Canonização de São Francisco Marto e sua Irmã, Santa Jacinta
A Igreja Católica
Apostólica Romana celebra, em 2017, exatamente cem anos de ocorrência da
primeira aparição de Nossa Senhora, na Cova da Iria, em Fátima, fato sucedido
no dia 13 de maio de 1917.
A vila de Fátima é sede do
Concelho de Santarém e, desde essa aparição aos três pequenos pastores, os
irmãos Francisco e Jacinta Marto, e sua prima Lúcia dos Santos – de nove, sete
e dez anos, respectivamente – a Cova da Iria passou a ser um local importante
de peregrinações e turismo, de modo geral, porém os dias de maior afluência são
13 de maio e 13 de outubro, datas da primeira e da última aparição (seis) da
Virgem Santíssima.
Neste ano, ali no
Santuário, durante as comemorações do Centenário, com a esplanada lotada e em
transmissão televisiva para todo o Mundo, com acesso pela internet, aconteceu a
cerimônia de Canonização, por breve do Papa Francisco, dos dois manos
pastorinhos, enquanto correm os papéis de beatificação da Irmã Lúcia dos
Santos, falecida em 2005, com a idade de 97 anos, processo iniciado em 2008.
Os dois pastorzinhos, que
eram muito humildes e não sabiam ler, tampouco escrever, pereceram de gripe
espanhola, vírus então em nova cepa da influenza,
aparecido na Espanha na sua primeira fase (1918), mas que se transformou em
pandemia (1919), molestando o Mundo inteiro, levando a óbito cerca de quarenta
mil pessoas, especialmente no período epidêmico desta doença terrivelmente
disseminada.
Conforme o Santo Padre, na
sua homilia de 13 de maio de 2017, vista e ouvida por fiéis dos países católicos,
“Como um exemplo para nós, temos diante dos olhos São Francisco Marto e Santa
Jacinta”, os quais, com a mais viva fé em Nossa Senhora, foram receptores da
“[...] força para superar as adversidades e os sofrimentos”. “[...] Fátima é,
sobretudo, este manto de luz que nos cobre, tanto aqui quanto em qualquer parte
da Terra” – rematou o Papa Francisco – o quarto pontífice a visitar Fátima, em
50 anos.
Francisco de Jesus Marto nasceu
em Aljustrel (Fátima) em 11 de junho de 1908 e faleceu em Ourém, na segunta
fase da pandêmica febre espanhola, no dia 4 de abril de 1919, ao passo que
Jacinta Marto, nascida na mesma cidade do seu irmão pastor, em 11 de março de 1910
, transitou, vítima desse mal, em Lisboa, a 20 de fevereiro de 1920, tendo a
Igreja escolhido essa data para celebrar todos os anos o dia dos dois santos.
Por volta dos anos de
1950, foram tornados públicos os primeiros milagres dos dois videntes de
Fátima, ora canonizados, um dos quais denotava uma vista do inferno, mostrada
pela Virgem Maria, ao passo que o outro dizia respeito a uma guerra pior do que
a conflagração mundial de 1914-1918, na qual pereceram nada menos do que nove
milhões de pessoas, tendo deixado feridas trinta milhões, contando civis e
militares.
O terceiro prodígio foi anunciado pelo Papa
São João Paulo II, exatamente em Fátima, no ano 2000, quando da beatificação dos
dois então veneráveis – Francisco e Jacinta. Esta maravilha, realizada sob o
consentimento de Deus, dizia respeito a dois fatos: a) ao atentado, perpetrado
contra o Papa João Paulo II, pelo terrorista turco Ahmet Ali Agca, em 31 de
maio de 1981, na Praça de São Pedro, no Vaticano, por ocasião do sexagésimo
quarto aniversário da primeira visita de Nossa Senhora de Fátima; e b) à luta
entre o comunismo ateu e Igreja do século XX.
Dois outros prodígios,
creditados às duas crianças aljustrelenses (pastorinhos de Fátima), reconhecidos
pelas autoridades vaticanas do Direito Canônico, constituíram o moto principal
de suas santificações, o primeiro dos quais descansa na cura de uma senhora
paraplégica lusitana, que houvera pedido a (hoje) Santa Jacinta a debelação de
sua doença. Esta se chamava Maria Emília Santos, residente no Lar São
Francisco, em Leiria – Portugal.
Matéria datada de 27 de
junho de 1999, assinada pelo jornalista Manuel Fernandes Vicente, no jornal Público (Comunicação Social SA), da
cidade do Porto, dá conta de que Emília, de 69 anos, nascida em 1930, foi
acometida de paraplegia grave durante 22 anos de intensivo padecimento. É a
própria doente a narrar parte da sua estória ao jornal portuense, in verbis:
No dia 25 de março de 1987(?!),
cerca das onze e meia da noite, no fim da novena que habitualmente fazia a
Jacinta, disse para comigo: ‘Jacintinha, ainda não te lembraste de mim’. Logo a
seguir, comecei a sentir um formigueiro, que ocorreu três vezes. Tive medo e
comecei a chorar [...] a sentir os pés e ouvir uma voz de criança a dizer três
vezes: ‘Senta-te, que tu podes’. [...] Até eu fiquei espantada [...] Disse quem
me viu que o meu rosto ficou muito comprido, da cor de cera e que os cabelos
ficaram caídos.’Ela vai morrer, comentou alguém’. [...] [interrogação-exclamação
nossas, pois 1999 (data da matéria) – 22 (anos de paraplegia) = 1977].
