domingo, 30 de dezembro de 2018

MAIS UM POEMA DE ADELINA GARRIDO CHARNECA





BREVE CONTO DE AMOR SEM PRINCIPIO NEM FIM!


... que importa se não me queres,
nem me importa que me mintas;
que fazer a este coração que te ama,
não posso mais contrariá-lo,
nem esquecer tudo o que a cada dia está mais vivo em mim,
que me importa, se não mais te terei,
que posso eu fazer se os meus olhos te vêm até quando durmo.
Já está chegando o Natal outra vez, mais um ano termina,
e esta batalha de esquecer-te já é uma batalha perdida,
então...
fica para sempre no meu peito,
viverei com este sentimento em silêncio,
levo-o para onde for,
e que me mate a morte mais sublime,
a morte de morrer pensando em ti,
são tantas vidas vividas,
tantas vidas, e em nenhuma foste meu,
já não és o meu desespero,
és a minha tranquilidade
já não és o meu desejo,
és a minha feliz coincidência
já não és tu e eu,
é a minha alma e a tua,
sim...
ninguém (nem tu) pode impedir-me de querer-te até ao fundo da minha alma,
nem a vida, que parece não me querer,
nem o mundo cheio de preconceito,
ninguém... ninguém... és meu todas as noites no silêncio da noite escura,
és meu,
quando caminho, ou onde quer que eu vá,
aqui no meu peito,
a tua mão sempre me guiará,
até ao final,
e que o final seja próximo.
Isto não é uma declaração de amor,
já não necessito declará-lo,
já o sabe Deus,
já o sabe a Virgem,
até o universo... e também o sabes tu,
é uma confirmação do meu amor,
e do meu sorriso,
se te vejo sorrir,
é a felicidade de saber-te assim... feliz,
e a suprema satisfação de ter conhecido o amor,
contigo!

Adelina Garrido Charneca
(poeta portuguesa)

quinta-feira, 20 de dezembro de 2018

NATAL NORDESTINO - INUSITADO TEXTO ASSINADO POR BATISTA DE LIMA





A criança divina ainda não nasceu e já estamos comemorando treze dias antes, é o milagre do Natal. Quero, no entanto, me antecipar e montar uma árvore de natal. Será uma goiabeira carregada de goiabas maduras e verdes. Tem que ser goiabeira porque possui galhos e troncos muito fortes para sustentar tudo o que nela for colocado. As goiabas parecem com aquelas bolinhas caras vendidas nos supermercados. Os três reis magos serão três moradores de rua muito magros. Os três pastores serão três cegos que trarão lições de como ver luzes de olhos nulos.

“O presépio”, do xilógrafo pernambucano José Miguel da Silva.
O casal será Fabiano e Sinhá Vitória que há oitenta anos, exatamente, foram criados por Graciliano. O filho não será o mais velho nem o mais novo, e sim uma criança da Síria, ou da Etiópia, mas que se chama Jesus, que a mãe seja Maria Vitória e o pai José Fabiano. A oliveira pode ser uma mangueira e a tamareira, um cajueiro, com muitos cajus de castanhas grandes, todas perguntando-nos por que, como sementes, não estão dentro do caju. Quanto ao Pinheiro que não é de nosso chão vou colocar um angico que de tão duro tem a nossa consistência.

Que Jesus me perdoe essa comemoração de seu nascimento com coisas daqui da terra. Se ele por aqui vier, quando estiver maior, vai ver que não crucificamos ninguém, mas há perigo de bala perdida, de fome, peste e guerra, que nem São Sebastião tem conseguido resolver. Quanto a São José, que venha ensinar carpintaria nas escolas do Estado, já que é notório saber e cabe perfeitamente na BNCC. Nossa Senhora pode ser dona de casa, ou ensinar às jovens mães como criar bem suas crianças. Depois explicar às senhoras nossas que não precisa haver massacre de perus nessa data gloriosa, lá em Belém era mais peixe e carneiro. Outra coisa, por que as cores precisam ser vermelha e branca se nosso mar é azul e nossas matas são verdes?

Meu querido, e divino Cristo, como presente de natal nós lhe prometemos devoção, e perdoar quem nos molesta em todos os dias do ano. Mas gostaríamos que o Senhor não deixasse as criancinhas morrerem por descaso dos adultos, nem deixasse os idosos sofrerem depois de tantos anos de trabalho duro. Ah sim, Jesus, desculpe essas palavras sem jeito de me dirigir ao Senhor, e de comemorar o Natal no meio dos meus amigos. Eles esperavam ouvir nesta ocasião tocar uns sinos de Belém, falar em manjedoura, Papai Noel e aqueles mesmos animais desconhecidos arrastando um trenó no gelo. Aqui só tem poeira e mato. Até os jumentos estão em extinção, nem carroça é mais permitido ser arrastada por burro. As crianças no Natal só querem ganhar celulares, cada vez mais megahabituadas. Não meu Jesus querido, minha prece natalina é feita de esperança ao Senhor e a sua Família Sagrada.

