quarta-feira, 15 de fevereiro de 2017

UM POEMA DE GISELDA MEDEIROS - CANÇÃO DA ENTREGA



CANÇÃO DA ENTREGA


                             Deixa-me assim,
                            pequenina entre teus braços,
                            nesta paz de pedras adormecidas
                            a esperar as águas que virão
                            do teu mar.
                            Quero esta paz imensa de madrugada
                            que faz tremer meu verso,
                            mais nada.

                            Depois, o extremo...
                            Quero o fremir, o grito
                            que acenderá as luzes de poemas,
                            lírios despetalados.
                            Abrir-te-ei minha alma
                             - a corola -
                            e nela pousarás qual afoito colibri
                            na rosa
                            ao sopro da canção que te escrevi.
                            Aí seremos água e fonte

                            e asas riscando os horizontes.

(do livro "Tempo das Esperas")

ESPALHEMOS A BELEZA DA POESIA DE ARTUR EDUARDO BENEVIDES


POEMA DE CONFISSÃO

Sou teu soldado-clarim.
Tens o segredo milenar da fonte.
E sei que estás, imensamente, em mim
como a linha do azul em cima do horizonte.
Teu jogral e andarilho,
vejo a tarde a descer de teu cabelo
tocando a solidão do tombadilho
à luz do Sete-Estrelo.
De repente, qual se a força do vinho me tomasse,
percebi-te na árvore em que nasce
a tâmara da vida.
E encontro em teu olhar minha nave perdida.
Nesse olhar de albores e flamboyants,
guardando os resedás e os rios das manhãs!
Quanto o esperei, desde longínquas datas,
mas as cousas me foram bem ingratas
passando por mim quais fantasmas num espelho.
Então, como num Canto de endormir criança,
chegaste com leveza de esperança
e ficaste em mim
- ó vilancete de luz ouvido num jardim,
- ó chuvas de infância cantando sobre as telhas,
despertando o balir alegre das ovelhas!
Ai, com tua escada de estrelas me salvaste
de frios iatagãs
Com teu jeito de lã no inverno me amaste.
E vi a teus pés rosas e avelãs.
E eu, com velhas mágoas como domicílio,
ficando junto a ti, não morrerei no exílio.
(do livro POEMAS DE MESA - 2012)