor, poeta e professor, também Acadêmico, Batista de Lima, e posfácio assinado pela escritora, Acadêmica, Beatriz Alcântara.
Foi uma noite festiva e alegre, uma vez que contou com a participação musical de Alvarus Moreno e sua esposa, Auzeneide Cândido, além da voz e violão de Renato Assunção.
Havia uma nobre e gentil plateia. A seguir, o texto de apresentação, por Angela Gutiérrez.
UM DIA
AZUL NA VIDA DE GISELDA MEDEIROS[1]
Há dias
azuis em nossas vidas. Hoje é um desses belos dias de cor celeste na vida da querida amiga e escritora consagrada
na Terra da Luz, Giselda Medeiros. Neste dia, de ouro sobre azul, comemoramos o
aniversário da amiga – o dom de sua vida -, e o lançamento do livro A Saga Lírica de Giselda Medeiros, coletânea
de textos de leitores-críticos que reconhecem na escritora o dom da poesia, enriquecido
em sua bela e sempre ascendente trajetória literária.
Hoje, no
entanto, não é o primeiro dia azul de Giselda. Como a escritora relata em seu
discurso de posse na Academia Cearense de Letras:
Era 14 de julho. Não o de 1789, em que se decretava,
na França, a vitória da liberdade, com a Tomada da Bastilha. Mas, um outro 14
de julho, numa cidadezinha acanhada do interior cearense, quando uma outra
liberdade se fazia imperativa.
O véu das estrelas cobria com sua luz azul o tímido
casario de Prata [...]
Senhores, naquele 14 de julho, a cidadezinha de
Prata do Acaraú era toda plenilúnio. E um branco alvoroço derramava-se pelo ar
para receber uma menina, a terceira filha do casal Jorge Francisco de Medeiros
e Raimunda de Sousa Fernandes Medeiros. O sopro de vida, antes essência,
exteriorizou-se.
Se o nascimento
de Giselda foi seu primeiro dia azul, permito-me relatar alguns dias azuis
entre tantos outros que brilham em sua carreira literária. No ano de 2000, a 21
de junho, a escritora ingressa na
Academia Cearense de Letras, como décima mulher a compor o quadro feminino de
membros de nossa instituição, desde sua fundação, em 15 de agosto de 1894. Complementando
a informação, acrescento que, depois do ingresso de Giselda, há 17 anos,
somente duas mulheres passaram a ser membros de nossa Academia: Natércia Campos,
tão nobre escritora e amiga que logo partiu ao encontro de seu pai, sempre
lembrado Moreira Campos, e Lourdinha Leite Barbosa, Diretora Cultural da ACL, escritora
talentosa, que publicou, no ano passado, a importante obra Barão de Camocim: Uma história real tecida com os fios da
imaginação.
A
acadêmica Regine Limaverde, que acaba de publicar belo livro intitulado dentro de mim, o mar, que tive honra e
prazer em prefaciar, com sua aguda
sensibilidade feminina, sempre audaz na luta pelo reconhecimento pleno dos
direitos da mulher, em discurso de saudação à poetisa Giselda Medeiros, que
tomava posse na cadeira 28 da mais antiga academia de Letras do país, lembrou o
papel do então presidente da ACL, Poeta Artur Eduardo Benevides que, cito suas palavras: “foi peça importante para o preenchimento de algumas vagas na Academia
com escritoras e poetisas, e decididamente findou com a era de apenas escritores homens numa
sociedade onde bens, saber, atividades, prazeres, obrigações e trabalhos devem
ser divididos entre o homem e a mulher”.
E traçou
algumas linhas do retrato da poetisa que entrava na Casa de Thomaz Pompeu:
Uma mulher que é a própria poesia, pois escreve,
fala e pratica poesia com quem quer que prive de sua amizade. Uma mulher
moderna. Culta, alegre, atuante nas letras de nossa terra.
