quarta-feira, 9 de maio de 2018

GISELDA MEDEIROS




A PÁLIDA CANÇÃO DAS HORAS


Sob o olhar sombroso dos alpendres,
refaço-me em letras e apascento
o azul silencioso dos espinhos
que o medo me enxertou com seus ancinhos.

Na parede da sala, insone espelho
aprisiona o meu olhar vermelho
e tinge de ocre o meu lábio calado
há muito pelo tempo embalsamado.

O pálido relógio marca a sombra
das horas líquidas que ontem deixaram
seus rastros de procela nas alfombras.

A cortina dos medos se descerra...
E vejo dedos, céleres, que aram
novo jardim de amores sobre a terra.  


(do livro ÂNFORA DE SOL)