sábado, 6 de junho de 2015

UM POEMA DE SÉRGIO MACEDO



DESERTO


Pode ser que haja alguma mudança

O deserto está quieto,

Algumas moitas de ferozes arbustos

Negando a morte continuamente,

Sobrevivência consumindo restos de esperanças,

Reduto de heróis esquecidos nas batalhas,

O deserto sobrevive,

No que sobra das carcaças

De jipes e tanques de guerra abandonados, 

Carcomidos pelo tempo

O herói não sabe do fim da guerra 

Continua guerreiro,

Continua na espreita.



Pode ser que haja notícias

Pode ser que haja mudanças

Não ouviu mais tiros

Gritos, melodia desaparecida há tempos

E a bela não lhe sai do alvo

A beleza imortal da musa

Da mulher tão sensual, quanto ausente,

Tão bela quanto enigmática,

Tão desejada quanto desejo.

O tempo se foi como medida de existência 

Nem pode fugir: não se foge do deserto

Deserto é a apoteose das prisões

Seu muro se chama distância

Seu muro se chama nada

Chama-se desesperança, medo

A liberdade está em pensar

Em olhar estrelas, noite após noite 

A liberdade está em esquecer.

From Heaven

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