No mesmo
discurso, a escritora Regine, ao examinar alguns poemas de Giselda, cita uma
estrofe do livro Transparências, que
abriga dois versos que me encantam:
O poeta é o mar
Onde navegam as naus da esperança
Reproduzo-os
aqui e agora porque dizem bem do sentimento que pode alimentar o povo
brasileiro neste momento triste, brumoso, tempestuoso em que enxergamos com
dificuldade um futuro digno para nossa nação e precisamos ouvir a voz da poesia
para mantermos a chama verde da esperança, capaz de iluminar os caminhos de
nosso país.
Quinze
anos atrás, em outro dia de brilho azul, alguns traços marcantes da
personalidade e das obras líricas da poetisa - a nobreza de seus sentimentos e a delicadeza de sua escrita -, já lhe haviam desenhado um perfil mais-que-perfeito
para torná-la merecedora do título de Princesa dos Poetas do Ceará, proclamado
pelas diversas entidades culturais que
assistem na tradicional e respeitada Casa de Juvenal Galeno.
Hoje é mais
um dia cor-do-céu sem nuvens para a poetisa, no momento em que merecida distinção
lhe é conferida: o lançamento de um livro de leituras de seus livros. Há prêmio
mais benéfico ao coração de quem escreve do que ver reunidos textos que comentam
sua obra e lhe reconhecem valor literário? A coletânea, idealizada pelos membros
da Associação de Jornalistas e Escritoras do Brasil – AJEB - Coordenadoria do
Ceará, de que Giselda Medeiros é Presidente de Honra, foi organizada pela atuante
presidente da entidade, Desembargadora Gizela Nunes da Costa, mulher em que se
unem duas imensas qualidades – dignidade e simplicidade, além de entusiasmo
contagiante. Prefaciada pelo escritor e professor Batista de Lima, com a sutileza
crítica de quem bem conhece a literatura tout
court, a literatura cearense e a obra da poetisa homenageada, A Saga Lírica de Giselda Medeiros conta
com posfácio, da também acadêmica e professora Beatriz Alcântara, escrito em
linguagem poética e com delicada sensibilidade na escolha dos poemas de Giselda
que cita no texto.
Participam
da coletânea, com escritos de ontem e de hoje, as companheiras ajebianas de
Giselda e outros expressivos nomes de nossa literatura, listados abaixo a
seguir: Artur Eduardo Benevides, Batista de Lima, Beatriz Alcântara, Carlos
Augusto Viana, Débora Cavalcante, Dias da Silva, Dimas Macedo, Elinalva Alves
de Oliveira, Evan Gomes de Bessa, Francisco Ferreira Nobre, Genuíno Sales,
Geraldina Amaral, Gizela Nunes da Costa, José Alves Fernandes, José Telles,
Linhares Filho, Maria Argentina Austragésilo de Andrade, Maria do Carmo
Fontenelle, Maria Helena do Amaral Macêdo, Maria Luisa Bonfim, Maria Nirvanda
Medeiros, Neide Azevedo Lopes, Nilto Maciel, Rejane Costa Barros, Rosa Virgínia
Carneiro de Castro, Zenaide Braga
Marçal.
Gostaria
de convocar à minha fala a companhia de palavras de todos os colegas escritores
da coletânea que Gizela, nesta noite festiva, entrega ao público leitor de
nossa cidade, aos colegas escritores e acadêmicos, aos participantes de todas
as associações de Letras a que a homenageada pertence. No entanto, se assim o
fizesse, não só tomaria o lugar de descoberta do leitor, como estaria assumindo,
também, o papel de Pierre Menard do conto de Borges, instigante personagem que quer
escrever el Quijote com as mesmas palavras com que o genial Miguel de Cervantes
Saavedra escrevera as aventuras do
Hidalgo de la Mancha. E nesse caso, considerando que Menard tem sido
visto como metáfora do escritor latino-americano que repete sempre o mesmo
destino de desmanchar os fios da escrita do Outro para criar novas teias e
tessituras em seus, nossos livros, não estaria longe do paradigma que nos é
atribuído.
