sábado, 23 de julho de 2016

CRÔNICA DE VIANNEY MESQUITA




CABOTINISMO
 COMPORTAMENTO ABOMINÁVEL

                                                            Vianney Mesquita*

                                    O orgulho que almoça vaidade janta desprezo. (BENJAMIN FRANKLIN, cientista, diplomata, inventor e intelectual eclético dos Estados Unidos. 1706-1790).


            O nome cabotino, adjetivo e substantivo de ambos os gêneros, significa, em acepção original, mau comediante, ator histrião, personagem bufo, cômico teatralmente desqualificado. Consoante sugere Antônio Geraldo da Cunha, no seu Dicionário Etimológico Nova Fronteira da Língua Portuguesa (2. ed., Rio de Janeiro, 2001), “parece” aludir ao nome de um ator burlesco de categoria inferior (Cabotin), o qual teria atuado no tempo de Luís XIII, em França.
            Figurativamente, entretanto – e esta é a significação preferida e mais conhecida no Brasil – denota a ideia de [...] indivíduo presumido, afetado, que procura chamar a atenção, ostentando qualidades reais ou fictícias (CUNHA, 2001), com registo lexicográfico no século XIX (1807), sendo controversa a origem dos seus sentidos expressos em glossários, segundo gizado no Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa (2001), de Mauro Salles Villar e Antônio Houaiss.
            Este escrito é a continuação de viagem feita na boleia de matéria aqui veiculada recentemente, sob o título de Em qual cabeça assenta este chapéu? - onde expressei indignação com os autores autoproclamados mentores da sociedade, os quais se louvam no expediente da apologia aos protagonistas de suas obras, sem desvinculá-los dos nomes reais como escritores, com vistas à obtenção do aplauso, atitude repreensível, mesmo se o louvor restar merecido, e – pior ainda – caso não sobeje o elogio justo.
            A desqualificada significação desta unidade de ideia – cabotinismo - experimenta trajeto bastante comum no decurso na sociedade dos mais diversificados lugares e em tempos totais, conforme, amiudemente, a História relata, submetendo ao risco de sua instalação todos aqueles que não se vacinaram contra a picada da mosca azul - consoante a reflexão de Frei Beto, no livro do mesmo nome -  expondo-se, dadivosos, ao seu voraz apetite.
             A soberba, a importância e a indispensabilidade quase patológicas dos afagos ao ego sugestionado por Sigmund Freud parecem invadir o controle da volição, determinante da vontade de cada qual, neste caso, concernente a orientar as pessoas na trilha certa, conduzindo-as ao comportamento adequado no âmbito moral, na contextura da decência e no contorno das atitudes saudáveis que devem presidir aos nossos procederes. A isto a sociedade inteira almeja, porém, se descuida de armar anteparos e, com frequência, se descortina subordinada a um inimigo oculto, o qual se arrima até na nossa inteligência, como, por exemplo, na capacidade de escrever bons textos, a fim de operar seu desiderato e nos exibir aos pares com defeito de tanta monta, configurado no recurso nefasto do exibicionismo, sinônimo de ostentação, correspondente a encômio barato e presunção despropositada.
            É determinante, por conseguinte, um cuidado redobrado, a fim de as pessoas não se subordinarem às investidas constantes do cabotinismo, mormente quando são alçadas a posições de destaque, por via da Política, Religião, manifestações artísticas e demais haveres dotais impressos pela Providência Divina, como, exempli gratia, a Literatura, a Pintura e as outras quatro artes.
             Estas expressões da indústria humana, por efetivo, consuetudinariamente, concedem visão pública e midiática aos produtores e intérpretes, granjeando para seus palcos de shows e outros ambientes de assistência, em catarse aristotélica – de cariz estético - uma multidão apaixonada, desorganizada e desprovida de pensamento racional, condutora do artista aos apogeus da glória, circunstância fácil de ligeiramente enviesar para o senhorio da cabotinagem, de atuação ligeira junto aos que não se abasteceram de defesas rápidas contra opositor de exercício tão desembaraçado e veloz.
            O complexo inteiro da Humanidade está sujeito aos tentáculos dos comportamentos charlatães, de tal sorte que se deve permanecer em atalaia contínua contra suas arremetidas. Há que se postar avesso, entretanto, aos pruridos exagerados de simplicidade, como, por exemplo, o autor deixar de assinar uma produção, resignar-se perante a omissão de seu nome de uma ficha técnica, calar-se ante a supressão de referência por parte de alguém em evento cuja efetividade dependeu de sua participação etc., fatos que somente atestam a bobice e a sujeição infantil, também doentias, no polo oposto da ideação do teor cabotino.
            Guardo, constantemente, sobrado cuidado com as acometidas desse vilão moral, deontológico e ético, para não ser vergado moralmente pelos seus impulsos poderosos (Flexo, sed non frango = envergo, mas não quebro). Ele circula à solta em meio aos desavisados, mormente na ambiência dos inocentes e pretensos credores do reconhecimento e presumidos donos de uma arte maior, definitiva, quando, em muitos lances, representam apenas jejunos e claudicantes aprendizes, visitantes de assuntos sobre os quais estão ainda bastante apartados do domínio.
            Estas pessoas merecem de seus próximos – parentes, amigos e circunstantes com quem tenham alguma ligação - os corretivos oportunos, as regulagens apropriadas, a fim de que não habitem o patamar dos deserdados morais artistas, os quais, mesmo sendo bons, ainda acham necessário aparecer, conforme expressei na matéria indicada no terceiro parágrafo desta escrita, como os primeiros entre os pares, feitos luminares refalsados do preparo intelectual e notáveis ilusórios da sabedoria.

