O ENCONTRO DAS MÃOS
Postas
sobre o silêncio da mesa,
nossas
mãos são como pássaros
querendo
bicar o azul de um sonho adormecido.
A
melodia do ar açoita-lhes as plumas,
macios
desejos de voar.
Qual
pássaro, tua mão pousa sobre a minha
e
grita o silêncio que há em mim.
E
eu querendo dizer-te da beleza das auroras...
Mas
meu lábio mudo geme fagulhas de palavras,
para
a lavratura do incêndio iminente.
De
súbito, elas se erguem imantadas
e,
atraídas, nossas mãos se juntam,
ajustam-se
entrelaçadas.
Como
pálpebras, vão-se fechando, lentamente,
conchas
silentes,
na
agonia do instante entre o gesto e o olhar
suspensos
na palavra que não é dita,
mas
sentida,
nos
fragmentos dos espelhos
de
nossa memória.
atiçam-nos as vértebras, músculos e nervos,
e sangram desejos
na geometria de nossos dedos unidos.
GISELDA MEDEIROS
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