RELATO
Madrugada! Letícia impulsionada pelo desejo de escrever deixa
as mãos digitarem com frenesi. Sua cabeça fervilha de ideias e se apodera do
tempo rememorando fatos, situações. Surgem recordações imprudentes e impudentes
que dão à narrativa o tom do pecado, do proibido, da cobiça camuflada, como se
fossem esconderijos das estreitas ruas de cidades exóticas, de labirintos
intermináveis. Lembra Hades, o deus grego, em seus intermináveis subterrâneos.
Nesse itinerário do não explícito, do invisível, do anônimo, do bizarro,
expressa, à sua maneira, anseios, segredos, subjetividade, subjetivação e
singularidades. Percorre o imaginário encontrando o passado vivido. Materializa-o,
toma forma, ora provisória, lacunar, fragmentada e imprevisível, ora
totalizante, holística e plena.
Deste modo, sua escrita trilha
o caminho da inspiração, da fantasia, do imponderável, das descobertas,
escapando dos desvios que surgem inesperados e das ruelas traiçoeiras da vulgaridade.
Rememorar a vida a encanta e assim ela o faz sem resvalar para um saudosismo
obsessivo. Escrever torna-se um desejo constante, uma atração arrebatadora, uma
curiosidade queimante. Através da narrativa, abre fendas no tempo e caminha
pelos labirintos sedutores da memória, sem aflição. Persiste em sua aventura,
impulsionada pelo desejo de reviver estórias exultantes, fatos simples, pessoas
marcantes, os ternos amores e as paixões proibidas. Ah! As paixões que
estonteiam, marcam a existência e arrebatam sentimentos incógnitos, abismais.
São como brumas densas, penachos de fumaça, bosques virgens, caminhos
desconhecidos, soando, às vezes, como borrascas e ou terremotos súbitos e
devastadores.
Letícia alça voos e, brincando
de fada, transforma sapos em príncipes, burros em cavalos alazões, casebres em
castelos encantados. Narra estórias sobre o cotidiano, chora partidas, relata
episódios e espreita o passado, através do olhar observante do seu
presente. Às vezes, seu coração se avermelha,
sangra com a dor do amigo e se regozija pelo sucesso de pessoas que alcançaram
seus sonhos e cantam a vida.
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