segunda-feira, 25 de junho de 2018

MAIS DOIS SONETOS DE VIANNEY MESQUITA






Sesta Serrana
                                                                        Vianney Mesquita


                                    Breve será uma esperança, mas quão suave é a lembrança!
                                               (Ramon de Campoamor).


No tépido vagar da paz serrana,
Ao ler o Nedda  (de Giovanni Verga),
Largando a rede, me dirijo à enxerga,
Para sonhar com a culta Taprobana.

Cuido pra que a meditação não erga
Esta mandrionice de Nirvana,
E os periquitos, em ruidosa ferga,
Cheguem a apagar-me a Costa Amalfitana.

Penso, nesta serril proeminência,
Na Itália, Portugal e Sry Lanka,
Em palmácea e ferial intermitência.

Enquanto o entusiasmo não estanca,
De agora reler tomei tenência
Obras Completas, de Florbela Espanca.


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TERÇOL-ARGUEIRO ABJETO

                                                                                   Vianney Mesquita *


Os olhos são cegos, quando o espírito está distante. (Publílio Siro).


                        Denega-me a visão um tosco hordéolo,
                        No interdito de íris e retina,
                        Calázio do sopro de um mau Éolo,
                        Vedando-me dos olhos a menina.

                        Sem poder divisar do esquerdo alvéolo,
                        Tampouco do direito, o bem que mina,
                        Minha pupila do oblíquo nucléolo
                        Disfarça-me verdade cristalina.

                        Cisco importuno, paixão desmedida,
                        A desviar-me das regras de vida,
                        Guiando-me em modos de gentalha.

                        Nunca, entanto, terás, neste tentame,
                        De bater-te haverei, argueiro infame,
                        Porquanto em mim jamais verás canalha!


sexta-feira, 15 de junho de 2018

POEMA DE VICENTE ALENCAR




LIBERDADE
Vicente Alencar

A liberdade de criar
pertence ao coração;

Ele chama, conversa,
dita o que quer
e o que deseja.

Todo o teu corpo
atende ao chamado.

Ali, naquele momento,
és apenas um ser
que ama.

Nada impedirá
teus pensamentos,
tua paixão,
o teu conforto
de querer.

A liberdade de criar
faz teu coração dizer
tudo o que quer.

E tu te encantas
e até te espantas
com tanto amor.

sábado, 9 de junho de 2018

PADRE MORORÓ - UM HERÓI CEARENSE - SONETO DE JOÃO GOMES DA SILVEIRA



UM HERÓI CEARENSE
  João Gomes da Silveira


A pé, vencendo o tosco calçamento,
um sacerdote veste-se em batina.
Vai indo para o seu fuzilamento,
que Portugal ditou-lhe a dura sina.


Padre Mororó*, de fronte erguida,
caminha à frente da cavalaria,
sabendo já que vai doar a vida
por causas libertárias que nutria.


Do baobá ao tronco, junto ao Forte,
bem no centro da Fortaleza antiga,
o heroico padre vai colher a morte.


Revel, do Frei Caneca companheiro,
o cearense a mão no peito instiga
e as balas o estraçalham por inteiro.

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(*) Gonçalo Inácio de Loiola Albuquerque Melo, o “Padre Mororó”, era simpático à Confederação do Equador. A mando da Coroa de Portugal, foi morto a tiros de arcabuz, aos 30 de abril de 1825, no centro da Capital cearense, atual Praça dos Mártires, ou “Passeio Público”.