NUNTIA MORATA
Dimas Macedo
O gozo do signo é, talvez,
o ponto mais alto para o qual aponta a ordem do discurso. Os caminhos da
linguagem são intrincados, e por qualquer atalho terminamos sempre em um
labirinto. O símbolo não liberta a linguagem do seu absoluto; antes, ele a
transforma em prisioneira do mistério.
Dois planos de compreensão do
mundo e do homem existem no campo da crítica literária: o prazer da leitura e a
sua reconstrução e utilidade, tendo-se na intuição e na sensibilidade do
crítico os seus elementos de maior alcance.
A crítica é o gênero mais alto de
todas as formas de criação. É poética no sentido aristotélico e nos usos que lhe
foram dados pela invenção do ensaio e pela dialética com que os códigos
literários foram reabertos a partir da Idade Moderna.
O Poema, a forma literária mais
retrabalhada ou reconstruída durante o curso da história, somente chegou até nós,
acredito, porque a crítica intuiu a perspectiva da sua morfologia e da sua
semântica, deixando para a linguística os seus elementos de ordem sociológica.
O exercício da crítica literária
exige erudição e domínio do conhecimento de quem se aventura pela sua seara,
por sua sedução prazerosa e pela sua pluralidade de sentidos. Não podemos
comparar a crítica com os comentários apressados e com as resenhas corriqueiras
de jornais e revistas.
A produção da crítica exige do
seu autor o seu fervor analítico, a sua perspectiva sócio-literária, a sua
visão de conjuntura e a sua formação no campo da cultura artística, associada
ao rigor do método.
Vianey Mesquita, o autor de Nuntia
Morata – Ensaios e Recensões (Fortaleza, Expressão Gráfica, 2014), é um dos
melhores críticos literários que conheço. Arquiteto a Posteriori da criação
literária e mestre nos domínios da correção da língua e da gramática, no Ceará
poucos a ele se igualam em erudição e humildade diante das estruturas do texto.
Hermeneuta da Literatura por
imperativo da sua formação, é um decifrador humorado do texto literário ou do
texto científico que desvela, pois não lhe faltam argúcia e preparo para
enfrentar os diversos códigos da linguagem.
Enquanto escritor, Vianey
Mesquita prima pela correção gramatical, mas é sagaz com os recursos do seu
golpe de vista, restaurando a precisão do método e a analogia filosófica e
científica da escritura acadêmica por ele examinada.
A sobreleitura do texto literário,
sociológico, filosófico ou científico por ele empreendida, encontra-se permeada
de um fino lavor artesanal, revestida da melhor recepção e rematada pela
estética da síntese e da claridade, e tanto mais escandida pelo gozo do signo e
da pontuação.
E de forma que Nuntia Morata,
a sua nova coroa de ensaios, é a escansão melódica do seu estro, porque de
música e de estilo primoroso são costuradas as suas intenções e remarcadas as
suas entrelinhas.