A GENTE NO LUGAR DE EU, NÓS, SE, NINGUÉM
ETC.
Efeito
Síncrono-Diacrônico, Desleixo Elocutório ou Emprego Inocente?*
Vianney
Mesquita**
A língua é uma cidade para cuja construção cada ente humano
contribuiu com uma pedra. (EMERSON, Ralph Waldo). (1985-v2, p. 295).
RESUMO. Procura-se demonstrar
e critica-se a aplicação fenomenicamente exagerada, no Brasil, em todos os
quadrantes de fala e nalguns de escrita, do sestro frasal A Gente, fora de sua acepção coloquial. Em pesquisa direta, foram
eleitos e ouvidos, em uma capital de Estado do NE brasileiro (março-2017), quatro
grupos mensageiros de propagação coletiva – uma emissora de rádio comercial e
uma radiodifusora acadêmica, duas de TV, sendo uma de Universidade, acessados
por via eletrônica; e, em Fortaleza-CE, uma homilia de Missa da Igreja Católica
Romana. Em 131 minutos de audiência dos segmentos investigados, detectaram-se
90 emissões de A Gente, das quais 81 com aplicação incorreta e poucos
substitutivos do conjunto vocabular sob exame - Eu, Nós Se e Ninguém - ressaltando-se o fato de a emissora radiofônica universitária
não haver emitido, uma vez só, a dição ora estudada com o aguardado e
necessário apuro. Restaram investigadas as possíveis razões dessa assiduidade
elocutória, superabundante e maléfica, com probabilidade de assento em efeito sincrônico-diacrônico
(antes do experimento efetivado) e/ou incúria e ingenuidade idiomática.
Concluiu-se pelo absoluto descuido em relação às regras da Língua Portuguesa,
nomeadamente na ambiência culta e nos veículos para difusão maciça, levemente amortecido pela inocência dos
falantes/escreventes, por míngua de escolaridade. Não há, também, tirante
melhor juízo, efeito sincrônico-diacrônico, mas mero desatendimento às normas
específicas.
Palavras-chave:
A Gente; Língua Portuguesa; Exagero
Elocutório; Sincronia-Diacronia; Emprego Ingênuo.
Key-words: Us;
(We; The Persons); Portuguese Language; Eloquent Exaggeration;
Synchrony-Diacrony; Naive Aplication.
*A fim
de demonstrar a desrazão do costume sobrante e antiestético, até mesmo com
vistas a lhe evidenciar a desnecessidade, não se recorreu, em nenhuma ocasião
deste ensaio, ao termo QUE em qualquer uma de suas taxinomias como classe de
palavra.
SUMÁRIO.
1. Notações Introdutórias. 2. Ingenuidade na Proposição de A Gente; 3. Produto das Audiências. 4. Empregos de A Gente; 5. Sincronia-Diacronia; 6.
Negligência e Impropriedade na Exposição Ideativa. 7. À Maneira de
Encerramento. Referências Bibliográficas.
1 NOTAÇÕES
INTRODUTÓRIAS
Diversamente de outras investigações,
sujeitas por correta orientação da Metodologia Científica às regras desta
porção do saber preceituado, este experimento esgueira-se um pouco dos compreendimentos
de tal ordenação (MARTINHO RODRIGUES, 2007), ao trazer, antes mesmo das
discussões alusivas ao temário debatido, os resultados de uma demanda pessoal, reservada
e de moção própria, portanto, deseixada de exigência universitária,
tampouco efetivada, em atendimento remunerado, a uma contratação de serviço por
parte de alguém.
A
decisão de ao texto aportar, como de bate-pronto, os indicadores resultantes de
uma audição de cinco segmentos, expostos a algumas linhas descendentes e próximas
daqui, decorre da facilidade ofertada pela sua exposição antecipada de versar
sobre assuntos de grande proveito para a Língua Portuguesa. Estes têm marcha na
afixação inadequada e viciosa de palavras desconfiguradas de intenção
denotativa e locuções esdrúxulas, nos momentos propícios dos discursos vocal e
escrito, neste passo, peculiarizando o aproveitamento impróprio e corrompido –
reexprime-se – da dição A Gente, sem
prejuízo, todavia, das menções a variadas extravagâncias e idiotismos temporários
insculpidos nos repertórios contemporâneos.
Fere-se
a sua temática, trazendo-se o propósito inaugural configurado em dinamismo, no prisma de sua conformação
expressiva no Português, a qual descansa na conjunção de energias a animarem o ser
humano, sendo característica daquele ou daquilo forte, viril, ativo, diligente
e vital, passível de empreender mudanças pro
rata tempore, no entanto, sem o ferrete do vício nem a mácula da
desobediência aos ditames linguísticos.
