sábado, 21 de agosto de 2021

Para os que amam amar o amor:

BUSCA

Giselda Medeiros


Hoje quero tocar-te,

alcançar as dunas que circundam

a alvura de tuas praias.

Hoje queria ter

dedos insubmissos,

sentinelas destas mãos

que comandam a feroz audácia

de gestos indormidos.

Queria alongar-te pelo dorso manso

a inquietude de desejos secretos

até sentires a quentura gritante

da minha insaciável busca.


Sinto o tempo de amar,

o tempo de entrega.

Entanto, os meus olhos já se enublam

como um sol poente

nas águas sofridas de um rio.

E minha alma, cisne arisco,

já se inclina ante a miragem

do fogo de teus olhos.


Hoje queria tocar-te a superfície,

cadeia enervada de emoções.

Mas, que adianta!

Hoje é apenas um momento...

E o momento é breve como o canto

que te canto.

Depois... Somente a praia submersa

que se inclina

e o sol, pedaços de ânsias afogadas

na mansitude azul das águas.