domingo, 25 de dezembro de 2011

FELIZ NATAL PARA TODOS OS AMIGOS COM ESSA CRÔNICA DE CECÍLIA MEIRELES


Compras de Natal
Cecília Meireles

A cidade deseja ser diferente, escapar às suas fatalidades. Enche-se de brilhos e cores; sinos que não tocam, balões que não sobem, anjos e santos que não se movem, estrelas que jamais estiveram no céu.

As lojas querem ser diferentes, fugir à realidade do ano inteiro: enfeitam-se com fitas e flores, neve de algodão de vidro, fios de ouro e prata, cetins, luzes, todas as coisas que possam representar beleza e excelência.

Tudo isso para celebrar um Meninozinho envolto em pobres panos, deitado numas palhas, há cerca de dois mil anos, num abrigo de animais, em Belém.

Todos vamos comprar presentes para os amigos e parentes, grandes e pequenos, e gastaremos, nessa dedicação sublime, até o último centavo, o que hoje em dia quer dizer a última nota de cem cruzeiros, pois, na loucura do regozijo unânime, nem um prendedor de roupa na corda pode custar menos do que isso.

Grandes e pequenos, parentes e amigos são todos de gosto bizarro e extremamente suscetíveis. Também eles conhecem todas as lojas e seus preços — e, nestes dias, a arte de comprar se reveste de exigências particularmente difíceis. Não poderemos adquirir a primeira coisa que se ofereça à nossa vista: seria uma vulgaridade. Teremos de descobrir o imprevisto, o incognoscível, o transcendente. Não devemos também oferecer nada de essencialmente necessário ou útil, pois a graça destes presentes parece consistir na sua desnecessidade e inutilidade. Ninguém oferecerá, por exemplo, um quilo (ou mesmo um saco) de arroz ou feijão para a insidiosa fome que se alastra por estes nossos campos de batalha; ninguém ousará comprar uma boa caixa de sabonetes desodorantes para o suor da testa com que — especialmente neste verão — teremos de conquistar o pão de cada dia. Não: presente é presente, isto é, um objeto extremamente raro e caro, que não sirva a bem dizer para coisa alguma.

Por isso é que os lojistas, num louvável esforço de imaginação, organizam suas sugestões para os compradores, valendo-se de recursos que são a própria imagem da ilusão. Numa grande caixa de plástico transparente (que não serve para nada), repleta de fitas de papel celofane (que para nada servem), coloca-se um sabonete em forma de flor (que nem se possa guardar como flor nem usar como sabonete), e cobra-se pelo adorável conjunto o preço de uma cesta de rosas. Todos ficamos extremamente felizes!

São as cestinhas forradas de seda, as caixas transparentes os estojos, os papéis de embrulho com desenhos inesperados, os barbantes, atilhos, fitas, o que na verdade oferecemos aos parentes e amigos. Pagamos por essa graça delicada da ilusão. E logo tudo se esvai, por entre sorrisos e alegrias. Durável — apenas o Meninozinho nas suas palhas, a olhar para este mundo.


Texto extraído do livro "
Quatro Vozes", Editora Record - Rio de Janeiro, 1998, pág. 80.

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Vem sentar-te comigo Lídia, à beira do rio - Ricardo Reis


Vem sentar-te comigo, Lídia, à beira do rio,
Sossegadamente fitemos o seu curso e aprendamos
Que a vida passa, e não estamos de mãos enlaçadas.
(Enlacemos as mãos.)

Depois pensemos, crianças adultas, que a vida
Passa e não fica, nada deixa e nunca regressa,
Vai para um mar muito longe, para ao pé do Fado,
Mais longe que os deuses.

Desenlacemos as mãos, porque não vale a pena cansarmo-nos.
Quer gozemos, quer não gozemos, passamos como o rio.
Mais vale saber passar silenciosamente
E sem desassossegos grandes.

Sem amores, nem ódios, nem paixões que levantam a voz,
Nem invejas que dão movimento demais aos olhos,
Nem cuidados, porque se os tivesse o rio sempre correria,
E sempre iria ter ao mar.

