sexta-feira, 22 de janeiro de 2010



A LINGUAGEM DAS MÃOS




Não basta apenas celebrar o amor


em sua magnitude etérea e abstrata.


É preciso também celebrar o encontro.


O encontro que faz o amor concreto e azul.


O encontro - junção do ter e do vir-a-ser,


na efusiva transmutação dos apelos.




Por isso, amado, celebremos juntos,


na comunhão dos nossos gestos e ânsias,


a doçura silenciosa, o grito morno


do encontro de nossas mãos...


Uma na outra - ebulição e calmaria,


silêncio longo e alvoroço breve,


no instante supremo em que trocamos juras


pela linguagem de nossas mãos unidas.




Giselda Medeiros




DESAPROPRIAÇÃO

O Tempo varre o sótão do meu sonho,
limpa o telhado do meu pensamento,
refaz o alpendre branco, onde me ponho
a conversar, à noite, com o vento.

Não ouço nada, além do que deponho,
em voz sofrida, em lúgubre lamento
ao Tempo que, veloz, segue e, medonho,
vai dissipando os sonhos que acalento.

E fico, horas a fio, indiferente
a esse mister de desapropriação
que o Tempo em nossa vida, mudo, faz.

Depois... depois, o que resta na gente
é este vazio - a flor da solidão -
que se abre e não fenece nunca mais...

Giselda Medeiros