ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO – CAMINHOS
CONJUGADOS
Ana Paula de Medeiros Ribeiro[1]
No
sentido literal da palavra, a alfabetização envolve as competências de ler e
escrever. Ao longo de muito tempo, este conceito atendeu ao que era tarefa
precípua da escola. Até que, em meados da década de 1980, um novo termo surgiu
nas discussões teóricas sobre alfabetizar – o letramento.
Uma das primeiras menções feitas a esta
palavra ocorreu na obra No mundo da
escrita: uma perspectiva psicolinguística (1986), de Mary A. Kato, segundo
constatou Magda Soares (2003). O termo se originou de uma versão feita da
palavra da língua inglesa literacy,
com a representação etimológica de estado, condição ou qualidade de ser literate, o qual define quem é
habilitado, especialmente, para ler e escrever. Todavia, no âmbito educacional
brasileiro, o conceito de letramento transcende a reduzida acepção da palavra
oriunda do inglês e se acopla ao termo alfabetização para ampliar o
entendimento e a complexidade do processo de aquisição da leitura e da
escrita.
Desse modo, um indivíduo que
percorreu na escola os caminhos conjugados da alfabetização e do letramento
pode ser considerado como aquele que se apropriou da leitura e da escrita, e
que responde, de maneira satisfatória, às demandas das práticas sociais.
Entende-se que esse percurso
conjugado é iniciado na escola e está nas preciosas mãos dos professores,
licenciados em Pedagogia, a desafiante tarefa de trilhá-lo junto às crianças. Pensar
o processo de alfabetização considerando e respeitando a criança como sujeito
que elabora hipóteses e as representa na forma de escrever e que necessita de
situações que a coloque em conflitos para que elabore saídas e, por
conseguinte, avance no desenvolvimento de sua aprendizagem, é algo desafiador e
corajoso, pois envolve quebra de tradicionais paradigmas.
Para existirem professores
assim é fundamental que a sua formação promova momentos em que possam refletir
sobre a teoria e a prática, pondo em uso sua criatividade e vontade de fazer a
diferença quando estiverem atuando em sala de aula.
Objetivando promover esse
espaço formativo no curso de graduação em Pedagogia, da Faculdade de Educação,
da Universidade Federal do Ceará, eu e Adriana Limaverde planejamos uma
disciplina optativa que viesse a complementar alguns dos aspectos abordados na
disciplina obrigatória de Ensino de Língua Portuguesa, ministrada por nós duas.
A proposta foi apreciada pelo Departamento de Teoria e Prática do Ensino, pelo
Colegiado dos cursos de Pedagogia, pelo Conselho da Faculdade e, por fim, pela
Câmara de Graduação da UFC, recebendo, em todas as instâncias, aprovação com efusivas
considerações sobre sua importância para a formação dos estudantes. Desse modo,
a disciplina aconteceu, em sua primeira oferta, no semestre 2016.2, na qual se
matricularam 40 alunos e foi ministrada pela professora Adriana Limaverde.
Esta obra, então, que muito me
honra prefaciá-la, é a culminância do percurso formativo dos estudantes nesta
disciplina, na qual foram desafiados a pensar e a desenvolver práticas aliadas
às teorias mais contemporâneas da aprendizagem e da aquisição da leitura e da
escrita.
Desse modo, o livro O trabalho pedagógico com gêneros orais e
escritos no ciclo de alfabetização: Teoria e prática é muito mais do que
uma mera compilação de trabalhos elaborados pelos alunos da disciplina em
questão. Trata-se de um volume cujo conteúdo apresenta planos de atividades
criativas e divertidas que vão auxiliar o professor do ciclo de alfabetização
(1º ao 3º anos do Ensino Fundamental) a propor momentos significativos de
aprendizagem, nos quais as crianças poderão mobilizar diversos conhecimentos e
percorrer o caminho conjugado da alfabetização e do letramento. Isso porque as
atividades foram elaboradas envolvendo o trabalho com os gêneros textuais
específicos para essa etapa do ensino (trava-línguas, parlendas, canções,
lendas, histórias em quadrinhos e panfletos), os quais estão de conformidade
com os documentos oficiais contemporâneos que tratam de aspectos curriculares e
metodológicos para o ciclo de alfabetização.
É notório que o caminho mais
indicado para alfabetizar é partindo do texto, e, quando estes são os de uso
real e corriqueiro e que fazem parte do cotidiano das crianças, a aprendizagem
se dá de forma muito mais significativa. A oferta de uma diversidade textual
garante que a criança amplie seus conhecimentos sobre os aspectos estruturais e
macroestruturais do texto, sobre as várias formas de linguagem e que adentre o
fascinante jogo linguístico que irá possibilitar maiores chances de êxito em
sua vida escolar e social. Assim, trabalham-se a alfabetização e o letramento
de forma conjugada.
Por, também, fazer parte desta
caminhada, sinto-me muito contente em ver o empolgante resultado dos estudantes
de Pedagogia e sua altruísta iniciativa de oferecer aos professores esta obra,
na qual partilham seus conhecimentos e criatividade.
É mais um valioso presente à
comunidade acadêmica e aos leitores amantes da Pedagogia! Aproveitem!
[1]
Professora Adjunta do Departamento de Teoria e Prática do Ensino e Coordenadora
de Projetos e Acompanhamento Curricular da UFC.
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