Amemo-nos tranquilamente, pensando que podíamos,
Se quiséssemos, trocar beijos e abraços e carícias,
Mas que mais vale estarmos sentados ao pé um do outro
Ouvindo correr o rio e vendo-o.

Colhamos flores, pega tu nelas e deixa-as
No colo, e que o seu perfume suavize o momento -
Este momento em que sossegadamente não cremos em nada,
Pagãos inocentes da decadência.
Ao menos, se for sombra antes, lembrar-te-ás de mim depois
Sem que a minha lembrança te arda ou te fira ou te mova,
Porque nunca enlaçamos as mãos, nem nos beijamos
Nem fomos mais do que crianças.
E se antes do que eu levares o óbolo ao barqueiro sombrio,
Eu nada terei que sofrer ao lembrar-me de ti.
Ser-me-ás suave à memória lembrando-te assim - à beira-rio,
Pagã triste e com flores no regaço.
(Obra Poética, volume único, Fernando Pessoa, Aguilar Editora, 1972)

Comentário
Repleto de simbologia, Ricardo Reis, heterônimo de Fernando Pessoa, apela no poema para a metáfora do rio como imagem da vida que passa e convida a amada a enlaçar as mãos nessa caminhada inexorável, sem volta, que nos leva para um lugar mais distante que o dos deuses, uma vez que o fado é uma força superior a todos. A vida é efêmera e sua marcha é inexorável. De mãos enlaçadas ou não, é preciso evitar os grandes desassossegos, todo e qualquer excesso, nem amor, nem ódio nem paixão que levantem a voz, nem invejas ou cuidados exagerados. O importante é a serenidade que está além do amor, a fruição tranquila e contida da vida, sem grandes envolvimentos, a valorização do momento atual, colhendo o perfume de cada instante. O poeta remete à passagem para a outra vida na alusão ao barqueiro Caronte que transportava as almas dos mortos para o lado oposto do rio Aqueronte e reforça o apelo a uma serenidade e a uma conformidade pagãs diante da rápida passagem da vida que flui. Somente assim, na gozo de cada momento, com flores ao regaço, podemos evitar a dor da separação.
Myrson Lima

terça-feira, 11 de outubro de 2011

CANÇÃO EXTRAVIADA - Giselda Medeiros



A mim não importa a solidão.
Sou um rio que se vai
nas sombras – alimento – da paisagem
que escorre de meus dedos.

Minha voz é este verso
que carrego nas entranhas.
Com ele, expulso meus medos
construo sílabas na cartilha do Amor
ou rezo salmos à passagem dos mortos.

Com meu verso
velo o sono dos que se entregam a Eros
no desespero dos espelhos narcísicos
ou na obstinada esperança de Orfeu.
Com ele, coso a túnica dos sonhos
que resta, alva, entre solitários lençóis.

Meu verso é vento que se derrama
nos pórticos dos oráculos
e sabe o martírio dos surdos,
o desespero de Tântalo,
a perplexidade dos andarilhos
que não têm aonde ir.

Por isso, meu verso
é este tempo que não quer ruir
é esta linha que não se espanta
ante o martírio da pauta extraviada
pelo incêndio das horas metálicas
que interceptaram o som da nossa canção.

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Luis Fernando Verissimo na Terapia ...


O melhor da Terapia é ficar observando os meus colegas loucos. Existem dois tipos de loucos. O louco propriamente dito e o que cuida do louco:o analista, o terapeuta, o psicólogo e o psiquiatra. Sim, somente um louco pode se dispor a ouvir a loucura de seis ou sete outros loucos todos os dias, meses, anos. Se não era louco, ficou.


Durante quarenta anos, passei longe deles . Pronto, acabei diante de um louco, contando as minhas loucuras acumuladas. Confesso, como louco confesso, que estou adorando estar louco semanal.