“Sentou-se, então na cama” – prossegue o periodista. “Um novo ‘momento
mágico’ surgiu, quando, 23 meses depois, pediu à ‘Jacintinha’ para a ‘por a
andar’, para evitar dar trabalho aos mais próximos’, [...] pois – pensou ela –
‘depois de começar a andar na cadeira de rodas, ainda dava mais trabalho do que
quando estava deitada’. Lembra-se, então, de que, “num momento, [...] ‘os pés
puseram-se direitos e fiquei de pé, tendo deixado toda a gente surpreendida’”.
Na informação de Vicente,
“Foram estes dois ‘momentos mágicos’ que a Comissão dos Cardeais da Congregação
para a Causa dos Santos, do Vaticano, quis avaliar, com vista a uma eventual
beatificação” dos dois irmãos pastores de Fátima “a quem Maria Emília Santos
dedica” enorme devotamento. (VICENTE, in PÚBLICO,
27.06.1999).
O fato é que a
beatificação sucedeu no dia 13 de maio de 2000, conforme adiantamos, por breve
de São João Paulo II, no Santuário de Nossa Senhora, em Fátima. (Veja parágrafo
de fecho desta seção).
O outro episódio taumatúrgico operado dá conta
da sujeição de um mal em um garoto do Brasil que sofreu trauma da cabeça, na
ainda recente data de 3 de maio de 2013. Em 12 de maio de 2017, em Fátima, seus
pais disseram à imprensa que o menino se libertou das consequências do
acidente, após neste sentido haverem solicitado, juntamente com uma freira da
cidade de Campo Mourão-PR, a intercessão dos beatificados de então, Francisco
de Jesus Marto e Jacinta Marto, no que foram atendidos.
Consoante matéria
divulgada desde a Cidade-Santuário portuguesa (na véspera da santificação sob
comentário), pela nossa ex-aluna da UFC, jornalista Ariadne Araújo (O Povo, in ARAÚJO, 12.05.2017), esse
milagre aconteceu na Sede do Município de Miranda, no Paraná, ocasião em que o
garoto Lucas, então com cinco anos (nasceu em 2008), filho de João Batista e
Lucile Yurie, brincava com sua irmã, Eduarda, às oito da noite, quando caiu por
uma janela a seis metros e meio no chão, tendo quebrado a cabeça e perdido boa
parte da massa encefálica.
A mencionada religiosa, carmelita
de Campo Mourão, sensibilizada com a repetida solicitação dos pais para as
freiras do Carmelo rezarem aos beatos, intercedendo por Lucas, sem serem
atendidos, soube o que fazer. Pediu-lhes, então: “Salvem esse menino, que é uma
criança como vocês!”.
Ao cobrir os
acontecimentos relativos ao Centenário da
primeira aparição e da canonização, diretamente de Fátima, para seu
órgão de imprensa, conta Ariadne Araújo:
[...] Inesperadamente,
dois dias depois das rezas do Carmelo, o menino acordou do coma perguntando
pela irmã e falando normalmente. Os médicos, espantados de tamanha recuperação,
não tinham explicação. Pouco tempo depois, já recebeu alta e voltou para casa
completamente normal. ‘O Lucas de antes do acidente é o mesmo de agora’, diz o
pai. Segundo João Batista, ‘foi uma alegria sentir a bênção da amizade destas
duas crianças que ajudaram o nosso menino e agora ajudam nossa família’.
É consabido dos católicos
bem informados o fato de que, conquanto as visitas de Nossa Senhora à Cova da Iria
não sejam dogmas eclesiais, isto é, não seja exigido de todas as pessoas dessa
confissão, Francisco de Jesus Marto e Santa Jacinta Marto fazem parte, desde o
dia 13 de maio de 2017, da população celeste na dignidade de santos. O primeiro,
então, enriquece o grande contingente dos Franciscos Moradores do Céu estudados
nesta publicação.
No que diz respeito,
porém, ao valor atribuído aos milagres para que tenham bom curso os processos
de beatificação e santificação, atente o leitor para a leitura do capítulo
deste livro intitulado Direito Canônico e
Canonização, onde está explicada a Nova Legislação Relativa à Causa dos
Santos, desde a edição, em 25 de janeiro de 1983, da Constituição Apostólica Divinus Perfectionis Magister, do então
Papa São João Paulo II, apenas sete anos
antes da beatificação dos agora santificados irmãos pastorinhos.
VM e GJ