Porém, se
repetir as palavras dos colaboradores da coletânea deixaria meu texto mais bonito,
por outro lado, muito o alongaria e, certamente, anularia o prazer do primeiro
encontro dos leitores com a coletânea. Assim, hei de contentar-me em lembrar
uma única voz, que já não se faz ouvir em nosso mundo, com sua bela sonoridade
humana, mas permanece em nossa memória em toda sua musicalidade e sabedoria.
Recordo,
pois, uma voz inesquecível, a do grande poeta Artur Eduardo Benevides, quando
comenta dois momentos do itinerário poético de Giselda. Ao escrever sobre o primeiro livro de
Giselda, disse o poeta:
Alma Liberta
é um livro de estreia. Giselda, com ele, se apresenta de corpo inteiro, aos
seus leitores, assumindo a responsabilidade de ser uma voz a serviço da paz, do
amor, da beleza e da verdade. Numa palavra, a serviço da poesia.
Saúdo-a com esperança e dou-lhe as boas vindas. O
seu talento fará o resto.
As
palavras premonitórias do Mestre da Poesia confirmam-se e, em texto posterior, o
Poeta de Pacatuba, como gostava de denominar-se aludindo afetuosamente à sua
terra de berço, reafirma que a escritora “...
sabe tirar proveito, sempre, de seu comprovado talento, sendo uma das poetisas
de maior expressão, nos dias que passam, na Literatura do Ceará”.
Que mais
posso dizer, depois que Magister dixit?
- Giselda,
sua poesia e sua amizade são pedras preciosas, safiras... diamantes azuis, para
guardar, como diz Milton Nascimento, em sua “Canção da América”:
Debaixo
de sete chaves,/ Dentro do coração/.../ No lado esquerdo do peito...
Angela Gutiérrez,
escritora,
membro da Academia Cearense de Letras
e do Instituto do Ceará
[1] Apresentação da
coletânea A Saga Lírica de Giselda
Medeiros, dia 13/7/2017, no Náutico Atlético Cearense, por Angela Gutiérrez.
GALERIA DE FOTOS
]
OS AGRADECIMENTOS DA HOMENAGEADA
ORAÇÃO À AMIZADE
SENHORAS, SENHORES
Aprendi,
desde cedo, de minha mãe, que “A palavra doce multiplica os amigos”. Por isso,
digo-vos, hoje, que não há maior doçura do que a de saborear uma amizade.
Porque os amigos são como a oliveira verde que foi semeada para dar azeite na
longa noite das nossas agonias. São a candeia que se acende quando as sombras
empalidecem nosso céu. Ou a flor brotando, linda e majestosa, do pântano de
nossas dores. São pomos dulcíssimos que nos saciam a fome de carinho. São
pálios abertos a nos proteger das agressões do tempo.
Feliz
é o que tem amigos para cantar. E hoje, nesta noite macia de afetos, como
poderia deixar de bendizer a Deus pela amizade com que me cercais, meus
queridos amigos? A vossa palavra é para mim canteiro de perfumadas rosas. São
suavíssimas auroras a descerem sobre a tarde da minha existência. E é em vosso
regaço que busco o contorno da minha poesia. Inundais com vossa luz de amor os
vales do meu destino. Sois as delícias do meu viver!