O melhor da terapia é chegar antes, alguns minutos e ficar observando os meus colegas loucos na sala de espera . Onde faço a minha terapia é uma casa grande com oito loucos analistas. Portanto, a sala de espera sempre tem três ou quatro ali, ansiosos, pensando na loucura que vão dizer dali a pouco.


Ninguém olha para ninguém. O silêncio é uma loucura. E eu, como escritor, adoro observar pessoas, imaginar os nomes, a profissão, quantos filhos têm, se são rotarianos ou leoninos, corintianos ou palmeirenses.


Acho que todo escritor gosta desse brinquedo, no mínimo, criativo. E a sala de espera de um "consultório médico", como diz a atendente absolutamente normal (apenas uma pessoa normal lê tanto Paulo Coelho como ela ), é um prato cheio para um louco escritor como eu. Senão, vejamos:


Na última quarta-feira, estávamos:
1. Eu
2. Um crioulinho muito bem vestido,
3. Um senhor de uns cinqüenta anos e
4. Uma velha gorda.


Comecei, é claro, imediatamente a imaginar qual seria o problema de cada um deles. Não foi difícil, porque eu já partia do princípio que todos eram loucos, como eu. Senão, não estariam ali, tão cabisbaixos e ensimesmados.


(2) O pretinho, por exemplo. Claro que a cor, num país racista como o nosso, deve ter contribuído muito para levá-lo até aquela poltrona de vime . Deve gostar de uma branca, e os pais dela não aprovam o namoro e não conseguiu entrar como sócio do "Harmonia do Samba "? Notei que o tênis estava um pouco velho. Problema de ascensão social, com certeza . O olhar dele era triste, cansado. Comecei a ficar com pena dele. Depois notei que ele trazia uma mala . Podia ser o corpo da namorada esquartejada lá dentro. Talvez apenas a cabeça . Devia ser um assassino, ou suicida, no mínimo. Podia ter também uma arma lá dentro. Podia ser perigoso. Afastei-me um pouco dele no sofá. Ele dava olhadas furtivas para dentro da mala assassina.


(3)E o senhor de terno preto, gravata, meias e sapatos também pretos? Como ele estava sofrendo, coitado. Ele disfarçava, mas notei que tinha um pequeno tique no olho esquerdo. Corno, na certa. E manso. Corno manso sempre tem tiques. Já notaram? Observo as mãos. Roía as unhas. Insegurança total, medo de viver. Filho drogado? Bem provável. Como era infeliz esse meu personagem. Uma hora tirou o lenço e eu já estava esperando as lágrimas quando ele assoou o nariz violentamente, interrompendo o Paulo Coelho da outra. Faltava um botão na camisa . Claro, abandonado pela esposa. Devia morar num flat, pagar caro, devia ter dívidas astronômicas. Homossexual? Acho que não. Ninguém beijaria um homem com um bigode daqueles . Tingido.


(4) Mas a melhor, a mais doida, era a louca gorda e baixinha. Que bunda imensa. Como sofria, meu Deus. Bastava olhar no rosto dela. Não devia fazer amor há mais de trinta anos. Será que se masturbaria? Será que era esse o problema dela? Uma velha masturbadora? Não! Tirou um terço da bolsa e começou a rezar. Meu Deus, o caso é mais grave do que eu pensava. Estava na quinta dezena em dez minutos . Tensa. Coitada. O que deve ser dos filhos dela? Acho que os filhos não comem a macarronada dela há dezenas e dezenas de domingos. Tinha cara também de quem mentia para o analista. Minha mãe rezaria uma Salve-Rainha por ela, se a conhecesse.


Acabou o meu tempo. Tenho que ir conversar com o meu psicanalista.


Conto para ele a minha "viagem" na sala de espera.


Ele ri... Ri muito, o meu psicanalista, e diz:


- O Ditinho é o nosso office-boy.


- O de terno preto é representante de um laboratório multinacional de remédios lá no Ipiranga e passa aqui uma vez por mês com as novidades.


- E a gordinha é a Dona Dirce, a minha mãe.


