LAMENTO AO VENTO
Diogo Fontenelle
Para Mirian Carlos, a mestra que não se esqueceu de ser menina.
A Infância passou pelos moinhos de sombras dos meus olhos tristonhos
Em rendilhas e arabescos de luz pelos telhados do antigo casarão...
Eu fui à Espanha buscar o meu chapéu azul e branco de sonhos!...
Era uma vez, um menino marujo preso numa bolha dourada de sabão,
Era uma vez, um soldadinho de chumbo em marcha pelo caderno escolar,
Era uma vez, um pequeno flautista a dançar pelos jardins de abril,
Era uma vez, um carrossel de lata a voejar pelo céu anil de Calcutá,
Era uma vez, uma doce e distante canção de ninar para um órfão febril,
Era uma vez, um circo oriental a tilintar por um domingo em prece,
Era uma vez, uma Noite de Natal esquecida num livro de poesia,
Era uma vez, uma aventura a escorrer por um folhetim de quermesse,
Era uma vez, uma tarde bordada por fios de sol numa praia em sinfonia,
Era uma vez, um grão-vizir de Alexandria a velejar um barquinho de papel,
Era uma vez, o Pirata dos Tempos que roubou a arca da minha Infância...
Ergueu muralhas de solidão pelos marulhos do meu peito menestrel,
E vestiu-me de gente grande a inundar meu coração de infinda ânsia...
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