segunda-feira, 13 de setembro de 2010
CONTEÚDO E CONTINENTE - Giselda Medeiros
Poeta,
de que barro,
de que águas,
de que matéria
vem tua rima,
se ela é tão rara
e embriaga as retinas
ávidas de pérolas,
e de luz, e de canções?!
Chove emoção com teu verso...
E tua poesia é azeite e lâmpada,
fio e teia, corda e harpa,
asa e vôo, luz e estrela,
água e rio,
pássaro que pousa
sobre o azedume da vida
soterrando espantos
e despertando mitos.
Tua poesia escorre sobre nós
como o orvalho sobre a pétala,
tão leve e cristalina...
Poeta, responde-nos:
de que barro,
de que águas,
de que matéria
vem tua rima,
se tua mão guia, no invisível espaço matinal,
o ritmo e a palavra
que começam a dançar nas madrugadas
envoltos no ciciar da brisa,
a explodir em versos sobre tua fronte?!
Tu cantas, Poeta,
a amargura da vida
com a mesma singeleza com que choras
o amor sonhado, encravado nas estrelas.
Teu é o território do sentimento.
Teu é o infinito que se abre para conter o sonho.
Teu é o canto da saudade
evolando nas asas do pássaro do amor.
Por isso, poeta, vem e dize-nos:
de que barro,
de que águas,
de que matéria, enfim, vem tua primorosa rima?!...
(de ÂNFORA DE SOL)
domingo, 5 de setembro de 2010
Histórias C7S - Ex-alunos
UM VATICÍNIO COMPROVADO
Giselda Medeiros
Àquela época, eu cursava no, então, Ginásio 7 de Setembro, o curso de admissão.
Era aquele um dia especial. A turma toda aguardava (alguns apreensivos, outros despreocupados) a entrada triunfal do Dr. Edilson Brasil Soárez.
Aula de Matemática. Professor Nertan. Assoma à porta da sala, com seu costumeiro gesto de rodar levemente a cabeça, o Diretor. Numa atitude cavalheiresca, pede licença ao professor. Abraçando, como que carinhosamente o enorme livro preto que sempre conduzia, aproxima-se da mesa. Faz a preleção costumeira aos alunos. Em seguida, inicia a entrega das redações. Ah, aquele era um momento muito aguardado! A curiosidade por saber a nota e, principalmente, receber das mãos do Diretor e ganhar dele qualquer elogio era um céu para nós, alunos.
E ele ia distribuindo, uma a uma, pelo número e pelo nome (sim, porque ele fazia questão de chamar seus alunos pelo nome).
Eu, timidamente, aguardava a minha vez de ser chamada. Os nomes iam-se sucedendo, e o meu não era chamado. Eu já suava frio e me debatia em angústias: tirei uma nota ruim – dizia baixinho para mim mesma.
Espichei o olhar para o livro preto e vi que havia, ainda, uma redação. E era a que ele pegava naquele momento. Tremi: só pode ter sido a pior da classe!
Foi quando ouvi o Diretor: “Número 1388, Giselda”. Levantei-me, entre assustada e ansiosa. Ele continuou: “Após a aula, vá ao meu gabinete”. E não me entregou a redação.
Não prestei mais atenção à aula que continuara. Mil pensamentos me rondavam, insistentemente. Nunca tirara nota abaixo da média. Seria aquela a primeira?
Ao término da aula, apanhei minha bolsa e saí rumo à Diretoria. O caminho, que era curto, pareceu-me uma eternidade.
Entrei e sentei-me timidamente, à sua frente. E qual não foi minha alegria quando vi estampar-se no rosto do Diretor um sorriso amigo e confiante. Relaxei. Ninguém abre um sorriso para dar notícia ruim. Foi quando ouvi elogios à minha redação.
Do que ele falou ficou em mim, forte e muito nítida, uma frase que me norteou vida afora e que me levou a me exercitar mais na leitura e na escrita.
Ainda hoje lembro-lhe o tom da voz e o olhar sorridente, não mais de um Diretor, mas de um pai, feliz, ante a vitória de um filho:
Um dia, você será escritora!
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