- "E você, não vai ter alta tão cedo....!

domingo, 25 de setembro de 2011

INSTABILIDADE - GISELDA MEDEIROS

Vês?
aquela onda a tecer rendas de espanto
na areia, não sou eu.
eu sou o contorno das espumas
lavrado como escritura
para o abissal exílio dos grãos
de areia.
Minha essência
são esses fragmentos de ausência
retidos na voz dos náufragos,
no desespero das algas e corais
afogados.
entre ti e mim há sombras
que devoram horas
que extraviam calendários;
há voos que perderam a estabilidade
e passos esquecidos nas estradas.
Somos paisagens que se despedaçam
sob os látegos do tempo.
Em nós, apenas os murmúrios
cegos de um amor espetado
pelos dedos espinhentos do destino.
Somos a ânsia dos tardos andarilhos:
tu, as pegadas, lentas,
irremediavelmente tímidas;
e eu, o porto, a chegada final,
que espera, em vão,
o assentamento da âncorados teus andarilhos passos.


(in Poemas de Mesa - Ideal Clube - 2006)

domingo, 21 de agosto de 2011

UM POEMA PARA VOCÊ


A GEOMETRIA DO ADEUS
GISELDA MEDEIROS

Na lâmina dos espelhos
o teu olhar de beduíno
crestou-me os caminhos.
Os olhos vermelharam espigas
e espigas pariram grãos.

Na noite, vigiei-te os passos
que iam e vinham
no doce mistério de secar os grãos
nesse intróito dos rituais
(lira incendiada de sol)
que a noite sonha conquistar.

Na lâmina dos espelhos o meu olhar
(harpa desafinada)
escrevia notas dilaceradas
para alimentar a canção
de tuas carnes andarilhas
- ofertório, loucura, tempestade -
na noite do meu silêncio
posto em dunas alvacentas,
a refletir-se na lâmina dos espelhos
que tornaram cegos
meus olhos e os teus,
cúmplices da geometria
amorfa daquele adeus. 

In: Ânfora de Sol

domingo, 31 de julho de 2011

ANIVERSÁRIO DE GISELDA MEDEIROS - 14 DE JULHO - IDEAL CLUBE


A AJEB preparou um encontro com um grupo de amigos de Giselda Medeiros para comemorar o aniversário dela

Ela e os filhos: Ana Paula, Rosinha e Jorge

A aniversariante e as netas: Joyce e Rafaela

                        Giselda com o filho Jorge, a nora Cibelle e o neto Jorge Filho

 
Rejane Costa Barros, Nirvanda Medeiros, Maria Amélia B. Leal e Tereza Porto

 Ana Paula, Giselda, Regine Limaverde e a Presidente da AJEB, Maria Luísa Bomfim.

Margarida Alencar, Maria Helena Macedo, Giselda, Evan Bessa, Marai Amélia e Ilnah Soares.

       Maria do Carmo Fontenelle, Giselda, Viviane Fernandes, Révia Herculano, João de Deus e Vicente Alencar