Figurativamente, em mediato sentido, a
concepção repousa no comportamento de pessoas dotadas de espírito empreendedor,
portadoras de força, vontade e poder de ação, como, exempli gratia, acontece com as ações ordinariamente dinâmicas das
grandes potências estatais, receptoras dessas qualidades advindas dos próprios
compatrícios, solidificadores dos seus status
como nações de porte supremo.
Ato continuo, ajusta-se a ideia, esta vinculada
à Filosofia, de reflexão adequada a certos sistemas argumentativos, fazendo
afluir o “movimento, a impermanência ou o devir como a realidade originária do
universo, fonte criadora e princípio explicativo da matéria” (HOUAISS; SALLES
VILLAR, 2005:1043), bem assim de tudo a se achegar à imobilidade.
Desse jeito, valendo-se da significação oferecida
por dinamismo, intenta-se denotar a
noção de o sistema glotológico lusitano, cujos falantes estão em dez países,
experimentar as transformações temporais divisadas pelos linguistas, insertas
nas depreensões de sincronia-diacronia, mais à frente tocadas de
leve, como, verbi gratia, parece
acontecer com o termo estranja,
localizado da segunda linha do sétimo parágrafo da unidade 5 - SINCRONIA-DIACRONIA
- ali invitado, pensadamente, para trazer à colação, pois já não mais
ortografado na linguagem atual, ou, se o é, tal inscrição hoje se afigura pouco
comum, por haver sido, talvez, esse vocábulo deslembrado pelo fenômeno síncrono/diacrônico,
na acepção de estrangeiro.
Aproveita informar, por ter asado pretexto,
os países onde o Português é falado como língua geral, salvante os territórios
de Macau (China) e Goa (Índia), onde se o pratica, entretanto sem o estatuto de
código oficial de exercício universal: Portugal, Guiné-Bissau, Angola, Cabo
Verde, Brasil, Timor Leste, São Tomé e Príncipe e Guiné Equatorial.
Outro giro conducente desta experimentação, subseguido
à movimentação espaçotemporal a presidir as atividades vitais do bípede pensante (FERNANDES, 1999), são as diuturnas forças modificadoras
do status quo ante, atinentes à
negligência operada contra a Língua Portuguesa por parte de setores da
sociedade, em especial a de naturalidade brasílica.
Ligada
ao caso sob escólio, esta é uma ocorrência adulterina redutora de seu vigor, como
o registrado no pé bilaquiano relativo à tuba
de alto clangor, lira singela (MURICI,1946), respeitável organização
semiológica oriunda de matrizes lácicas, com misturas adventícias arábicas,
anglo-saxônicas, germânicas, orientais e de outras e muitas procedências, em
razão de contingências históricas ligadas ao transato de Portugal como antiga
nação dominadora, com atuação em várias partes do Mundo, desde as supernavegações
e aquisições territoriais de enorme significação, para subsequente rebatimento
no Brasil, um de seus últimos grandes locus
de conquista.
Impõe-se, por apropriado, reportar-se ao
influxo linguístico, impresso no vocabulário ortográfico da Língua Portuguesa
(VOLP) no Brasil, demarcado pelos movimentos imigratórios – incluindo,
evidentemente, as recepções latinas (italianos, espanhóis, franceses et reliqua) - de árabes, japoneses,
chineses, coreanos, alemães, escandinavos, turcos, sírios, palestinos,
africanos em geral, filipinos e de tantas outras procedências, assentadas, em
número mais considerável, no Estado de São Paulo e nas três unidades federadas
da Região Sul (Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul).
Entende-se, ainda, ser preciso fazer referência
(pois subterfúgios bastantes para deslustrar a Flor do Lácio) às tolices e invenções desarrazoadas da Rede Mundial
de Computadores, às quais o intelectual coestaduano Ítalo Gurgel (GURGEL, 2016)
chamou, em publicação recente, O
Lero-lero da Internet.
Ali o autor aludiu, em alteado domínio de
exame, aos estrangeirismos – uns aceitos, pois recepcionáveis pelo Português,
por não haver marcação lexicográfica da substância admitida, enquanto outros merecem
reprovação, vedando-se seu exercício, por efeito dos malefícios passíveis de
trazer dano à notável codificação glossológica lusitânica. A propósito, na
atualidade, esta acontece de ser bem desrespeitada no âmago de suas
prescrições, com censurável irresponsabilidade (e esta resulta grave e
vergonhosa), no recinto de universidades e institutos de planeamento literário
e científico nacionais, nos meios brasileiros de propagação coletiva, como jornal,
rádio, televisão, magazines e outros suportes de comunicação maciça,
concorrendo, efetivamente, para subtrair a retidão e a plasticidade de um
sistema de expressão lingual tão bem aprestado.
