A PÁLIDA CANÇÃO DAS HORAS
Sob o olhar sombroso dos alpendres,
refaço-me em letras e apascento
o azul silencioso dos espinhos
que o medo me enxertou com seus ancinhos.
Na parede da sala, insone espelho
aprisiona o meu olhar vermelho
e tinge de ocre o meu lábio calado
há muito pelo tempo embalsamado.
O pálido relógio marca a sombra
das horas líquidas que ontem deixaram
seus rastros de procela nas alfombras.
A cortina dos medos se descerra...
E vejo dedos, céleres, que aram
novo jardim de amores sobre a terra.
(do livro ÂNFORA DE SOL)
Nenhum comentário:
Postar um comentário