          Gselda com o Casal Aldo Melo, as Filhas e a a miga Nirvanda Medeiros

                                                 Giselda e Evan Bessa

                                   Giselda Medeiros e Ricardo Maia Ribeiro

domingo, 12 de junho de 2011



NAMORAR


12 de junho, dia dos namorados. A gente sabe que é mais uma data para movimentar o comércio, alimentar o consumo, mas nem se rebela, por que é tão sublime a causa... namorar é bom demais! É pé no acelerador da vida. Olhar nos olhos e ter vontade de at...ravessar o mundo de mãos dadas, a pé, a pão e água. Dormir ao relento e não adoecer com o sereno. Abrir o mar com o pensamento, andar sobre as águas, pairar nas nuvens com a leveza dos deuses. Namorar é atravessar esquinas perigosas sem medo, é sobreviver ao perigo das epidemias, estar acima do bem e do mal. Essa visão romântica do namoro é a forma mais sutil de dizer que todas as catástrofes têm menor impacto quando estamos amando e sendo amados. Quando incontestavelmente admitimos que o outro não é perfeito e, nem por isso, seu beijo perde o sabor; quando não o enxergamos como um deus todo-poderoso - incorruptível pelas limitações humanas - mas apenas como um ser vulnerável, capaz de errar. Aceitamos suas manias, seus ranços, porque o amor ensina a respeitar sem autoflagelação. Aceitamos suas falhas e notamos que as nossas também são aceitas, conversadas sem dor. Sabe-se que a pessoa nem tem a beleza do Brad ou da Jolie, mas é muito mais poderosa que eles, porque nos arrebata com um simples olhar. Namorar é injetar sangue novo nas veias, ingerir um complexo vitamínico sem problema de superdosagem, recarregar as baterias gastas, reciclar as turbinas maltratadas em tantos pousos forçados. Namorar é partilhar emoções, gostos, cheiros; olhar o horizonte perdido na linha entre o céu e o mar, e crer que se pode chegar lá. Namorar é dividir pra somar, multiplicando-se. É segurar a mão para atravessar a rua ou para ajudar a suportar uma derrota. É olhar nos olhos e ver o mundo num caleidoscópio mágico que gira sem parar e nunca perde as cores, nunca apaga a luz. É abraçar apertado com vontade de não soltar mais, mas soltar sempre, respeitar as distâncias, os silêncios, dar liberdade sem cobranças e ficar seguro. Só vale a pena namorar quem nos considera, nos dá tranquilidade e uma paz infinita; quem não representa, não age como se a vida fosse um jogo e você só uma peça dele. Às vezes nem é preciso o toque físico, namoramos uma fotografia, uma imagem guardada na memória, o flash de um momento mágico em que captamos a alma de alguém que preenche as nossas lembranças, que nos acompanha nos pensamentos. Basta tocar ‘aquela’ música, sentir ‘aquele’ cheiro... basta simplesmente acordar o desejo de estar perto, e tudo em volta cria ‘aquele’ rosto amado que nunca se mistura à multidão. Somos capazes de identificá-lo em qualquer tribo, em qualquer lugar, em qualquer tempo, entre milhares, milhões. E namoramos de olhos fechados, por conta das artimanhas da imaginação que funde real e fantasia. Mas o amor não é fantasia, não a que se usa quando se quer, para representar o teatro da vida. O amor é a pele que veste nossa alma, é o sangue que escorre em nossas veias. Ninguém ama pela metade ou só de vez em quando. Quem ama sabe do poder das tempestades, dos cataclismas, dos avassaladores riscos de sofrer, mas ama, namora o amor e o dono desse amor. Pode até desistir do amado... mas nunca do sentimento que tem por ele. Namora a incerteza e a desilusão, mas lava-as com as lágrimas e namora a esperança, essa velhinha de cabelos brancos e óculos, que nos motiva a sonhar mesmo quando os pesadelos se anunciam. Aíla Sampaio

terça-feira, 24 de maio de 2011

UM SONETO DE FLORBELA ESPANCA


NOITE DE SAUDADE

A noite vem poisando devagar
sobre a terra que inunda de amargura...
E nem sequer a bênção do luar
a quis tornar divinamente pura.

Ninguém vem atrás dela a acompanhar
a sua dor que é cheia de tiortura...
E eu oiço a Noite imensa a soluçar!
E eu oiço soluçar a noite escura!

Por que és assim tão 'scura, assim tão triste?!
É que, talvez, ó Noite, em ti,  existe
uma Saudade igual à que eu contenho!