Efetivamente, um dos juízos a pretender
conformar os motivos condutores deste relato de pesquisa pausa na circunstância
de as pessoas aplicarem vozes e expressões equívocas e inadequadas, com inexata
acepção verbal, deslizes na aposição de regras, como imposição de plurais, escorregos
de regência verbo-nominal e concordância adjetiva e substantiva, colocação pronominal
e toda sorte de desacertos, por negligência e falta de empenho para exercitar esmeradamente
as normatizações da Língua e as orientações de elocução, harmonizando, pois,
regra, estilo e razões argumentativas.
Por efetivo, esta sondagem diligencia no
senso de fazer evidente a existência de um sem-número de escorregos por demais
toscos praticados a desfavor do sistema discursivo vocal e redacional da
Professora Doutora Ana Paula Medeiros (Academia Cearense da Língua Portuguesa),
significativo da insuficiente prontidão perceptiva de quem os comete, intenção
esta acolitada pela indicação da desconveniência de exercê-los. Segundo
adiantado há pouco, a inquisição radica na ouvida de circunstantes de cinco
ambientes de trato transmissor oral para audiência coletiva, no tentame de se
confirmar o suposto de aplicação, generalizada e quase totalmente estropiada,
do moto principal deste escrito conformado na conjunção do artigo-substantivo A Gente.
Em continuidade, desenvolver-se-ão notações
relativas ao assinalamento inocente do idioma, eo ipso, por pessoas desprovidas de aviamentos intelectivos formais,
maiormente a respeito do uso, à revelia da ambiência corretiva, sítio de
utilização restrita da dição objeto de exame.
2 INGENUIDADE NA
PROPOSIÇÃO DE A GENTE
Tocado de leve este argumento no preâmbulo
da corrente notação, exibe-se relevante sua abordagem, hajam vistas a imensa
conjunção de pessoas sem a escolaridade à altura de realizar a cisão do falso
em contraposição ao verdadeiro, pretexto de peso para o sucedimento das bobices
e dislates de oralidade e verbalização em texto, transportados para a
configuração gráfica.
Muita vez, a pletora de cabeçadas verbais
(da qual é parte A Gente, apontada multiplicadamente
neste artigo, se verifica sob a mais absoluta e perdoável inocência de quem as
perpetra, pois à míngua de informações escolares e à insuficiência da
autodidaxia doméstica. Isto, sem embaraço, dimana da persistência, no País, do elevado
indicador de analfabetismo (isto é, de pessoas desprovidas do mínimo de
prontidão para ler, escrever e contar), quando confrontado aos Estados de igual
perfil de Nação, ora no perpasse de uma crise moral sem antecedentes (2017),
com reverberação, principalmente, nas searas da Educação e da Saúde.
Aqueles responsáveis por essa conjunção de
procedimentos estão fora das universidades, não atuam nos meios de propagação
massiva, tampouco nas escolas elementares e secundárias, nem nas igrejas de
quaisquer confissões, muito menos na literatura. Por isso passam ao largo da
presumida reprimenda insertada nesta matéria, até porque os retrocitados
procederes têm curso, via de regra, nas conversas informais, de contorno grupal
e familiar, exatamente como aparece miudamente aproveitado o padrão ideacional
contido em A Gente, a recepcionar a
conceição de ingenuidade linguística argumentada no parágrafo imediatamente
anterior.
De
consonância com os conceitos emitidos a tal respeito, postados nas
considerações de fechamento do corrente escrito, as noções ínsitas a dinamismo,
desleixo e utilização inocente podem ou não figurar como justificação para a
usança inadequada, nos discursos verbais, tanto orais como escritos, de A
Gente, quase eliminando o Se e reduzindo o Eu, o
Nós e o Ninguém, outras reservas
nas manifestações expressadas em condutores de informes plurais – rádio,
televisão, revistas, jornais, folhas virtuais – palestras científicas,
respostas a questionários, homilias católicas e de outros credos, discursos
políticos, trechos de falas em novelas e entrevistas etc. Tal desiderato de
influência está reservado ao módulo das Considerações Finais, onde são trazidos
os arrazoamentos a rematarem as alegações de ordem geral exibidos no transcurso
de todo este caderno.
Jungida
ao arquétipo do vocábulo dinamismo, tenciona-se,
também, fomentar um lábil exame da sincronia-diacronia, em seus aspectos
históricos e autorais, sem a presunção de fazer conchegar aditamento algum de inovação
ao assunto, até pela grande possibilidade de a atuação síncrono-diacrônica não
influir para a constante aparição de incorreções tão teimosas quanto
desregradas, conforme assenta na sucedida com A Gente.
Na sucessão, proceder-se-á,
nos moldes metodológicos de uma perquisição simples, bibliográfica (GIL, 2008)
e com audiência direta, sem intuito universitário e de vontade espontânea do
investigador, ao exame dos motivos de uso, repetidamente abusivo, da unidade
ideativa A Gente, exprimindo o agenciador indeterminado, como
equivalente a Eu, Nós, Se, Nós, Ninguém et coetera, em todos os quadrantes de fala
e, não só, também de acordo com o manifesto em uma de suas significações nas
obras lexicográficas, numa contextura verbal somente de âmbito familial, conforme o exemplo trazido por esta
vertente: A Gente não o lia, porque não
tínhamos vagar (PRADO E SILVA;
LOURENÇO FILHO; MARINS, 1979).
