sábado, 8 de dezembro de 2018

UM POEMA DE GISELDA MEDEIROS




SÓ EU E A NOITE

Giselda Medeiros


                        Um grilo enche a noite de notas...
                        Pressinto-lhe desespero na cantiga.
                        Na vidraça da janela,
a chuva desenha teu rosto
                        e me impõe a cantar meus salmos.
                        Em uníssono, cantam comigo as horas
                        em sua canção de desfolhar o tempo.
                       
Escuto Bach, longe, longe,
trazido pelo vento que, invejoso,
apaga da vidraça a tua imagem.

O grilo cala a melodia aflita,
enquanto o meu desejo espalha sons
estridentes, estilhaçando-se na noite
que parece nada ouvir
e dorme, enquanto a última estrela
persigna-se ante o Cruzeiro do Sul.

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