INSTABILIDADE
Vês?
Aquela onda a tecer rendas
de espanto,
na areia,
não sou eu.
Eu sou o contorno das
espumas
lavrado como escritura
para o abissal exílio dos
grãos
de areia.
Minha essência
são esses fragmentos de
ausência
retidos na voz dos
náufragos,
no desespero das algas e
corais
afogados.
Entre ti e mim há sombras
que devoram horas,
que extraviam calendários;
há voos que perderam a
estabilidade
e passos esquecidos nas
estradas.
Somos paisagens que se
despedaçam
sob os látegos do tempo.
Em nós, apenas os murmúrios
cegos
de um amor espetado
pelos dedos espinhentos do
destino.
Somos a ânsia dos tardos
andarilhos:
tu, as pegadas, lentas,
irremediavelmente tímidas;
e eu, o porto, a chegada
final,
que espera em vão
o assentamento da âncora
dos teus andarilhos passos.
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