SÓ EU E A NOITE
Giselda
Medeiros
Um grilo enche a noite
de notas...
Pressinto-lhe desespero
na cantiga.
Na vidraça da janela,
a chuva
desenha teu rosto
e me impõe a cantar meus
salmos.
Em uníssono, cantam
comigo as horas
em sua canção de
desfolhar o tempo.
Escuto Bach,
longe, longe,
trazido pelo
vento que, invejoso,
apaga da vidraça a tua imagem.
O grilo cala a melodia aflita,
enquanto o meu desejo espalha sons
estridentes, estilhaçando-se na noite
que parece nada ouvir
e dorme, enquanto a última estrela
persigna-se ante o Cruzeiro do Sul.