3 PRODUTO DAS
AUDIÊNCIAS
Visando a materializar o objetivo deste
escrito, assentado em demonstrar o exercício equívoco e reiterado dos pontos
ideacionais sob glosa, já se encaminham os resultados de uma busca pessoal,
recolhida somente em cinco audições de matéria oral, conforme explicado à
frente, com o total de vezes dos termos emitidos, em locais distintos, quatro
numa capital estadual nordestina e apenas uma em Fortaleza- CE, em uma igreja
de confissão Católica, Apostólica e Romana.
Importa fazer remissão ao fato de terem sido
inclusos na demanda os referenciais básicos da Bioética, expressos em
autonomia, não-maleficência, beneficência, justiça e equidade, nos termos da
Resolução número 466/2012, do Conselho Nacional de Saúde – MS-Brasil
(BRASIL-MS-CNS, 2012), atualizando a de número 196/96.
Consolidou-se a audição de 131 minutos, com A Gente empregada em 90 oportunidades, sendo três usos no âmbito preconizado pelos
regramentos da Língua Portuguesa – nos dez minutos de jornal radiofônico, em
entrevistas com pessoas do povo do subúrbio, de escolaridade mínima depreendida,
a respeito de segurança nos bairros da capital sob arguição.
Em
acréscimo, seis também restaram certas, apreendidas em dois grupos de sujeitos,
não cabendo indicar os exemplos, porquanto está implícita a contextura do
recesso pessoal e da contingência de fala em colóquio, duas no programa
científico da rádio acadêmica e quatro na homilia da Missa católica, perfazendo
nove, como pode ser divisado no Quadro, localizado posteriormente.
Eis expressas três respostas certas, com
exclusividade, para o programa de radiofusão jornalística (nove foram as emissões
corretas):
- “A
Gente fica preso e os marginal solto”. (Assim);
- “A Polícia, envés de proteger A Gente, dá é uma de bandido”. (Assim).
E
- “No
bairro do J., é todo tempo os menor butano a faca no pescoço da gente”. (Assim).
Dita procura envolveu,
como pode ser visto na ilustração a seguir, os prazos, sujeitos e número de
ocorrências da dição A Gente:
a)
dez
minutos de um jornal radiofônico – 14 ensejos;
b)
20
minutos de um telejornal – 13 registos (12 repetições);
c)
30
minutos de um programa de variedades do ensino, pesquisa e extensão de uma TV universitária
– proferida 22 vezes;
d)
60
minutos de um programa científico-acadêmico, numa estação de rádio
universitária – 19 marcações (18 reiterações); e
e)
11
minutos da homilia de uma Missa da Igreja Católica, Apostólica e Romana – 22
ocorrências.
Verificaram-se, com apontamentos no Diário
de Campo, as audiências, respectivamente, nos dias a-18, b-19, c-21, d-17 e e-22
de março de 2017.
Os indicativos do experimento estão
consolidados no Quadro sequente.
Audiência
do Emprego de A Gente em Cinco
Segmentos de Fala
Março
de 2017
SEGMENTO
|
TEMPO
|
TOTAL EMISSÕES
|
APLICAÇÕES
|
OUTRAS APLICAÇÕES
CORRETAS
|
CORRETAS
|
INCORRETAS
|
EU
|
NÓS
|
SE
|
NINGUÉM
|
Jornal
Radiofônico
|
10 min
|
14
|
03
|
11
|
-
|
-
|
-
|
-
|
Telejornal
|
20 min
|
13
|
-
|
13
|
01
|
-
|
02
|
-
|
TV
Universitária
|
30 min
|
22
|
-
|
22
|
02
|
07
|
-
|
-
|
Rádio
Acadêmica
|
60 min
|
19
|
02
|
17
|
-
|
28
|
07
|
-
|
Homilia
(Missa)
|
11 min
|
22
|
04
|
18
|
02
|
08
|
03
|
06
|
T O T A L
|
131 min
|
90
|
09
|
81
|
05
|
43
|
12
|
06
|
Fonte: Elaboração
própria. Dados da Pesquisa.
Conforme
se inferiu dos indicadores extraídos dos 90 registos ocorridos nos 131min das
cinco audiências, 81 utilizações de A
Gente sobejaram ao largo da prescrição das regras, ao determinarem o
emprego, privativamente, no círculo familiar, em apontamento na ilustração,
sobrando apenas nove sucessos de uso certo.