Lembra-te ainda, Jesus sagrado, de quando fui interno no Seminário Apostólico da Sagrada Família. Eram padres alemães. Ali eu via, no carpinteiro, São José consertando carteiras, portas e janelas, via em Dona Hilda Niehoff a figura de Nossa Senhora, cuidando da cozinha do claustro, da roupa limpa dos seminaristas e Jesus personificado no padre Rodolfo Stall, cuidando da nossa espiritualidade e fazendo seus primeiros milagres na tradução do “De Bello Gallico”, das Catilinárias e do Tito Lívio.

Na árvore de natal, Jesus, vou colocar alguns livros de poemas, e outros teréns para os quais as gentes pouco ligam.

Ilustrações de Aldemir Martins para Vidas Secas.
Ainda voltando à manjedoura, não será feita de um coxo mas de gamela do engenho do Taquari, que é para o menino Jesus ficar mais confortável, forrado com folhas de bananeira, que são bem friinhas. Vou colocar um passarinho carrancudo do Horácio Dídimo para cantar canções de ninar, trepado num cajueiro pequenino carregadinho de flor, plantado pelo Juvenal Galeno. Patativa vai me mandar do local onde estiver a vaca Estrela e o boi Fubá.

Já pedi a Barros Pinho sua ajuda ovina, mas ele me preveniu cuidado, dizendo: “meu carneiro Jasmim nunca se queixou de mim”. Quando chegar o bode Yoyô trazido pelo Mário Gomes, ou pelo Chagas dos Carneiros, vou aceitar a ajuda, guardando o devido cuidado. Uma vaquinha também está presente mandada por Jorge de Lima. É uma vaca de garupa palustre e bela e dois cachorros lá de nós, Rompe Nuvem e Rompe Ferro, e os animais de carga e sela, bem feito, Memória e Gasolina e a burrinha de Tedeza e o cavalo de Parredino ali estarão sentados secundados pela cachorra Baleia, presente de Graciliano, um burrinho pedrês, uma égua Balalaica, e o burro Canário estarão ali de vigia, mandados pelo Rosa das Gerais. Não esquecerei Navegante e Rapé, Chuvisco e Surubim.

Para finalizar, digo que eu creio nos seus ensinamentos, creio em Deus pai, todo poderoso, criador do céu e da terra, e em Jesus Cristo seu único filho, Nosso Senhor, que foi concebido, pelo poder do Espírito Santo,
nasceu da Virgem Maria
padeceu sob Pôncio Pilatos,
foi crucificado,
morto e sepultado, desceu à mansão dos mortos,
ressuscitou no terceiro dia, subiu aos céus e está
sentado à direita de Deus pai todo poderoso
donde há de vir julgar os vivos e os mortos. Creio
no Espírito Santo, na santa Igreja Católica, na
comunhão dos Santos, na remissão dos pecados,
na ressurreição da carne, e na vida eterna
Amém.



quarta-feira, 12 de dezembro de 2018

Quintilhas decassilábicas acrostiquenas (ABBAB) – Vianney Mesquita





QUINTETOS PARA ANA PAULA

Vianney Mesquita*


Duas espécies de escritores possuem gênio: os que pensam e os que fazem os outros pensar. (JOSEPH ROUX, hidrógrafo e pintor.  Marselha, 1725-1793). 


Ana Paula de Medeiros Ribeiro,
Nossa autora de crase genial,
Altiva mestra, referencial,
Pedagoga alçada ao mundo inteiro:
A professora inferencial.

Uma poetisa em plaino sendeiro,
Literata excedente, especial,
Alma inspirada, exponencial,
De estrofe branca, límpido luzeiro,
E verso rimado excepcional!

Modelar do metro brasileiro,
Em inspiração celestial;
Da prosa e poesia é o fanal,
Estro alumiado, não lindeiro,
Inspiração multifatorial.
                                                                      
Realeza do gênio verdadeiro,
Ode ao entendimento supernal,
Sucedes de Giselda - matricial

Ribeiro, de onde escorre o herdeiro
Insuperável sulco sensorial.
Beletrista, fiel desfiladeiro
Extremoso, de peça memorial,
Iminência da estese, a credencial,
Repositório das letras, celeiro
O quartzo fulgente do cristal.

sábado, 8 de dezembro de 2018

UM POEMA DE GISELDA MEDEIROS




SÓ EU E A NOITE

Giselda Medeiros


                        Um grilo enche a noite de notas...
                        Pressinto-lhe desespero na cantiga.
                        Na vidraça da janela,
a chuva desenha teu rosto
                        e me impõe a cantar meus salmos.
                        Em uníssono, cantam comigo as horas
                        em sua canção de desfolhar o tempo.
                       
Escuto Bach, longe, longe,
trazido pelo vento que, invejoso,
apaga da vidraça a tua imagem.

O grilo cala a melodia aflita,
enquanto o meu desejo espalha sons
estridentes, estilhaçando-se na noite
que parece nada ouvir
e dorme, enquanto a última estrela
persigna-se ante o Cruzeiro do Sul.