Enquanto lia a mais recente obra do
professor Vianney Mesquita – Arquiteto a
Posteriori – ocorreu-me um sentimento de saudade em torno dos primeiros
momentos que vivi nesta mui hermosa
ciudad de Nossa Senhora da Assunção. Cheguei aqui há pouco mais de 49 anos,
sem parentes importantes e vindo do
interior, para que, em anos subsequentes, já me pudesse sentir
razoavelmente integrado a este sentimento de cearensidade praiana, do qual emergiria um desfrutado encanto
particular pela então exuberância de uma urbe ainda velha na sua cena urbana, o
modo particular do Ceará moleque, entre a Praça do Ferreira e seus arredores,
bem assim um certo requinte de sua vida intelectual, centrada em grêmios e
livrarias, bem como intensa atividade cultural.
Restrinjo-me, especialmente, a esta
derradeira menção para consignar o fato de que, sem saudosismos, aquela era uma
época em que de fato, vivia o Ceará uma fase esplendorosa de bulício cultural,
tanto da juventude universitária quanto da academia literária. Por isto, a
manifestar tão diletante gosto, inúmeros nomes de confrarias diversas
expressariam em muitos momentos e eventos, a seu gozo pessoal e coletivo no
fomento dessas ocorrências, onde o centro, via de regra, era a apresentação
formal e sempre solene e ritualístico de novos livros, de mais produções
literárias. Recolho, por exemplo, de Braga Montenegro, extraordinário crítico
analítico desta fase, num destes momentos, a asserção de que Um dos elos que ligam os homens na ação
desinteressada, que ligam os homens pelo coração, pela inteligência e pelo
sentimento, será, sem dúvida, a literatura, a poesia. Este sentimento de
que nos fala, sem dúvida, é o assemelhado ao que, felizmente, diversos homens
de letras do nosso Estado, por exemplo, conduziram a percorrer parte da
grandeza de épocas e escolas no fazer intelectual e cultural da província.
Reconheceria, com a passar do tempo,
da pessoa de Vianney Mesquita, ao amiudar o conhecimento do intramuros universitário,
a presença irrequieta de suas ações professorais e literárias, como destes
valores da mais sincera e obrigatória competência para a renovação das velhas
tradições intelectuais do Estado.
Almejando conhecê-lo mais amplamente,
recorri - malgrado a sinopse econômica de expressões – de Raimundo Girão e
Maria da Conceição Sousa, que o registram no Dicionário da Literatura Cearense (1987), exatamente pela
proximidade dos seus ainda primeiros passos, para encontrá-lo e reconhecê-lo
com sinais evidentes de competência, zelo, dedicação e compromisso vocacionado
aos misteres da Literatura e da Comunicação. E nisso, o que vinha –
literalmente, me permitam a inocente irreverência, do Pinto do Mesquita (de sua
patrilinearidade), já se revelava na vasta produção, de meritória e justa
visibilidade e reverência entre o alunado e as academias. De lá para cá, a
afluência e a abastança de vária colheita livresca, maturada ao calor de um
acolhimento crítico, sincero e generoso de tantos observadores e leitores atentos,
consagraram esta inserção do operário impenitente e criativo em meio à cena do
maior brilho da intelectualidade do Ceará. E eis como vossa senhoria se
encontra, sem maior favor da nossa admiração instalada.
Da sua expressiva produção literária,
mais especificamente em livros, iniciada há 30 anos, com Sobre Livros – Aspectos da Editoração Acadêmica, passando por Estudos de Comunicação no Ceará (com
Gilmar de Carvalho), Impressões, O
Termômetro de McLuhan (com Fátima Portela Cysne), Resgate de Ideias, A Escrita Acadêmica (com Anchieta E. Barreto),
Fermento na Massa do Texto, Repertório
Transcrito, chegamos a este Arquiteto a Posteriori.
Antes mesmo de lhe dizer algo
relevante sobre o que me cabe, não posso deixar de expressar-lhe, professor
Vianney Mesquita, que o anterior Fermento
na Massa do Texto, de 2001, encarregou-se de guardar a impressão crítica,
gentil e sincera, de o primeiro livrinho perpetrado aí pela virada do século,
recolhendo apressadamente, de gavetas e arquivos, textos desengonçados, reunidos
temerariamente em papel e brochura de má qualidade. Nem assim, pela
precariedade do continente, vossa senhoria, em palavras cordiais, deixou de
apreciá-lo à sobra de algum valor que o conteúdo encerrava. A brochura Juazeiro é um Mundo, de tão miúda tiragem,
ficou até para o folclore da minha terra e das expressões familiares, enquanto,
felizmente, o Fermento na Massa do Texto
se afirmou como mais uma grande contribuição ao exercício da crítica literária
que tanto caracteriza os seus afazeres. Por ele, por este Fermento, um dia, por certo, ainda se saberá que existiu um
pretenso autor e seu livrinho, o ufanista Juazeiro
é um Mundo, embora não mais se ache nem nas ensebadas prateleiras dos
antiquários.
*Antônio Renato Soares de Casimiro é docente da Universidade
Federal do Ceará, escritor consagrado com obras de vulto, acadêmico titular da
Academia Cearense de Química. Engenheiro químico.
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