domingo, 13 de fevereiro de 2022

CRÔNICA DE TÚLIO MONTEIRO

 

Tauaçu do meu peito


Este dó de peito. Esta nota tão relapsa e ao mesmo tempo tão complexa me foi arrancada do nó – pomo de adão – há tempos. Eu que já gritei, esperneei e nunca tive tanto esquecimento em meu cérebro, hoje transtornado pelo tempo me questiono: – Ora, se amar nunca me trouxe a exatidão do termo AMOR dentre os corações que habitei, por tantas mãos e corpos que já passei, por quê e para quê amar? Nunca me coube aportar meu barco em porto seguro, mas, sim, condenado fui a navegar por mares de tormentas, de sargaços, sempre a desbancar-me em ondas gigantescas. Olhos fora d'água em gritos tão altos busca de um tauaçu que fosse para ancorar a jangada desse coração nada perene no que diz respeito a fixar amarras.


Entre sereias e Marias fui sempre Tritão pelas auroras de meu Mar. O que fazer se nasci assim, um tanto curumim, outro tanto, velha alma carmim. Antigo senhor que se pensava dono de seus dons a esporear o Tempo, açoitando meu Destino aos quatro ventos. Faca nos dentes, arrebentando o que vinha pela frente. Até descobrir o que são a paixão e a morte, eternas companheiras nesse ínterim chamado Vida, pois de rede branca, cachorro latindo me esperando, nunca soube eu o que era varanda arrodeada de beirais e flores.


Na verdade sempre fui verde menino e remoto senhor a caminhar sobre as brasas de corações femininos; uns ferinos outros especialmente felinos. E fui gastando meu precioso Tempo e o valioso Tempo de outros entes queridos(?) de uma forma tal que o que me restou foi o absolutamente nada, um certo carma, nirvana, por fim, a qualquer instante me bater à porta, a me dizer: - vamos lá, chegou tua hora.


Um gosto de cânhamo habita-me a língua e a boca, trazendo-me a certeza única que morrer não dói tanto quanto se estar vivo e inativo, já que só o que restou desse que bate no peito como alento lembranças; e lembranças são como cultivar ventos, tempestades, temporais e escassezes.


Entram dias e saem dias sem nada do que previ aconteça. Estarei já eu morto vivendo no tal purgatório dos suicidas? Será que simplesmente já fui e naturalmente não sei disso, ou estou mesmo louco vendo o porvir sem nada poder fazer? Perguntas! Para que servem tais substantivos femininos interrogativos, se o coração feminino já é um interrogatório sem defesa de causa?! Ah! As mulheres, entes, jeans, flores de jardins. Como foi bom dividir-me entre vocês nessas décadas a caminhar sem tréguas nos campos da guerra-vida. Perdi muitas batalhas e fui vencedor em tantas outras que se me chegasse a hora agora, diria eu àquela que sempre chega silenciosa, diáfana e medonha a sentar-se à beira de um lugar qualquer para nos esperar com a paciência de sempre: – Leva-me, então, pois se vim a esse Mundo para coabitar-te frente a frente, cabeça a cabeça, desta vez tu perdeste mais que eu, maldita e infinita Morte!


Sobre o Autor:

Túlio Monteiro – Escritor, biógrafo, historiador e crítico literário. Graduado em Letras pela Universidade Federal do Ceará – UFC. Grau de Especialização em Literatura e Investigação Literária, também pela Universidade Federal do Ceará  –  UFC, com a monografia: Intertextualidade e Fluxo da Consciência na Obra de Graciliano Ramos.

Membro efetivo da Academia Internacional de Literatura Brasileira - AILB - Cadeira de número 246 - Com sede em Nova York -  Estados Unidos da América