domingo, 9 de abril de 2017

ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO – CAMINHOS CONJUGADOS: PREFÁCIO E APRESENTAÇÃO DE ANA PAULA DE MEDEIROS RIBEIRO


ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO – CAMINHOS CONJUGADOS

Ana Paula de Medeiros Ribeiro[1]

                  No sentido literal da palavra, a alfabetização envolve as competências de ler e escrever. Ao longo de muito tempo, este conceito atendeu ao que era tarefa precípua da escola. Até que, em meados da década de 1980, um novo termo surgiu nas discussões teóricas sobre alfabetizar – o letramento.
                  Uma das primeiras menções feitas a esta palavra ocorreu na obra No mundo da escrita: uma perspectiva psicolinguística (1986), de Mary A. Kato, segundo constatou Magda Soares (2003). O termo se originou de uma versão feita da palavra da língua inglesa literacy, com a representação etimológica de estado, condição ou qualidade de ser literate, o qual define quem é habilitado, especialmente, para ler e escrever. Todavia, no âmbito educacional brasileiro, o conceito de letramento transcende a reduzida acepção da palavra oriunda do inglês e se acopla ao termo alfabetização para ampliar o entendimento e a complexidade do processo de aquisição da leitura e da escrita. 
                  Desse modo, um indivíduo que percorreu na escola os caminhos conjugados da alfabetização e do letramento pode ser considerado como aquele que se apropriou da leitura e da escrita, e que responde, de maneira satisfatória, às demandas das práticas sociais.
                  Entende-se que esse percurso conjugado é iniciado na escola e está nas preciosas mãos dos professores, licenciados em Pedagogia, a desafiante tarefa de trilhá-lo junto às crianças. Pensar o processo de alfabetização considerando e respeitando a criança como sujeito que elabora hipóteses e as representa na forma de escrever e que necessita de situações que a coloque em conflitos para que elabore saídas e, por conseguinte, avance no desenvolvimento de sua aprendizagem, é algo desafiador e corajoso, pois envolve quebra de tradicionais paradigmas.   
                  Para existirem professores assim é fundamental que a sua formação promova momentos em que possam refletir sobre a teoria e a prática, pondo em uso sua criatividade e vontade de fazer a diferença quando estiverem atuando em sala de aula.
                  Objetivando promover esse espaço formativo no curso de graduação em Pedagogia, da Faculdade de Educação, da Universidade Federal do Ceará, eu e Adriana Limaverde planejamos uma disciplina optativa que viesse a complementar alguns dos aspectos abordados na disciplina obrigatória de Ensino de Língua Portuguesa, ministrada por nós duas. A proposta foi apreciada pelo Departamento de Teoria e Prática do Ensino, pelo Colegiado dos cursos de Pedagogia, pelo Conselho da Faculdade e, por fim, pela Câmara de Graduação da UFC, recebendo, em todas as instâncias, aprovação com efusivas considerações sobre sua importância para a formação dos estudantes. Desse modo, a disciplina aconteceu, em sua primeira oferta, no semestre 2016.2, na qual se matricularam 40 alunos e foi ministrada pela professora Adriana Limaverde.
                  Esta obra, então, que muito me honra prefaciá-la, é a culminância do percurso formativo dos estudantes nesta disciplina, na qual foram desafiados a pensar e a desenvolver práticas aliadas às teorias mais contemporâneas da aprendizagem e da aquisição da leitura e da escrita.
                  Desse modo, o livro O trabalho pedagógico com gêneros orais e escritos no ciclo de alfabetização: Teoria e prática é muito mais do que uma mera compilação de trabalhos elaborados pelos alunos da disciplina em questão. Trata-se de um volume cujo conteúdo apresenta planos de atividades criativas e divertidas que vão auxiliar o professor do ciclo de alfabetização (1º ao 3º anos do Ensino Fundamental) a propor momentos significativos de aprendizagem, nos quais as crianças poderão mobilizar diversos conhecimentos e percorrer o caminho conjugado da alfabetização e do letramento. Isso porque as atividades foram elaboradas envolvendo o trabalho com os gêneros textuais específicos para essa etapa do ensino (trava-línguas, parlendas, canções, lendas, histórias em quadrinhos e panfletos), os quais estão de conformidade com os documentos oficiais contemporâneos que tratam de aspectos curriculares e metodológicos para o ciclo de alfabetização.
                  É notório que o caminho mais indicado para alfabetizar é partindo do texto, e, quando estes são os de uso real e corriqueiro e que fazem parte do cotidiano das crianças, a aprendizagem se dá de forma muito mais significativa. A oferta de uma diversidade textual garante que a criança amplie seus conhecimentos sobre os aspectos estruturais e macroestruturais do texto, sobre as várias formas de linguagem e que adentre o fascinante jogo linguístico que irá possibilitar maiores chances de êxito em sua vida escolar e social. Assim, trabalham-se a alfabetização e o letramento de forma conjugada.
                  Por, também, fazer parte desta caminhada, sinto-me muito contente em ver o empolgante resultado dos estudantes de Pedagogia e sua altruísta iniciativa de oferecer aos professores esta obra, na qual partilham seus conhecimentos e criatividade.
                  É mais um valioso presente à comunidade acadêmica e aos leitores amantes da Pedagogia! Aproveitem! 





[1] Professora Adjunta do Departamento de Teoria e Prática do Ensino e Coordenadora de Projetos e Acompanhamento Curricular da UFC.

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