Saudade que eu nem sei donde me vem...
Talvez de ti, ó Noite!... Ou de ninguém!...
Que eu nunca sei quem sou, nem o que tenho!!

sexta-feira, 15 de abril de 2011

INSTITUTO DO LIVRO E LEITURA - João Soares Neto

Há um grupo de pessoas que luta, de verdade, para a difusão do livro e da leitura nesta terra de poucos leitores. Esse grupo criou, há algum tempo, o Fórum do Livro e da Leitura do Estado do Ceará. Reuniões foram realizadas, idéias trocadas, esboços de projetos feitos, assembléias, e, depois de mais ou menos dois anos, vicejará um Instituto. O Instituto do Livro e da Leitura do Estado do Ceará reunirá as principais entidades culturais e os integrantes dos sindicatos da indústria gráfica e do comércio do livro e pedem as bênçãos de José de Alencar, Farias Brito, Raquel de Queiroz, Martins Filho, Gerardo Melo Mourão, Alcides Pinto, Augusto Pontes e de tantos outros escritores que nos precederam na ida ao Parnaso. Falo especificamente de Pedro Henrique Saraiva Leão, José Augusto Bezerra, Gizela Nunes da Costa, Auto Filho, Mileide Flores, José Augusto Bezerra, Karine David, Luiza Amorim, Francílio Dourado, Sérgio Braga, João Soares Neto, Raymundo Netto, Assis Almeida e outros. O Instituto chega para somar força com a Secretaria da Cultura do Ceará, Secretária de Cultura de Fortaleza e as entidades representativas da literatura, do livro, da indústria editorial e entidades culturais, notadamente: Academia Cearense de Letras, Academia Fortalezense de Letras, Instituto do Ceará, Associação dos Bibliotecários do Ceará, Anuário Literário do Ceará, Associação Brasileira de Bibliófilos, Anuário da Literatura do Estado do Ceará, Câmara Cearense do Livro, Benficarte, Sindicato do Comercio Varejista do Livro do Estado do Ceará e Sindicato da Indústria Editorial do Estado do Ceará. Agora, neste abril de 2011, essas entidades acertaram com a Assembleia Legislativa do Estado do Ceará, por seu presidente, Dep. Roberto Cláudio, realizar, no dia 03 de maio próximo, uma terça-feira, às 15:30h, uma audiência pública na Comissão de Cultura e Esportes daquela Casa,dirigida pelo dep. Ferreira Aragão. Como o próprio nome o diz, será uma audiência em que todas as pessoas e entidades interessadas no livro e na leitura poderão comparecer. Estão, desde já, convidados os dirigentes, professores e alunos das principais universidades: Federal do Ceará, Estadual do Ceará, Unifor e Uva. As faculdades privadas também estão convocadas, assim como todos os colégios públicos e privados, as entidades e grupos literários, órgãos da imprensa, editores das revistas e, logicamente, todos os escritores, independente de fazerem parte ou não de academias. E você, caro leitor, já fica convidado e poderá levar os seus amigos. Repito, tudo será público. Todos serão bem-vindos.

quarta-feira, 30 de março de 2011

SONETO DO AMOR INFINITO - Martinho Rodrigues


Quero cativo viver ao teu lado...
sem amanhã, sem ontem, sem demora,
te amando mais e sendo mais amado
mesmo que um dia... possas ir embora.

Quero viver todo esse amor sem medo,
como vivesse o último momento
de um tempo incerto que nos cerca cedo,
e de si mesmo torna-se alimento.

Tão infinito amor!... pequena chama,
há de findar, por certo. E, de repente,
quando chegar-me o tempo da saudade...

Possa eu dizer, ao gosto de quem ama,
que para o amor que tive, certamente,
um breve instante é mais que eternidade!

terça-feira, 29 de março de 2011

EM TODAS AS COISAS... Martinho Rodrigues


Todo dia que Deus dava
E o sol nascia
Debruçada e pensativa
Ela estava
Na janela que se abria para o porto


A ver navio
Que chegava e partia
desde que o único filho fora morto


No vai-e-vem
Das ondas e dos dias
Seu olhar de saudade
Percebia
Em todas as coisas... a inutilidade

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

VIVER O AMOR - Giselda Medeiros

    
     Sem amor, somos pobres como Jó;
     e somos deus sem sua onipotência;
     e somos sol sem luz, lua sem brilho
     e a pobre mãe que já perdeu seu filho.

     Sem amor... sem amor... ai, nossas bocas
     nada dirão, embora que as metáforas
rocem-lhe a língua e deixem-na ferida.
Ai, como é triste a vida sem Amor!

