segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016

TRÊS POEMAS DE SÉRGIO MACEDO



ILUSÃO

Os mares invadem os litorais de tua vida
Talvez valha invadir os mares
Adentrar até os horizontes
Derramado sobre as serras
Delas extrair todos os desertos possíveis
Criar a solidão que transcende quaisquer isolamentos
Debruçar-se sobre as chuvas insofismáveis
E criar os mares a partir dessas ilusões.




CANDEIA

 Mesmo após se por,
Horizonte turbulento e lúgubre,
Permaneceu pairando entre nós,
Anjo branco.

Mesmo em luzes apagadas
Encontrou e mostrou caminhos,
Desvendou segredos,
Abusou de ser presente
Na ausência.

Legendário mestre e criador
De magnas virtudes
Jamais aceitou as ladeiras do tempo:
Enfrentou-o de igual para igual,
Olhou-lhe os olhos e o fez
Olhar o chão.
Nunca morreu, morrendo,
Pois, só parte de vez o que não cria,
Quem não deixa legado. 
Só vai completo
O que nada inova nem estimula.
Morrer, portanto, uma mentira,
Uma invenção
Para selar o tempo
Dos que não deixam saudades.




 ALMA/ tempo em atraso

Ela não disse nada,
silêncio de sepulcros,
alma aprisionada ao universo.
Eu só queria que voltasse um pouco,
sentada em um cadeira de balanços,
nesse vento gostoso da manhã, conversasse comigo.
não suportou e foi-se
deixando-me órfão de emoções.
Sua cadeira  de balanço, nunca usada, vazia, tem nome de tédio.
O vento de todo o dia,

Vazio, balança a cadeira,
Como se me alentasse
Em sua ausência.
Em seu lugar, também
Seria refém do universo,
Tirana prisão,
Largaria de mão quem não percebe
A luta ou não a quer,
Deixaria de lado o centurião fugidio,
Mataria todos os deuses do depois,
Do depois sem solução,

Do depois inevitável dos soluços.