quarta-feira, 14 de abril de 2010

IMPLOSÃO - Giselda Medeiros


Da palavra
eu nasci.
Na palavra
eu vivo.
Com a palavra
eu amo.
Pela palavra
eu luto.
Sem a palavra
sou caos
o mar sem água.
Sobre a palavra
debruço-me
e choro.
Sob a palavra
ergo tendas.
E para a Palavra
retornarei
ante a implosão
de Thanatos.

(Cantos Circunstanciais)

SIMBIOSE - Giselda Medeiros



Dizer que somos dois... ah, que mentira!
Eu sou a tua voz, e és tu a minha.
Minha também é tua boca, a lira,
que embala os sonhos meus, que me acarinha.

E teus dedos do amor a campainha
a despertar-me o gozo, a ardente pira
do meu castelo de emoções... Rainha
eu sou de um rei que, como eu, delira!

Andamos sós, errantes pela vida,
sob este céu que é meu, que é teu, no entanto,
dispersa nosso sonho que definha.


E, enquanto os dois vagueamos (que ferida!)
eu cuido ver, por trás do nosso pranto,
tua alma a soluçar dentro da minha!