Na lâmina dos espelhos
o teu olhar de beduíno
crestou-me os caminhos.
Os olhos vermelharam espigas
e espigas pariram grãos.
Na noite vigiei-te os passos
que iam e vinham
no doce mistério de secar os grãos
nesse intróito dos rituais
(lira incendiada de sol)
que a noite sonha conquistar.
Na lâmina dos espelhos
o meu olhar (harpa desafinada)
dilacerava-se em notas
para alimentar a canção andarilha
de tuas carnes
- ofertório, loucura, tempestade -
na noite do meu silêncio
posto na alvura das dunas
a refletir-se na lâmina dos espelhos...
Meus olhos ficaram cegos,
ficaram cegos os teus,
cúmplices da geometria
ambígua daquele adeus
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