segunda-feira, 26 de agosto de 2013

A FALA DE MARCELO GURGEL


Estórias Esculapianas
Em janeiro de 2008, animado pelo ímpeto ficcional, recém-estreado com o romance “Maquis: Redenção na França Ocupada”, comecei a escrever contos, um gênero literário bastante atrativo para quem escreve e igualmente atraente ao leitor.
Foi assim que contos, da minha lavra, foram se sucedendo, no conjunto da diversificada produção de um escrevinhador, tido como polígrafo, parte deles recorrendo à temática médica, como lastro das estórias.
Em dezembro de 2011, juntei em um só volume, contos que tratavam de conteúdos ou aspectos da Medicina, todos inéditos, sob o título Estórias Esculapianas, como aqui se mostra, e o apresentei ao VIII Edital de Incentivo às Artes, da Secretaria da Cultura do Estado do Ceará (Secult-CE), inscrevendo-o na categoria de Contos.
Como qualquer produção do gênero, esta obra agrega experiência e criatividade, apontando para o fato de que a escrita traz à tona a emoção do autor, enredada em vivências pessoais, transmitidas ou testemunhadas. Ela reúne 17 contos, todos tendo como cenário a medicina, esta ambientada, principalmente, no Ceará, configurando situações hilárias ocorridas e levadas ao meu conhecimento.
Este livro, avalizado pela Secult-CE, como um dos ganhadores do VIII Edital retro-referenciado, teve o seu financiamento assegurado pelo Governo do Estado do Ceará, ao qual, penhoradamente, agradeço.
As ilustrações inclusas, uma para cada estória, conferem leveza e síntese da trama exposta, foram cuidadosamente desenhadas, a bico de pena, pelo Prof. Jesper, a quem presto o reconhecimento por seus claros méritos.
De princípio, sou muito grato à Profa. Giselda Medeiros, ilustríssima imortal das Academias Cearense de Letras e Fortalezense de Letras, presidente de Honra da AJEB e princesa dos poetas do Ceará, por seu apurado prefácio e por suas tão gentis palavras ao efetuar a apresentação neste lançamento.
Também o meu muito obrigado é dirigido à Expressão Gráfica, que se esmerou na impressão da obra, e, em especial, na estampa da sua capa, exibindo The Four Doctors (Os Quatro Doutores), uma pintura de John Singer Sargent, pertencente ao acervo da The Alan Mason Chesney Medical Archives of The Johns Hopkins Medical Institutions, de Baltimore (EUA).
Quero aqui ainda expressar a minha gratidão à Unicred Fortaleza, em especial aos seus diretores e aos funcionários do serviço de Marketing, que deram suporte ao lançamento da obra, propiciando, do melhor modo possível, espaço, logística e infraestrutura, requisitadas à execução do evento.
Tem-se que realçar aqui a prática pessoal de coibir a espera na costumeira fila de autógrafos, até o recebimento do livro, dispondo de uma etiqueta autografada pelo autor e colada na folha de rosto, contendo os seguintes dizeres: “Manifesto-me agradecido por seu interesse em relação a esta obra, cuja renda será revertida para as ações beneficentes e evangelizadoras da Sociedade Médica São Lucas.” Cordialmente,
Muito Obrigado!
Prof. Marcelo Gurgel Carlos da Silva
Da Academia Cearense de Medicina e da Sobrames/CE

* Discurso proferido por ocasião do lançamento do livro “Estórias Esculapianas”, na Célula de Arte e Cultura da Unicred Fortaleza, em Fortaleza, em 23 de agosto de 2013.

Requintada, culturalmente, a festa de lançamento do livro "Estórias Esculapianas", do Dr. Marcelo Gurgel.


