A TRAVESSIA
Não sei onde deixei meu
barco...
Na linha do horizonte, há
teias que me confundem.
E há fuligem e pátina no cais
onde me encontro.
Miro o oceano. Azul...
Esmeralda...
Confundem-se em mim mar e
firmamento,
dor e alegria, melancolia e
excitação,
vontade de partir, desejos de
ficar...
Mas, ir para onde?
Ficar, para quê?
O vento tange uma ária de
Bach...
e, dispersas pelo espaço
azul,
as nuvens dançam seu balé
aéreo.
O passado distingue Isolda, O
Lago dos Cisnes...
Principio a esvoaçar com as
etéreas bailarinas,
tão brancas e tão leves,
tão únicas e múltiplas... sem
começo, meio e fim.
Ah... Saudade dos sonhos
enfiados nas sapatilhas
róseas!
Saudade do brilho das finas
saias,
rodopiando, rodopiando...
E a bailarina, então, se
alçava,
quase levitando, livre,
lépida, linda!...
O vento me sacode... A Realidade. A Travessia!
Ao longe, um barco sobre
espumas flutuantes...
De repente, nem rastro nem
espuma...
Só a Travessia...
(do livro ÂNFORA DE SOL)