domingo, 24 de janeiro de 2010


CANÇÃO PARA BUSCAR-TE
Giselda Medeiros
Deixarei que o vento perpasse
o meu ser e dele retire
teu nome, teu gesto, teu vulto
para que eu possa respirar.
Deixarei que as estrelas roubem
teu brilho e em seu olhar azul
prenda-o, assim verei luzir
uma outra vez o meu olhar.
E deixarei que o mar te alcance
com sua voz potente e rouca
para que eu possa ouvir em mim
a minha voz, já quase morta.
E deixarei que o tempo leve
a solidão que o teu silêncio
bordou nas fímbrias do meu ser,
naquela tarde que chovia.
E depois de tudo... ah! depois...
quero ver minha alma cansada
ainda assim te procurar,
sofregamente, e nada, nada
nada de ti reencontrar.
Talvez quem sabe não te achando,
desesperada, e louca, e tonta,
se volte para si, sonâmbula,
para encontrar-se, enfim, a sós.
Mas, como poderei achar-me
se não estiveres em mim?
pois é no teu caminho vago
que traço o meu destino andante
de estrela, de rio, de vento,
margeando sempre a solidão...
(Cantos Circunstanciais)

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