De relevância capital, bem se analisa, é o
ato de se envolverem programações de duas emissoras de tv e duas de rádio -
quatro programas - sendo dois televisivos e dois radiofônicos, dois de perfil
científico (um de rádio e um de televisão), inclusivamente na seara de elevados
estudos, como mestrados e doutorados, enquanto o outro par, de radiofusão e tv
difusora, de teor jornalístico, na contextura dos quais também é requerida correção
de linguagem, no circuito da manifestação à grande audiência, dentro dos
preceitos técnicos para emissão e recepção de matéria com perfil comunicacional
de escopo universal.
Impõe-se relatar, por oportuno e
relativamente necessário, a ausência, dos discursos do emitente radiofônico não
universitário, de Eu, Nós, Se e Ninguém para
substituir A Gente no decurso dos
dez minutos de sua edição, auscultada pela minipesquisa, pois a preferência, em
cem por cento dos casos, foi por A Gente
(14 ocorrências), três havidas
como corretas (falas de entrevistados) e 11 incorretas (discurso do locutor,
reproduzindo o redator).
Entrementes, no telejornal, além das 12
reproduções (isto é, 13 ocasiões, todas defeituosas), a recepção foi de apenas
um Eu e dois Ses, sem registro de Ninguém, tampouco de Nós, enquanto no programa televisivo
universitário, transpondo o A Gente
(22, todas com aplicação equívoca), verificaram-se o Eu em duas passagens, o Nós em
sete, sem, contudo, suceder marca de Se,
muito menos de Ninguém.
Na rádio acadêmica, na audiência anotada, não
houve Eu, mas aconteceram os
substitutivos Nós em 28 passagens e Se
em sete, entre 19 A Gente (duas
corretas e 17 erradas) e nada do substituto Ninguém.
Com pertinência à prédica religiosa, esta
foi discorrida por um sacerdote católico, de elevada formação intelectual e
indiscutível preparo teológico, dotado de esmerada habilidade retórica - sucessos,
aliás, já não corriqueiros na atualidade, em relação à clerezia católico-romana.
Dirigiu-se a uma audiência qualificada sob o
espectro da instrução formal, todavia sem a observância dos ditames destinados
às transmissões verbais (orais e grafadas) para uma oitiva de fiéis de igual
confissão, porém, desconhecidos entre si, tal qual se cuidasse de uma aula
magna com centenas de assistentes, estado requisitante dos bona da norma culta, a igual dos projetos informativo/científicos
das viaturas de informação comunitária, feitos o rádio e a televisão.
De tal maneira, todas as ocorrências de A Gente, além de pronunciadas duas
vezes por minuto (em 11min, 22 frequências), resultaram desobedientes às
determinações do discurso no qual há de ser manifesta a Língua Portuguesa,
como, certamente, na ocasião descrita. Foram observados, entretanto, dois
aparecimentos de Eu, oito de Nós, três de Se e seis de Ninguém (os
quais bem poderiam haver substituído A
Gente), no concertamento, contudo, de 11 minutos em exposição clara,
perfeitamente decodificável, vazada em português escorreito, disposta –
repete-se – com requinte oratório pouco comum hoje, em dia, nas práticas sacerdotais
católico-tridentinas.
Esta
míni investigação, sob o ponto de visão metodológico, resulta em demanda direta
de audiência por via de observação pessoal, quantiqualitativa e (repete-se) de
escolha voluntária do ensaísta e sem propósito acadêmico, também arrimada em
consultas livrescas, mormente dicionários e gramáticas, por motivações óbvias.
4
EMPREGOS DE A GENTE
Quantas vezes A
Gente, em busca da ventura
Procede
tal e qual o avozinho infeliz:
Em
vão, por toda parte os óculos procura
Tendo-os
na ponta do nariz.
(MÁRIO de Miranda QUINTANA.
Alegrete, 30 de julho de 1906. Porto Alegre, 05 de maio de 1994). (DELLA NINA, 1985).
Como divisado na diligência investigativa
direta apontada no segmento propedêutico destes comentos, diga-se, sem tenção
maior, na audiência a cinco procedências procuradas pela pesquisa, em 131
minutos de oitiva, A Gente sobrou
revelada em 90 anotações, das quais apenas nove podem, com rigor, ser apostas
nas estremas do aceitável de praxe correta, pois inseridas no pressuposto
anotado linhas adiante, origem acreditada na literatura atinente ao tema, o Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa.
São Paulo: Melhoramentos, 1979, malgrado perfazer 38 anos de sua editoração,
faixa insuficiente, salvante melhor raciocínio, para ser acertado pelos
tentáculos da taxionomia saussureana - sincronia-diacronia.
Fenômenos de extraordinária, malsã e ligeira
manifestação, as excentricidades elocutórias são teimosas e abrangentes na sua
capacidade de compreender a massa, de tomá-la como parceira, em cada estrato
comunitário, não importando o patamar cultural onde a audiência está assente.
