MULHER
Olavo Bilac
Na mulher, todas as
perfeições da vida universal se contêm.
Quando menina, ainda
pequenina, já a mulher tem a graça divina, dilúculo de beleza, que deixa adivinhar
na claridade indecisa da madrugada o esplendor do dia que não tarda. Depois, na
idade da révora, há no seu corpo a harmonia de um hino triunfal, cântico de seiva em relâmpagos de
vida. Depois, é o estio, estação fulgente, em que o feitiço ofusca e cega, sol
alto, calor fecundo, apoteose da luz e da força. Depois, é o outono, sazão
bendita, em que a mulher de quarenta anos tem a formosura suave e melancólica dessas tardes longas, em
que a luz ansiosa, querendo fugir e querendo ficar, demora-se no céu e na
terra, e agarra-se às árvores, às nuvens, com pena de morrer... Depois é o
inverno... É a sacrossanta beleza da mulher bela na velhice, uma beleza que
parece imaterializar-se, espiritualizar-se sob a névoa dos cabelos brancos...
Divino feitiço, abençoado
sejas em todas as idades, porque em todas as idades és o maior encanto e o
maior consolo dos nossos olhos e das nossas almas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário