CRÔNICAS DE VIAGEM
Carona Oportuna
Vianney Mesquita*
As viagens são a parte frívola da vida das pessoas sérias e
a parte séria na vida das pessoas frívolas. [ANA SOFHIA SWETCHINE (ou Sofia
Petrovna Soymonova) – Moscou, 1782-1857)].
Os predicados de quem
pratica a oralidade, no discurso pronunciado ou grafado, conferem ao bom leitor
a habilidade de saber, de antemão, o perfil do escritor – ruim, sofrível, bom,
excepcional. Até a credibilidade, por parte do decodificador, sobeja, de algum
modo, dependente dessa feição de quem comunica, ao falar ou redigir.
Já
experimentei o lance de exprimir a ideia de que, agradáveis aos ouvidos,
deleitosos para os olhos e benignos ao coração, os escritos e falas expressos
ao compasso da boa elocução estimulam a audiência, manobrando o ouvinte e o
leitor a prosperarem na atenção até o remate do discurso, deste recolhendo o
sumo precioso de uma ideação bem refletida.
No
mesmo passo, se contiverem impropriedades elocutórias, vícios de linguagem,
repetições desnecessárias, frases feitas e anacrônicas, manias, chavões, redundâncias,
modismos e tolices – sem se fazer remissão a deslizes gramaticais e a
entendimentos flagrantemente equívocos – o público ledor, de qualidade, vai
largar tais escritos e seus produtores, rejeitando-os para sempre.
Crônicas de Viagem – Passeio pelo Mundo,
do facultativo e literato cearense José Fábio Bastos Santana, veste, qual uma
luva, a primeira das duas circunstâncias ora explícitas, em razão da
expressividade verdadeira de seu autor, que dirige a matéria com um português
direto, escorreito e simples, com vistas a se achegar aos leitores de regular a excelente
nível de entendimento.
Em sua narrativa, entretanto,
ele procura não descender a qualquer degrau da vulgaridade discursiva,
tampouco, em passagem nenhuma, subir aos páramos do pensamento dito,
erroneamente, douto e enciclopédico, o qual somente se presta a impedir uma
descodificação perfeita da mensagem, travando e chegando até a cifrar a intenção
de quem escreve e tenciona ver compreendidas suas reflexões por parte de quem
as aprecia.
A exposição literária de
suas viagens mundo afora traz manifesta a capacidade de um literato “artista”
da Medicina e médico “cientista” da Literatura, pois demanda ambas as coisas com
alçado saber e habilidade.
Aqui, então, fora do consultório e de seus
desdobres profissionais, faz entrevistas com clássicos portugueses em Lisboa,
afina violinos de musicistas eruditos da Europa e conta estórias claras dos
lugares por ele percorridos, sempre aportando achegas históricas, geográficas,
científicas e de outras ordens, fato denotativo de sua qualificada escolaridade
por todos os sítios do conhecimento, o que representa uma glória para a Arte
Literária cearense.
Além das aulas de
enologia e gastronomia, Fábio Santana ajunta aos cabedais dos leitores desta
obra uma literatura de alevantado poder de conquista, pois – insisto - vazada
em estilo saboroso, singelo e sem tom de vulgaridade, conquanto em elocução
elevada, porém, deseixada dos intentos de erudição, contra-dotes próprios dos
pseudossábios, dos quais a Literatura está repleta.
Caros leitores: peguem
carona com ele neste comodíssimo veículo literário!