Eis o motivo pelo qual A Gente, agora sob exame, parece ser a mais influente e prestigiosa
força linguageira em atuação, pelo menos na observação autoral ora explícita,
e, sobretudo, se transposta através dos meios para transferência massiva a uma multidão
disposta e receptiva, em tese, à absorção de seus teores, pois nesses media deposita crença quase inabalável.
Sem
tir-te nem guar-te, tampouco acanhamento de se confessar, embora provido todo o
cuidado, uma vez por outra, se descobre enredado nessa trama aracnídea
envolvente e possante, da qual, inadvertidamente se utiliza (somente nos
ensejos de fala), enquanto se a rejeita e desaconselha, por estar A Gente avessa, na maioria dos casos,
aos cânones linguísticos, aos quais estão sujeitos os produtores de escritos - acadêmicos,
em específico.
Apanha-se, ab initio, no clássico Dicionário
Escolar Latino-Português, do lexicólogo, docente de Latim e filólogo
carioca Ernesto Faria Junior (Rio de Janeiro, 23.05.1906; 14.03.1962), o
sequente extrato:
Gens, -is, subs. F.1 – Sent. Próprio: 1 Gente (conjunto de pessoas [as quais] pelos varões se ligam a um antepassado comum,
varão e livre) (T. Liv. 38, 58, 2). II = Daí, por
extensão: 2) Família, descendência, raça (Sal. B. Jug. 95, 3). 3) Povo, nação
(Cíc. Rep.3, 7). III – Sent. Poético:
4) Descendente, filho (Verg. En. 10, 228). No pl. gentes, - Ium, subs. F. pl.: 5) As nações
estrangeiras (em oposição aos romanos (Tac. Germ.
33). (1994, p. 239).
Já no Dicionário
Houaiss da Língua Portuguesa (HOUAISS; SALLES VILLAR, p.1443), as
informações resultam mais explícitas, com maiores opções de sentidos, conforme
vêm. São trazidas, porém, tão-só, algumas significações, até incluir aquela de
ordem coloquial, justificativa de A
Gente aposta licitamente sob a
visão do ordenamento lexicográfico (a derradeira acepção, sublinhada).
Gente
s.f. (s XIII ch. Fich. VPM) 1multidão
de pessoas; povo (toda aquela gente aguarda atendimento há três horas) 2 os habitantes de uma região, país
etc; povo (a gente da roça) (a gente
brasileira) 3 o gênero humano, a
humanidade 4 número indeterminado de
pessoas (havia pouca gente no comício)
(tem gente em casa?) 5 B
grupo de pessoas [com] o mesmo perfil, interesses, profissão etc. (aquela gente era muito alternativa para o seu gosto (A gente do mundo empresarial) 6 a família (a minha gente foi passar fora o fim de semana) [...] [...] 10 MIL força armada [...] a.
g. 1 a pessoa [a falar]; eu 2
a pessoa [a falar] em nome de si própria e de outro (s); nós (a gente resolveu se mudar para o campo.[...].
[...]. (Sublinhou-se).
O Dicionário
(há momentos prefalado), entre outros entendimentos, também destaca o extremo
terminal imposto no fragmento citado – interrompido com reticências - na
acepção 10 do excerto imediatamente acima, todavia, chamando o leitor a tomar
tento para a indispensabilidade do contexto privativo, com vistas a se empregar
A Gente, porquanto, [...] Na linguagem familiar, precedido do artigo a, exprime o agente indeterminado, equivalendo a se, nós etc., conforme
está, neste comenos, na sentença reeditada: “A Gente (com realce) não os lia porque não tínhamos vagar”.
Por consequência, exclusivamente em tal
condição, resta admitida a locução A
Gente, de molde a esta sobrar defesa aos falantes e escrevedores
desvestidos desta determinação normativa, segundo são os casos de professores,
produtores de conhecimento mediante obras editadas, jornalistas e agenciadores
de informação ao mundo da coletividade.
Em época nenhuma, foi tão solta, exageradamente
desobedecida e desobrigada, a normatização exigível de um idioma, como a
ocorrente na quadra fluente com o Português do Brasil, afastando-o da “normal”
de linguagem culta, em decorrência de toda uma conjunção de nódoas procedentes
dos mais disparatados cacoetes, de todas as nações de erros imagináveis, alguns
dos quais aqui se prestaram como exemplo dos ditos destrambelhos. Estes,
seguramente, caso prosperem com a robustez ora ensaiada, subtrairão, em futuro
mais remoto, ou até em futuro bem acostado, a riqueza, a limpidez e o fulgor de
uma língua opulenta, naturalmente esmerada na sua plasticidade e favorecida de
uma impressionante polissemia, oferente de ilimitadas possibilidades de
composição em todos os gêneros.
Com a palavra os mentores e adeptos de sua
admirável estesia – os silogeus de língua, cultura e arte – para não deixarem
tombar paulatinamente, ex-vi de tão
inadvertidos enteados, esta gigantesca, velha e operosa sequoia, na qual [...] Camões chorou no exílio amargo o gênio sem
ventura e o amor sem brilho.
