ESTRUTURA DO
SONETO Aos Pesquisadores Científicos
Vianney
Mesquita*
A ciência é o cemitério das ideias mortas (Miguel
de Unamuno y Jugo. * Bilbao, 29.09.1864; + Salamanca, 31.12.1936).
O poema
seguinte foi elaborado na grade métrica do soneto, ideação poética de quatro
estâncias - dois quartetos e dois tercetos, perfazendo catorze versos – com
várias possibilidades de localização das rimas.
Constitui homenagem àqueles que,
diuturnamente, buscam respostas para as manifestações precisas da Natureza e de
seus entes, sob a totalidade de ângulos de exame, configuradas na atividade
científica, isto é, a procura atentiva e aprofundada de algo que não é notório,
ou cujo conhecimento, deseixado de profundez e explicações plausíveis, é
pautado na chamada communis opinio ou
senso comum.
Sejam benditos os pesquisadores
Com seus rigores a buscar verdades;
Capacidades de interlocutores.
E de ouvidores de obscuridades.
Ao perquirir tão insondáveis fatos,
Cujos relatos pedem teorias,
Por essas vias, os feitos transatos
Têm, mais que atos, metodologias.
Neste exercício de sabedoria,
Ao revelar seus faustos de vivência,
Tranquilidade e douta teimosia,
É demonstrado em toda a percuciência
Extasiando o mundo, que aprecia
Um vivaz operário da ciência.
O entrecho
poético ocorreu sob inspiração do relatório final da primeira pós-graduação stricto sensu da hoje professora doutora
Maria MARLENE Lopes CIDRACK (Educação em Saúde - UNIFOR), detentora de uma
cátedra de membra-titular (*) da Academia Cearense de Odontologia.
Para obter o título de mestre (ela é mestrA,
mas o título é de mestrE), compôs um verdadeiro paradigma de ensaio acadêmico,
o qual muito me impressionou, a igual do ocorrido há quatro anos, quando
defendeu tese de doutoramento na Universidade Federal do Ceará – Faculdade de
Educação, com base na história do antigo SAPS, no Jacarecanga-Fortaleza (Escola
de Nutrição Agnes June Leith),
concedendo ensejo à publicação do livro Visitadoras de Alimentação, editado pela Universidade Federal do
Ceará (Edições UFC).
A estrutura
métrica desde soneto assenta em versos decassilábicos portugueses
quase-sáficos, com ictos na quarta, às vezes na oitava, e na décima de cada
linha das duas primeiras estâncias. Nestas, as rimas estão nos primeiros com os
terceiros e nos segundos com os quartos versos.
Usei, no feitio desta composição supostamente
petrarquiana (Francesco Petrarca -1304-1374), de não consoar os quartetos – o
que representa uma opção autoral – porém é de relevância proceder a esta
consonância.
Entrementes, nos trísticos, o primeiro verso
do primo terceto rima com o seu terceiro e com a segunda linha do segundo. Por
sua vez, o segundo verso do primeiro trístico faz rimas com o primeiro e o
terceiro do segundo terceto, ao passo que o primeiro e o terço versos do
primeiro grupo de três corresponde em som rimado ao segundo verso do derradeiro
terceto.
Destaco,
neste comenos, o emprego da rima
encadeada – atualmente bem mais rara – nas linhas versificadas das estrofes
quádruplas, o que confere mais estesia à composição.
(*) Embora de
lícita aplicação, membra é feminino
muito pouco empregado no Brasil.