MOTIVOS
I
A
ti, ó Poesia,
seios
do eterno a jorrar leite e mel,
ergo minha taça
vazia...
Quero
vê-la transbordante
de
canções
de
leite e mel.
II
Oferta-me,
senhor,
o
salitre do teu corpo
e
o húmus de tua alma
para
que floresçam em minha carne
as
acácias do amor.
III
Oh, claras manhãs de primavera,
deixai
que vos contemple o rosto!
Deixai-me
ir
em
vossa caravana de macia luz,
ao
sopro viageiro das brisas da esperança!
IV
Assim
como um grito,
teus
dedos alongaram-se
sobre
as minhas dunas.
E
houve festa
no
silêncio das areias.
Sei
que guardas
em baú de estrelas
os
sonhos que me roubaste.
Melhor.
Um dia,
hei de tê-los
banhados
de luares.
VI
Assim
quero o meu poema:
vôo de
pássaro
nas
manhãs intermináveis;
ou,
simplesmente,
rastros
que ficaram
dos pés
que, em nome do amor,
empreenderam
a grande
viagem.
VII
Abre-me
teu céu,
ó meu
amado,
para
que, com estas mãos de espera,
possa eu
levar-te a revoada
dos
pássaros
que em
mim habitam.
E eles
encherão teu céu
com o
segredo
das
tardes lavadas de Poesia.
VIII
E esta
solidão de lajes
a velar
o sono
do sonho
adormecido
em mim,
terra e
mar,
metáfora
alucinada,
mastigando
o silêncio das estrelas!...
IX
As
barcas do Amor
estão
ancoradas em teu porto.
Urge
soltá-las
antes
que o tempo lhes mastigue
os
últimos remos e mastros.
X
Não
é preciso decifrar o azul
das
águas...
Meu
horizonte está no azul
de
uns olhos de criança,
águas
de infância
na
correnteza de meu outono.
XI
Com
mãos de rosa
escrevo-te,
ó meu amado,
este
poema
cheio
dos risos
da
alvorada que há em mim.
XII
Sou
um rio
seco
à
espera permanente
das
águas
de
teus afluentes.
XIII
Não
chores
se
me vires a buscar estrelas...
É que estou indo
à
procura de teus olhos.
XIV
Não
te pedirei mais nada.
Se
já me amas
e
cantas comigo
a
doce canção da Poesia
já
me basta.
É
tempo de semear.
XV
Se
queres saber de mim
lê
meus versos
e
verás
refletida
nas metáforas
a
imagem do que sou.
Por
favor
não
me interpretes
simplesmente
à
luz dos símbolos e metáforas.
Vai
mais fundo.
E
não me tenhas compaixão
se
tenho o sonho
como
pão.
Sou
aprendiz da vida
e
na minha travessia
busco
estrelas
como
guia.
Mas
tem cuidado!
observa
o que diz minha biografia:
frágil,
sensível
e,
sobretudo, Poeta.
(in: Tempo das Esperas)