5 SINCRONIA-DIACRONIA
Com o centenário de publicação, ocorrido em
2016, da obra póstuma Course de
Linguistique Génerale, subscrito pelo estudioso suíço Ferdinand de Saussure
(Genebra, 26.11.1857; Morges, 22.12.1913), organizado por pupilos seus
(indicados adiante), também fez centúria o ramalho de saber ordenado, a
Linguística, cuja continuidade científica foi operada por esse intelectual
helvético, hoje com milhares de seguidores em diversas partes do Mundo, no
Ocidente e Oriente.
Em especial, isto sucedeu em virtude da
edição do mencionado compêndio, à luz editorial de ex-alunos, arrimados em
apontamentos de aula, após três anos do passamento de seu principal, e, hoje,
conquanto todo esse lapso transcorrido, se reserva como a publicação mais
importante da área, uma espécie de “Monumento às Ciências Humanas”.
Essa
produção, editada em muitas línguas e sucessivas edições e reimpressões, veio a
público sob a organização de Charles Bally e Albert Sechehaye, com a
colaboração de Albert Riedlinger, e representa um paradigma desta seara
sistematizada do conhecimento, ainda ensaiando posição no concerto das ciências
semióticas, como seu mais relevante esgalho. Essa procura pela posição
definitiva - impõe-se exprimir - acontece no âmbito da normalidade, haja vista
o curto período de desenvolvimento científico desde Saussure (cem anos), faixa de
duração inepta para o assento e estabelecimento sistematizado e definitivo de
um conjunto de saberes.
A Linguística, decerto, representa o ramo
mais preeminente da Semiologia, a Teoria Geral das Representações, a qual
inclui os signos sob a totalidade de configurações por estes assumidas, imprimindo
ênfase, especificamente, na propriedade de conversão mútua entre os sistemas
significantes.
Tem por objeto: i) a linguagem do ser
humano, no concernente aos modos fonético, sintático, semântico, morfológico,
psicológico e social; ii) as línguas havidas como estruturas; iii) procedência
e evolução das línguas; e iv) as taxionomias em grupos, conforme a estrutura ou
de acordo com as famílias, segundo o critério – tipológico ou genético.
(SAUSSURE et alii, 2006).
Este ramo da ordenação científica
experimenta diversas subdivisões, como, e.g.,
Aplicada, Comparada, Chomskyana, Funcional, Gerativo-Transformacional, Geral, Funcional,
Histórica – dentre outras – particularizando-se, no caso deste miúdo
experimento, a classificação da Sincronia-Diacronia, à qual serão dirigidas as
ligeiríssimas referências deste mero empenho investigativo, porquanto as
fragmentações taxinômicas susoditas deixam de ser objeto de exame aqui, por não
refletirem os proveitos esperados da minipesquisa então relatoriada.
Na inteligência repetida de autores a
mancheias, tanto do Brasil quanto da estranja
(aplicação propositada, pois muito pouco vista no ecúmeno de escrita da
Língua Portuguesa), tendo sempre por lastro deduções originárias do Linguista
genebrino, à Linguística de feição diacrônica compete descrever uma língua ou
um segmento desta, incluindo as transformações por via das quais transitou, incorporando
tais mudanças ao uso do código estudado no instante de aproveitamento corrente
(IBIDEM).
Isto
tem curso, também, conforme repisado até o momento, com o Idioma Lusitano,
motivo pelo qual, neste passo, a tenção é sugerir se o exercício exagerado de A
Gente decorre (certamente, disto
não deflui), nos escritos e na oralidade brasileiros de hoje, do dinamismo oferecido pela sincronia-diacronia indigitadas por Saussure e seus seguidores na publicação,
editada por primeiro e em impressão crítica preparada por Louis-Jean Calvet
para as Edições Payot (Paris, julho-1916).
Nesse mister, a diacronia é opósita a
sincronia, uma das chamadas Dicotomias
Saussureanas, conforme ocorrem de
ser, também, como definido pelo Semiólogo genebrino, outras bifurcações,
mencionadas logo à frente. No seu compêndio post
mortem, aqui multicitado, o Autor não
emprega a unidade nocional dicotomia,
de étimo heleno, representativa de “repartido igualmente”. Há, porém, oito
compreensões para substanciar as percepções saussureanas, configurados em
Diacronia-Sincronia, Língua-Fala, Significante-Significado e Paradigma-Sintagma,
dos quais somente são adiante comentados Diacronia-Sincronia e Língua-Fala.
