Indicado ao Nobel de Literatura e detentor de dois Jabutis e
do Prêmio Camões, escritor maranhense é conhecido por obras como "Muitas
Vozes" e "Poema Sujo", considerado sua obra-prima. Ele morreu de
pneumonia.
Gullar, cujo nome verdadeiro era José de Ribamar Ferreira,
era membro da Academia Brasileira de Letras (ABL) desde 2014. Ele nasceu em São
Luís do Maranhão em 10 de setembro de 1930.
O maranhense descobriu a poesia moderna aos 19 anos de
idade, ao ler Carlos Drummond de Andrade e Manuel Bandeira. Segundo perfil no
site da ABL, de início, o jovem ficou escandalizado, mas logo se tornou um
poeta experimental radical.
"Eu queria que a própria linguagem fosse inventada a
cada poema", disse ele. Em 1954, o livro A Luta Corporal o lançou no
cenário literário. Os últimos poemas do livro provocariam o surgimento na
literatura brasileira da "poesia concreta", de que Gullar foi um dos
participantes. Mais tarde, ele passou a integrar o grupo neoconcreto, formado
por artistas e poetas do Rio de Janeiro.
Gullar levou suas experiências poéticas ao limite da
expressão, criando o Livro-Poema, o Poema Espacial e o Poema Enterrado. Este
consiste numa sala no subsolo a que se tem acesso por uma escada; após penetrar
no poema, deparamo-nos com um cubo vermelho; ao levantarmos este cubo,
encontramos outro, verde, e sob este ainda outro, branco, que tem escrito numa
das faces a palavra "rejuvenesça".
Luta política
Depois do Poema Enterrado, Gullar partiu para a luta política revolucionária. Ele aderiu ao Partido Comunista e passou a escrever sobre política e participar da luta contra a ditadura militar. Teve, então, de recorrer ao exílio em Moscou, Santiago do Chile, Lima e Buenos Aires.
Depois do Poema Enterrado, Gullar partiu para a luta política revolucionária. Ele aderiu ao Partido Comunista e passou a escrever sobre política e participar da luta contra a ditadura militar. Teve, então, de recorrer ao exílio em Moscou, Santiago do Chile, Lima e Buenos Aires.
Durante o exílio na capital argentina, ele escreveu o Poema
Sujo, que com quase cem páginas é considerado sua obra-prima, tendo sido
traduzido para várias línguas e publicado em vários países.
No campo do teatro, após o golpe militar de 1964, o escritor
e um grupo de dramaturgos fundaram o Teatro Opinião, que teve importante papel
na resistência à ditadura. Com Oduvaldo Vianna Filho, Gullar escreveu as peças
Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come e A saída? Onde fica a saída?
Retorno ao Brasil e prêmios
O poeta voltou ao Brasil em 1977, e foi preso e torturado. Libertado por pressão internacional, ele voltou a atuar na imprensa carioca e, depois, como roteirista de televisão. Em 1980, Gullar publicou Na vertigem do dia e Toda Poesia, livro que reuniu toda sua produção poética até então.
O poeta voltou ao Brasil em 1977, e foi preso e torturado. Libertado por pressão internacional, ele voltou a atuar na imprensa carioca e, depois, como roteirista de televisão. Em 1980, Gullar publicou Na vertigem do dia e Toda Poesia, livro que reuniu toda sua produção poética até então.
Em 1999, ele publicou Muitas Vozes, que recebeu os
principais prêmios de literatura daquele ano. Três anos depois, foi indicado
para o Prêmio Nobel de Literatura.
Ele foi agraciado com o Prêmio Jabuti duas vezes, em 2007 e
2011, por Resmungos e Em Alguma Parte Alguma, respectivamente. Em 2010, Gullar
recebeu o Prêmio Camões, o mais importante prêmio literário dos países de
língua portuguesa.
POEMA DE FERREIRA GULLAR
Traduzir-se
Uma parte de mim
é todo mundo:
outra parte é ninguém:
fundo sem fundo.
é todo mundo:
outra parte é ninguém:
fundo sem fundo.
Uma parte de mim
é multidão:
outra parte estranheza
e solidão.
é multidão:
outra parte estranheza
e solidão.
Uma parte de mim
pesa, pondera:
outra parte
delira.
pesa, pondera:
outra parte
delira.
Uma parte de mim
almoça e janta:
outra parte
se espanta.
almoça e janta:
outra parte
se espanta.
Uma parte de mim
é permanente:
outra parte
se sabe de repente.
é permanente:
outra parte
se sabe de repente.
Uma parte de mim
é só vertigem:
outra parte,
linguagem.
é só vertigem:
outra parte,
linguagem.
Traduzir-se uma parte
na outra parte
- que é uma questão
de vida ou morte -
será arte?
na outra parte
- que é uma questão
de vida ou morte -
será arte?