Ser Fortalezense
Não é só sobre ter uma certidão de nascimento em cartório.
É sobre acolher forasteiros e fazê-los sentir como se em casa estivessem.
É absorver a cultura interiorana de pais e avós, e construir a sua própria.
É sobre a habilidade de profissionalizar o humor, desafiando adversidades.
É definir o seu próprio sotaque a partir da mistura de vários.
É desejar 365 dias ensolarados por ano, mesmo reconhecendo a necessidade de uma boa chuva.
É sobre saber transformar o martírio de revolucionários em Passeio da esperança para as novas gerações.
É preferir morar junto ao mar, contrariando a ideologia rural do “quanto mais longe do litoral, melhor”.
É sobre evocar o feminismo das heroínas emblemáticas de Rachel de Queiroz.
É agir de forma possessiva, quase infantil, apontando os defeitos sem permitir que estranhos o imitem.
É sobre ter a honra de compartilhar com José de Alencar o berço natal, a primeira luz.
É apoderar-se de valiosos equipamentos culturais, de teatros a praças, como se privados fossem.
É sobre alimentar o espírito com a irreverência dos jovens padeiros literários.
É rejeitar o descaso com a tragédia da seca, por atrair a fome, o fanatismo religioso e a reinvenção do cangaço.
É sobre indignar-se com demonstrações de baixa afetividade de migrantes e imigrantes.
É sobre sonhar com igualdade social, do Bom Jardim ao Meireles, porque ninguém sobrevive sem uma utopia.
É tecer loas a outras cidades e manter a sua no topo das maravilhosas.
É sobre celebrar 291 anos com orgulho, confiança e luta.
É respeitar os símbolos da ancestralidade negra e índia.
É reescrever a História com caligrafia holandesa, portuguesa, universal, ou ainda brasileira e mesmo cearense de outras plagas.
É ser, sobretudo, um forte, força, fortificação, Fortaleza de Nossa Senhora de Assunção.
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