            Lamentavelmente, não conhecem, ou jamais divisaram, a ideia do cientista de Österreich, naturalizado inglês, Carlos Raimundo Popper (Viena, 28.07.1902 – Kenley, 17.09.1994), para quem todos somos cegos convencidos de que saber e ignorância são vizinhos.

sábado, 16 de julho de 2016

ANIVERSÁRIO DE GISELDA MEDEIROS - 2016




A Presidente de Honra da Associação de Jornalistas e Escritoras do Brasil - CE, Giselda Medeiros, recebeu bela homenagem pelo transcurso de seu aniversário.

Ajebianas e ajebianos compareceram ao almoço, dia 13 de julho, no Náutico Atlético Cearense para cantar os parabéns.

A Presidente Gizela Nunes da Costa passou a condução dos trabalhos à cerimonialista, escritora Francinete Azevedo, antes, porém, prestando uma homenagem póstuma, com um minuto de silêncio, à Lúcia Helena Pereira, pelos seus feitos à AJEB-RN, como presidente dessa coordenadoria e pelo seu dinâmico trabalho como Presidente Nacional da AJEB.

A cerimonialista exaltou a pessoa e a escritora, Giselda Medeiros, com belas palavras. Em seguida, passou a palavra à secretária, Rejane Costa Barros, responsável pela louvação à aniversariante. Com um discurso poético, Rejane traçou a personalidade da escritora homenageada (transcrito mais abaixo).

Em nome da família de Giselda, seu filho, Jorge Francisco de Medeiros, fez os agradecimentos pela homenagem à sua mãe.

A aniversariante, em rápidas palavras, mostrou sua visível emoção, agradecendo a todos os amigos ali presentes com um poema.

O jornalista Vicente Alencar  fez a leitura das notícias culturais.

Ao final, as fotos, imagens da bela recepção.


Giselda Medeiros e a celebração da vida

          O Ceará, terra bem-aventurada que produz bons frutos, permitiu que Prata se transformasse em ouro. Fortaleza recebeu uma menina, que cresceu, virou mulher, estudou, tornou-se professora, casou, construiu uma bela família, talentosa, que decifrou os mistérios da literatura, tornou-se poetisa de primeira linhagem e também a Princesa dos Poetas do Ceará. Intelectual de provada e admirada sabedoria, descobriu com perfeito discernimento o saber e o sabor da poesia, sua grata companheira, usando-a como fonte vital de sua produção. Destaca-se ainda, no conto, na trova, na crônica, na crítica literária.
          Giselda Medeiros é mulher simples, sensível, bem-intencionada e que ama Fortaleza, pois por ela foi recebida e adotada como filha. Sabe ser moderada na medida em que não é submissa e sabe ser audaz, se fazendo nobre, sem soberba. Tem um jeito franco e cordial de ser, naturalmente, sem precisar fazer tipo, sem nunca fingir ou negar sua personalidade. Sua alma é ampla e aberta como o sol que brilha a cada dia. Seu coração, assim como o nosso mar, é belo de se ver e navegar. Sua vida é assim, sem mistério ou disfarces, desfraldada como uma bandeira, sugerindo esperanças e convidando-nos a acompanhá-la. É feita de pura paixão. De ânsia de trabalho e de vitória. De luz e fé. Como todo o bom povo nordestino.
          Nascida no dia 14 de julho, onde ainda hoje se comemora, na França, a vitória da liberdade, com a Tomada da Bastilha, filha do casal Jorge Francisco de Medeiros e Raimunda de Sousa Fernandes Medeiros, tem muitas histórias a nos contar e muitas lições de vida a nos repassar.
          Um dia o destino tratou de nos aproximar e de nos fazer amigas. Assim, permanecemos. Desfrutamos de uma cumplicidade literária e afetiva, e agradecemos sempre por esse encontro, pleno de respeito, admiração e reciprocidade. Essa mulher de marca esplêndida de dignidade não tem frustrações e sente-se uma pessoa feliz com o mundo em que vive e com sua família; é um ótimo exemplo a ser seguido.
          Giselda honra-me a sua fidelidade e o tratamento afetivo que me dispensa diariamente. Procuro também dedicar a ti o meu desvelo, minha solidariedade, e um amor altaneiro e sincero, de amiga, com a felicidade de nesse recente Dia das Mães de 2016, ter recebido de ti um recadinho muito carinhoso no qual me adotavas como filha em seu sensível coração materno. Obrigada!
          O poeta Alberto de Oliveira, num de seus poemas diz que a boa idade é a da maturidade, porque é o tempo da sabedoria e da serenidade. E realmente, é.
          Amiga, que Deus, que a fez com toda essa capacidade de não envelhecer, a conserve desse mesmo jeito: companheira de todos os momentos, boa e leal em todas as circunstâncias, com essa lucidez poética incrível e esse espírito de menina-mulher plena de jovialidade interior.
          Receba de todos nós, seus amigos, os votos de parabéns, por mais um ano de vida, por seu bom exemplo, sua conduta, sua família, pela missão que vem cumprindo com tanta consciência e dignidade.
 
