CARLOS
D’ALGE
AUTOR CEARENSE TRASMONTANO
VIANNEY MESQUITA*
Um dos males da literatura consiste em terem os nossos sábios pouco espírito e serem pouco sábios os nossos homens de espírito. (JOSEPH JOUBERT, ensaísta e moralista francês. ( *Montignac, 07.05.1754 - Villeneuve-sur-Yonne, 04-05.1824).
Há algum tempo, o escritor Carlos Neves d’Alge está fora do
circuito intelectual da nossa Terra, no recesso de sua residência, cuidando da
saúde, ultimamente, meio combalida, do que, decerto, se vai liberar, para
gáudio de seus pares, admiradores e amigos e vitória da atividade intelectual
do Estado e do País.
Nascido em Chaves – Trás-os-Montes – Portugal (24.07.1930),
veio jovem para o Brasil, tendo estado no Pará, porém há dezenas de anos tem
vida social e literária aqui em Fortaleza, como docente-titular de Literatura
Portuguesa da UFC, acadêmico das Academias Cearense da Língua Portuguesa e
Cearense de Letras, creditando-se, no rol de várias funções assumidas, as de
chefe do Gabinete do Reitor Martins Filho, nos começos da UFC, e
Diretor-Presidente da TV Educativa do Ceará – Canal 5.
Tem ativo literário bastante recheado de produções,
contabilizando-se, dentre muitas outras, Terra
do Mar Grande (1970), As Relações
Brasileiras de Almeida Garret (1980), Sintaxe
do Compromisso (1981), O Exílio
Imaginário (1983) e O Sal da Escrita
– Ensaios de Literatura Comparada (1977).
D’Alge transita por vários gêneros, do ensaio à poética,
demonstrando ser o intelectual sóbrio e preciso, ao empreender estudos em
profundidade acerca das literaturas de língua portuguesa, por ele cultuadas e
avigoradas, com textos cuidadosos, nos quais se verifica, com facilidade, o
filão da pesquisa bem buscada.
Distinto, em virtude da profusão de seus trabalhos escritos
e orais, tem ressalto na sua obra o mencionado O Exílio Imaginário, com trinta estudos, divididos em quatro
partes, compostos de fundamentais pontos para o então cultural instante
brasileiro. Envolve as relações do Brasil e outros países, com destaque para o
africano de expressão lusitana, escritores portugueses clássicos e modernos e
sua influência no nosso País. Reporta-se, ainda, a produtores brasileiros de
ocorrência marcante na nossa história e até no estrangeiro – como no caso de
escrito traduzido para a língua tcheca. Por fim, são expressos pelo Autor do
mais à frente referido O Sal da Escrita,
os exames de nomes diretamente vinculados à cultura do Ceará, conduzindo-nos ao
debate próximo com escritores que carrearam subsídios de relevo para projeção,
mundo afora, da cultura do Nordeste brasileiro.
De tal maneira, O
Exílio Imaginário, como os demais trabalhos de seleção rigorosa que as
Edições UFC (hoje sob a competente direção do Prof. Antônio Cláudio Lima Guimarães) trazem a
público, tem a marca do talento e o sinete do método, circunstâncias exigíveis
do investigador, dignificando, por consequência, a estante de qualquer
estudioso, estudante ou apreciador da literatura de Língua Portuguesa, que
poderão se louvar no retrocitado volume para empreender consultas.
Tem ressalto, em meio aos seus bens produzidos, um conjunto
de ensaios de literatura lusitana comparada – o há pouco expresso O Sal da Escrita - cujo ponto alto,
para mim, descansa na remissão à obra da notável escritora Marquesa de Alorna – Dona
Leonor de Almeida de Lorena e Lencastre (quarta marquesa), a sétima Condessa de
Oyenhause, nascida lisboeta (1750- + Benfica, 1839).
Conhecida como Alcipe pelos poetas da Arcádia, a Marquesa
de Alorna pertence a um ramo familiar de fidalgos portugueses. Foi perseguida
pelo Governo do Marquês de Pombal (o mais célebre, o segundo marquês) – Sebastião José de Carvalho e Melo – expulsor dos
Padres Jesuítas do Brasil, quando do Tratado de Madrid. Este a encerrou,
juntamente com a mãe e o irmão, no Convento
de Chelas, destino também reservado ao pai, preso na Torre de Belém e depois no Forte de Junqueira. O moto da
persecução era simples – o parentesco dos Alornas com os Távoras – eis a
vinculação com o Ceará.
A obra da Marquesa de Alorna, desde a truculência do
mencionado Conde de Oeiras e Segundo Marquês de Pombal, analisada pelo Prof.
Dr. Carlos Neves D’Alge, configura-se em seis volumes de composições poéticas,
originais e traduções, entre as quais estão os três primeiros cantos de Oberon, de Christoph Martin Wieland
(Achstetten – Alem., 05.09.1733 – Weimar, 20.01.1813), bem como as Estações, de James Thomson
(Ednam – Escócia, 11.09.1700 – Richmond – UK, 27.08.1748).
Após o conjunto textual de Carlos D’Alge, importa
evidenciar, a empresária e literata portuguesa Maria João Mendonça Lopo de Carvalho procedeu à edição, em outubro
de 2011, do estudo profundo intitulado Marquesa
de Alorna, somente a respeito dessa Escritora, ao passo que o livro do
intelectual tramontano-cearense encerra outros ensaios de semelhante magnitude,
dispondo em paralelo literaturas de língua portuguesa de Brasil e Portugal.
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