As esperanças chegam, vão-se embora...
Uma após outra, vão soltando as asas
rumo ao canteiro onde descansa o Amor.

Por isso, amemos muito, enquanto a vida
em nós vibrar tão plena de alegria,
porque o Amor é o templo da Poesia. 

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

O mundo sem mulheres! - Arnaldo Jabor


O cara faz um esforço desgraçado para ficar rico pra quê?
O sujeito quer ficar famoso pra quê?
O indivíduo malha, faz exercícios pra quê?
A verdade é que é a mulher o objetivo do homem.
Tudo que eu quis dizer é que o homem vive em função da mulher.
Vivem e pensam em mulher o dia inteiro, a vida inteira.
Se a mulher não existisse, o mundo não teria ido pra frente.
Homem algum iria fazer alguma coisa na vida para impressionar outro
homem, para conquistar sujeito igual a ele, de bigode e tudo.
Um mundo só de homens seria o grande erro da criação.
Já dizia a velha frase que 'atrás de todo homem bem-sucedido existe uma
grande mulher'.
O dito está envelhecido. Hoje eu diria que 'na frente de todo homem
bem-sucedido existe uma grande mulher'.
É você, mulher, quem impulsiona o mundo.
É você quem tem o poder, e não o homem.
É você quem decide a compra do apartamento, a cor do carro, o filme a
ser visto, o local das férias.
Bendita a hora em que você saiu da cozinha e, bem-sucedida, ficou na
frente de todos os homens.
E, se você que está lendo isto aqui for um homem, tente imaginar a sua
vida sem nenhuma mulher.
Aí na sua casa, onde você trabalha, na rua. Só homens.
Já pensou?
Um casamento sem noiva?
Um mundo sem sogras? (Essa daqui eu gostei...)
Enfim, um mundo sem metas.
ALGUNS MOTIVOS PELOS QUAIS OS HOMENS GOSTAM TANTO DE MULHERES:
1- O cheirinho delas é sempre gostoso, mesmo que seja só xampu.
2- O jeitinho que elas têm de sempre encontrar o lugarzinho certo em
nosso ombro, nosso peito.
3- A facilidade com a qual cabem em nossos braços
4- O jeito que tem de nos beijar e, de repente, fazer o mundo ficar
perfeito.
5- Como são encantadoras quando comem.
6- Elas levam horas para se vestir, mas no final vale a pena.
7- Porque estão sempre quentinhas, mesmo que esteja fazendo trinta graus
abaixo de zero lá fora
8- Como sempre ficam bonitas, mesmo de jeans com camiseta e
rabo-de-cavalo.
9- Aquele jeitinho sutil de pedir um elogio.
10- O modo que tem de sempre encontrar a nossa mão.
11- O brilho nos olhos quando sorriem.
12- O jeito que tem de dizer 'Não vamos brigar mais, não..'
13- A ternura com que nos beijam quando lhes fazemos uma delicadeza.
14- O modo de nos beijarem quando dizemos 'eu te amo'.
15- Pensando bem, só o modo de nos beijarem já basta.
16- O modo que têm de se atirar em nossos braços quando choram.
17- O fato de nos darem um tapa achando que vai doer. (Ha Ha Ha Ha!!! É
verdade; mas às vezes doi sim...)
18- O jeitinho de dizerem 'estou com saudades'.
19- As saudades que sentimos delas.
20- A maneira que suas lágrimas tem de nos fazer querer mudar o mundo
para que mais nada lhes cause dor.

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

ANÁLISE SOCRÁTICA DOS TEMPOS ATUAIS - Frei Betto

Encontrei Daniela, 10 anos, no elevador, às nove da manhã, e perguntei:
"Não foi à aula?" Ela respondeu: "Não, tenho aula à tarde".
Comemorei: "Que bom; então, de manhã, você pode brincar, dormir até mais
tarde"

"Não", retrucou ela, "tenho tanta coisa de manhã..." "Que
tanta coisa?", perguntei. "Aulas de inglês, de balé, de pintura,
piscina", e começou a elencar seu programa de garota robotizada.
Fiquei pensando: "Que pena", a Daniela não disse: "Tenho aula de
meditação!"