          Muito obrigada por você existir em nossas vidas!
          Parabéns por seu aniversário!!!!
Rejane Costa Barros

Fortaleza, 13 de julho de 2016

FOTOS



















































sábado, 9 de julho de 2016

UM CONTO DE ANA PAULA MEDEIROS



CONTO DE UMA NOITE DE ABRIL

Os ponteiros pareciam passear vagarosamente sob o vidro do relógio de pulso, enquanto ela aguardava a definição do lugar do encontro.

Há poucas horas, havia recebido um convite para jantar. Deveria estar feliz, mas uma avalanche de emoções escorregava-lhe pela espinha. Há dias, o relacionamento não estava muito bem. Existia algo, uma energia forte, contrária à dos amantes, que se espalhava como uma erva daninha. Uma sombra pairava sobre os dois, amornando a euforia do amor. Ela sabia que estava por vir mais um daqueles momentos de contabilidade... Contas de coisas que ela fizera e o desagradou. Contas postas friamente sobre a mesa de jantar. Era sal na sobremesa...

Finalmente, chegou a mensagem com o local e hora do encontro. Ela levantou-se da cama e foi se banhar. Deixou, por longos instantes, a água escorrer pelo seu corpo e sumir através do ralo. Parecia que a água levava embora um pouco de sua desilusão... Respirou fundo e recompôs-se. Perfumou-se e vestiu uma roupa nova, como era de costume nos encontros que tinha com ele. E foi. Chegou cedo e explorou o lugar. Havia um jardim grande com muitas plantas e luminárias. Sentou-se e, ao recordar alguns momentos, percebeu o quanto o amava e o admirava e se orgulhava de ser... ser... ser o quê?... Não conseguiu se definir em relação ao que era para ele. Levantou-se e andou inquieta por entre as mesas vazias do jardim até que o avistou entrando pelo portão. Seu coração disparou e um soluço inesperado lhe aparecera naquela hora. Ele aproximou-se e a cumprimentou formalmente. Era um homem de poucas palavras, mas de muitos pensamentos. Ela queria pular em seus braços, morder sua orelha e dizer: olá, meu amor! Mas, o jeito sisudo e grave, com o qual ele a recebeu, embargou a ebulição dos gestos que ela desejava fazer naquela hora.

Foram ao salão e se assentaram. Havia uma dormência nela e uma estranha tranquilidade nele. Ele examinou o cardápio, solicitou sugestões e fez o pedido ao garçom. Enquanto isso, ela sofria silenciosamente... Até que, depois de um longo suspiro, ele iniciou a conversa. A sensação que ela tinha era que as palavras dele a aprisionavam em uma caverna escura e a faziam ficar lá: triste e acuada. Recebeu tudo de peito aberto. Nunca teve escudos, trincheiras, abrigos de defesa. E tinha um grave defeito: total inabilidade para brigar e contra argumentar em situações que envolviam seus afetos.

Ele lhe disse coisas que chegaram nela como um tsunami. Ela chorou muito e foi embora só. Ele não a quis. Sequer lhe retribuiu o abraço na despedida. Permaneceu inflexível como um carvalho na tempestade.


Naquela noite, ao chegar em casa, enquanto tremia acometida por uma febre emocional, ela ouviu aquela mesma sombra, que pairava sobre os dois, dar muitas gargalhadas. Depois dali, ela mergulhou num torturante vazio que lhe roubou o viço e o doce da vida. Não há mais tâmaras nem damascos nas manhãs de domingo.