APRESENTAÇÃO DE ESTÓRIAS ESCULAPIANAS

Marcelo Gurgel, além de médico, economista, professor universitário, polígrafo, doutor em Saúde Pública e pós-doutor em Economia da Saúde, ainda encontra tempo e razões para se dedicar ao exercício da literatura. Isso não nos surpreende, porquanto sabemos que,  desde os primórdios dos tempos, Medicina e Arte se complementam e interagem na busca da beleza e da perfeição. Ambas se imbricam no interesse pela vida e na inquietação do ser humano. Hipócrates já defendia essa verdade, asseverando que a medicina, assim como a literatura, constitui-se uma arte, por envolver sempre três atores: o médico, o paciente e a doença.
Marcelo Gurgel faz parte desse privilegiado grupo, em que se misturam, harmoniosamente, o homem médico – aquele que convive com a realidade inerente à natureza humana: as doenças que põem em risco a vida; a morte, sempre a “indesejada das gentes”, em seus letais momentos, inexoravelmente a nos sugar; a loucura, o sofrimento, a angústia; o milagre do nascimento, tudo isso suscitando sentimentos, - e o homem artista, aquele que, reinventando a vida, recria um mundo em que podem conviver o bem e o mal, o louco e o sábio, o amor e o ódio, cada qual desempenhando o seu papel no teatro da vida, e, através da “arte verbal, passa a comunicar experiências inefáveis”.
Nas lides acadêmicas, Marcelo é sócio titular da Academia de Medicina e da Academia de Médicos Escritores. É membro da SOBRAMES-CE (Sociedade Brasileira de Médicos Escritores) e da Sociedade Médica São Lucas, afora outras instituições culturais. E, agora, vem engrossar as fileiras do conto cearense com Estórias Esculapianas, livro agraciado com o “Prêmio Literário Para Autor Cearense”, realizado pela Secretaria de Cultura do Estado do Ceará, e que enfeixa contos, recriados no dia-a-dia médico. São estórias, ora envolvendo o esculápio, ora o próprio paciente, em situações engraçadas, narradas com leveza, correção, personalidade e, sobretudo, com o conhecimento técnico de quem é sabedor dos meandros da narrativa.      
Homem de mente privilegiada, dono de vastos conhecimentos, tanto no plano científico, como no literário, já tendo publicações nos gêneros: crônica, conto, ensaio literário, memorialismo, discurso, romance e teatro,  nesse seu livro busca interpretar a trajetória do ser em sua real condição humana, com suas dores, angústias, medos, sem deixar de ver o lado cômico da vida, intercambiando experiências. Atentemos, também, ao fato de que o médico e professor Marcelo Gurgel corrobora que escreve como uma forma de libertação e de superação desses elementos existencialistas adversos, imprimindo no leitor uma procura de paz e harmonia, manejando tão bem a linguagem, os diálogos, a nos mostrar o poder encantatório de dar às suas personagens de papel o sopro de vida. E, para modelar esta existência sofrida, introduz em suas narrativas uma receita espetacular: o hilário, o cômico que transmutam e transfiguram nosso humor.
Desse modo, Marcelo Gurgel busca aproximar medicina e literatura, porque esta o leva a imergir a águas mais profundas, de onde vem à tona mais humano, mais livre e mais revigorado.
Obrigada

Giselda Medeiros

quarta-feira, 21 de agosto de 2013

CANÇÃO DA ESPERA - GISELDA MEDEIROS



                Passas.
                Teu vulto é um oásis
                onde quero aprender
                o ofício das areias
                nas longas noites
                em que as estrelas
                fiam fios finos
                de fluida luz.

                Teus passos na tarde
                ecoam ainda
                em minhas manhãs,
                alvacentas e lânguidas,
                como o marulho das vagas
                que ficaram para trás.

                Mas passas,
                indiferente e lento,
                sobre meus anseios
                com mãos enfeitadas de adeuses
                a romper em flores
                de esquecimento.

                E passas tão perto de mim
                e tão distante!
                Não conheces o mapa
                de meus arquipélagos
                nem sabes da beleza
                de meus profundos mares
                onde há conchas e corais
                em êxtase.

                Talvez um dia
                - um dia desses -
                quando pisares as névoas
                do meu tempo
                e sentires pesar o teu tempo,
                talvez, tu resolvas ficar
                no tempo dos meus domínios...

(DO LIVRO TEMPO DAS ESPERAS)

sábado, 10 de agosto de 2013

ESSE MILLÔR É DEMAIS!


Poesia Matemática

Às folhas tantas
do livro matemático
um Quociente apaixonou-se
um dia
doidamente
por uma Incógnita.
Olhou-a com seu olhar inumerável
e viu-a do ápice à base
uma figura ímpar;
olhos rombóides, boca trapezóide,
corpo retangular, seios esferóides.
Fez de sua uma vida
paralela à dela
até que se encontraram
no infinito.
"Quem és tu?", indagou ele
em ânsia radical.
"Sou a soma do quadrado dos catetos.
Mas pode me chamar de Hipotenusa."
E de falarem descobriram que eram
(o que em aritmética corresponde
a almas irmãs)
primos entre si.
E assim se amaram
ao quadrado da velocidade da luz
numa sexta potenciação
traçando
ao sabor do momento
e da paixão
retas, curvas, círculos e linhas sinoidais
nos jardins da quarta dimensão.
Escandalizaram os ortodoxos das fórmulas euclidiana
e os exegetas do Universo Finito.
Romperam convenções newtonianas e pitagóricas.
E enfim resolveram se casar
constituir um lar,
mais que um lar,
um perpendicular.
Convidaram para padrinhos
o Poliedro e a Bissetriz.
E fizeram planos, equações e diagramas para o futuro
sonhando com uma felicidade
integral e diferencial.
E se casaram e tiveram uma secante e três cones
muito engraçadinhos.
E foram felizes
até aquele dia
em que tudo vira afinal
monotonia.
Foi então que surgiu
O Máximo Divisor Comum
freqüentador de círculos concêntricos,
viciosos.
Ofereceu-lhe, a ela,
uma grandeza absoluta
e reduziu-a a um denominador comum.
Ele, Quociente, percebeu
que com ela não formava mais um todo,
uma unidade.
Era o triângulo,
tanto chamado amoroso.
Desse problema ela era uma fração,
a mais ordinária.
Mas foi então que Einstein descobriu a Relatividade
e tudo que era espúrio passou a ser
moralidade
como aliás em qualquer
sociedade.