Estamos construindo super-homens e super-mulheres, totalmente equipados,
mas emocionalmente infantilizados.

Uma progressista cidade do interior de São Paulo tinha, em 1960, seis
livrarias e uma academia de ginástica; hoje, tem sessenta academias de
ginástica e três livrarias! Não tenho nada contra malhar o corpo, mas me
preocupo com a desproporção em relação à malhação do espírito.
Acho ótimo, vamos todos morrer esbeltos: "Como estava o defunto? "Olha uma
maravilha, não tinha uma celulite!" Mas como fica a questão da
subjetividade? Da espiritualidade? Da ociosidade amorosa?
A palavra hoje é "entretenimento"; domingo, então, é o dia nacional da
imbecilização coletiva. Imbecil o apresentador, imbecil quem vai lá e se
apresenta no palco, imbecil quem perde a tarde diante da tela.
Como a publicidade não consegue vender felicidade, passa a ilusão de que
felicidade é o resultado da soma de prazeres: "Se tomar este refrigerante,
vestir este tênis, usar esta camisa, comprar este carro, você chega lá!" O
problema é que, em geral, não se chega! Quem cede desenvolve de tal maneira
o desejo, que acaba precisando de um analista. Ou de remédios. Quem
resiste, aumenta a neurose.

O grande desafio é começar a ver o quanto é bom ser livre de todo esse
condicionamento globalizante, neoliberal, consumista. Assim, pode-se viver
melhor. Aliás, para uma boa saúde mental três requisitos são indispensáveis:
amizades, autoestima, ausência de estresse.
Há uma lógica religiosa no consumismo pós-moderno. Na Idade Média, as
cidades adquiriam status construindo uma catedral; hoje, no Brasil,
constrói-se um shopping Center. É curioso: a maioria dos shoppings centers
tem linhas arquitetônicas de catedrais estilizadas; neles não se pode ir de
qualquer maneira, é preciso vestir roupa de missa de domingo. E ali dentro
sente-se uma sensação paradisíaca: não há mendigos, crianças de rua, sujeira
pelas calçadas...

Entra-se naqueles claustros ao som do gregoriano pós-moderno, aquela
musiquinha de esperar dentista. Observam-se os vários nichos, todas aquelas
capelas com os veneráveis objetos de consumo, acolitados por belas
sacerdotisas.

Quem pode comprar à vista, sente-se no reino dos céus. Se deve passar
cheque pré-datado, pagar a crédito, entrar no cheque especial, sente-se no
purgatório. Mas se não pode comprar, certamente vai se sentir no inferno...
Felizmente, terminam todos na eucaristia pós-moderna, irmanados na mesma
mesa, com o mesmo suco e o mesmo hambúrguer do Mc Donald...
Costumo advertir os balconistas que me cercam à porta das lojas: "Estou
apenas fazendo um passeio socrático." Diante de seus olhares espantados,
explico: "Sócrates, filósofo grego, também gostava de descansar a cabeça
percorrendo o centro comercial de Atenas. Quando vendedores como vocês o
assediavam, ele respondia:"

- "Estou apenas observando quanta coisa existe de que não preciso para ser
feliz !"

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

MUTAÇÃO - Giselda Medeiros

(para Ana, leitora assídua de meus versos)

Pé, antepé, chegaste em minha vida.
Trouxeste flores, trouxeste sol, trouxeste amor.
Interessante! Tantas coisas se perderam,
tantas outras misturaram-se neste amálgama da vida!
E, à proporção que as flores perdiam seu perfume e cor,
o sol se desfazia no ocaso das lembranças.
E o amor... Ah, o amor! - este raspou da terra
suas últimas raízes
e foi plantar-se onde havia sol.

(do meu primeiro livro ALMA LIBERTA)