Nesta
noite, asseguro-vos, tudo é alegria! Alegria, sobretudo, de ser acariciada com esta
homenagem que me faz a Associação de Jornalistas e Escritoras do Brasil,
Coordenadoria do Ceará, homenagem, digo-vos, liderada e organizada por sua
atual Presidente, Dra. Gizela Nunes da Costa, para este dia do meu natalício. E
quem, dizei-me, quem não sentiria um tropel de emoções explodir-lhe no peito,
diante de tamanha reverência? O que fiz para merecê-la senão buscar sempre em
cada alvorada as cores da poesia com as quais aprendi a traçar o desenho da
vida, construindo retas, contornando curvas, apagando traços supérfluos,
retomando linhas, burilando os tons, tecendo o fio do amor, pelo qual vieram os
amigos e sentaram-se à mesa para celebrarmos juntos o sagrado rito da amizade? Pois
foi dessa palavra que absorvi o favo da solidariedade. E são tantas as
delícias, e tantos os afagos com que me brindais, amigos! Vossas mãos me abrem
o silêncio, plantando versos para a minha próxima colheita. Vossa palavra
desabrocha-me o pensamento ébrio de metáforas. Afastais, com vossos passos, as
ervas daninhas que se alastram pelos caminhos. Extinguis, com vossa luz, as
trevas da falsidade, da inveja e da maldade. Por isso, tenho por vós tamanha
lealdade, e tão contínua, como o sol que torna sempre todas as manhãs, e tão
abundante, como o rio que corre e, ao voltar sobre si mesmo, vem acrescido de
seus afluentes.
Vejo
vossos rostos a sorrir em meu destino. Rostos amados, os de agora, e os dos que
já passaram, porque “Deus renova aquilo que passou” e que foi amado. E minha
alma se enche do sal da vossa amizade e do aroma do vosso coração.
E,
agora, deixai-me agradecer! Em primeiro plano, ao meu grande Deus, que me nutre
a alma e que me faz ser eternamente aprendiz, para que possa viver sabiamente. Ao
presidente desta Casa, Dr. Pedro Jorge Medeiros, por nos ceder o espaço
romântico do Náutico, bem como à sua mãe, Nirvanda Medeiros, nossa Diretora de
Eventos. À Presidente da AJEB-CE, Dra. Gizela Nunes da Costa, elo fundamental na
corrente da AJEB; À Rejane Costa Barros, revisora da obra e autora das orelhas;
À Acadêmica, e minha querida amiga, Angela Gutiérrez, cuja palavra acabamos de ouvir
e que nos chegou como notas soantes de uma canção de sabedoria e competência. À
Universidade Federal do Ceará, pela concessão da chancela à obra e pela
aprovação do livro na “Coleção Diálogos Intempestivos”. Aos Acadêmicos Batista
de Lima e Beatriz Alcântara, pela aquiescência ao pedido da Organizadora, para
a feitura do Prefácio e do Posfácio, respectivamente. Ao editor, Dorian Filho, meu
querido amigo e zeloso profissional. A Carlos Alberto Dantas, o diagramador e
capista da obra, que, com sua sensibilidade artística, deu à luz este primoroso
projeto gráfico. Aos escritores, que deixaram plasmada, no livro, a percuciência
de suas palavras. À minha amada Família, templo que me acolhe e me alimenta a
alma com a hóstia do Amor. Enfim, a minha saudação a todos os integrantes da
AJEB, da Academia Cearense de Letras, da Academia Cearense da Língua Portuguesa,
da Academia Fortalezense de Letras, da Academia de Letras e Artes do Nordeste, da
União Brasileira de Trovadores, da Sociedade Amigas do Livro e da Associação
Brasileira de Bibliófilos; e a vós todos, amigos, que aqui estais a comungar
comigo desta homenagem. Bem sei que sairei daqui carregando o cheiro do incenso
de vossa amizade. E, doravante, hei de seguir com a felicidade daqueles que têm
esperanças e luares brotando de suas mãos.
Resta-me,
por fim, amigos, a certeza de, neste momento de júbilo que hoje experimento,
ter multiplicado substancialmente minha gratidão a todos vós, cuja palavra
quererei ouvir sempre.
E,
ao final, ratifico, com estes versos de Cecília Meireles, tudo o que me ditou a
emoção do momento:
“Basta-me
um pequeno gesto,
feito
de longe e de leve,
para
que venhais comigo
e
eu para sempre vos leve...”
Muito obrigada.
Giselda Medeiros
13/7/2017