Ratifica-se, a modo de informação complementar
ao leitor, confirmatória da lembrança armazenada desta verdade e ora repescada
em nascente credora de fé (LELLO & LELLO, 1993), a notícia de o surgimento
da Ciência Linguística se haver dado no apagar do século XVIII, com a
descoberta do sânscrito (significa perfeito),
antiga língua dos Brâmanes, ainda hoje a verbalização do primitivo Indostão. De
efeito, não foi Ferdinand de Saussure seu principal, consoante restará
suplementado.
Anteriormente a
Ferdinand de Saussure, era empregado o método histórico-comparativo, ao qual
ele deu o nome diacronia. O exame
diacrônico ocupa-se das transformações impostas à língua ao compasso do total
durável, enquanto a sincronia examina os códigos glotológicos em certo período.
Com amparo no par dicotômico diacronia-sincronia, o Neogramático genebrês
delimitou a diferença entre fatos sincrônicos e diacrônicos. No caso, os
primeiros demarcam ciclo de regularidade linguística e, no mesmo passo, o evento
diacrônico perfaz o conjunto sucessivo do fenômeno sincrônico.
Outra lição originária do Linguista suíço de
Genebra dormita nas ideações de langue e parole (a dicotomia língua-fala), pois, para
ele, a língua é de comunidade, oposta a fala, de caráter individual.
Entrementes, a langue é sistemática,
estruturada signicamente, tal não ocorrendo com a parole, como já expresso, de aspecto particular. A língua,
contrariamente, representa um indicador social e a pessoa se utiliza dela para
operar a fala, podendo uma ser estudada separadamente da outra.
Como passada complementária - e pede-se até
escusa pelos parênteses - no entanto, não é de todo ocioso participar ao
contingente ledor o informe de a região do sul asiático antes mencionada, o
Indostão, atualmente, coincidir com os Estados – todos independizados – de
Índia (Capital Nova Delhi), Paquistão (Islamabad), Bangladesh (Daca) e Butão
(Timfu), bem como os arquipélagos-entes estatais soberanos de Sri-Lanka [antigo
Ceilão, a antiquíssima Taprobana) capitais Colombo (executiva) e Kotte
(administrativa e legislativa)] e Maldivas ( capital:Male).
No retorno do fio à meada, e sem a aspiração
descabida de desenvolver um epocal enredo da Ciência do especialista Avram Noam
Chomsky (East Oak Lake, 07.12.1928 – 89 anos), o Pai da Linguística Moderna,
evidenciam-se no seu escorço historial, indicado na fonte imediatamente acima referenciada
e da qual se procedeu à leitura livre e com muitos acréscimos, três conjunturas:
1 foi revelado o nome de Franz Bopp, docente
de Filologia e Sânscrito da Universidade de Berlim [Mogúncia (ou Mainz), 1791;
Berlim, 1867], compositor da primeira gramática comparada das codificações indo-europeias.
Representa o intervalo indicativo de criação dessa vertente do saber ordenado;
2 reconheceu-se a figura de August
Schleicher, teólogo, filósofo e linguista oriental, doutor em Linguística pela
Universidade de Bonn (Meningen, 19.01.1821; Iena, 06.12.1868- 47 anos). Escreveu
o Compendium (1861-2), na contextura
do qual cuidou de reconstituir, com relativo sucesso, a língua-mãe ariana ou
indo-europeia. Este foi um período de maior exigência, pois impendia explicar
as distinções linguais depois de verificadas as semelhanças; e,
3 com
efeito, foi a vez de Ferdinand de Saussure, alinhado a outros estudiosos, de
quem se indicam ligeiros traços biográficos e, a modo de remate das notações
respeitantes à Ciência de José Alves Fernandes (Aracoiaba-CE, 21.10.1930;
Fortaleza, 17.05.2012), indigitam-se os
dividendos, até a atualidade, das decisões de ensaios empreendidos por
este pugilo de notáveis compositores, a propagarem por todo o Globo a ainda
centenária e, por isso, novel Ciência dos Signos.
Segue-se, pois, com breves notícias biográficas
e de domínio público, a relação do grupo de neogramáticos da aleia de Ferdinand de Saussure, à disposição, de
a quem convier mencionar, em inumeráveis sítios da Rede Mundial de Computadores
e em produções não virtuais, em suporte de papel, do recheio das boas
bibliotecas.
Henri
Joseph Abel Bergoigne – Vimy, 31 de agosto de 1938; La Grave, 06 de agosto
de 1888. Orientalista francês. Filólogo e tradutor, professor da Universidade
de Sorbonne, especialista em língua e literatura sânscrita.
Hermann
Osthoff – Unna, 18 de abril de 1847; Heidelberg, 7 de maio de 1909. Linguista
e filólogo tudesco, membro da Escola Neogramática, influenciadora do indo-europeísmo.
Pierre
Antoine Louis Havet – Paris, 06 de janeiro de 1849; Rochecorbon, 26 de janeiro
de 1925. Professor do Colégio de França, latinista e helenista, experto em
poesia grega e latina.
Friedrick
Karl Brugmann – Wiesbaden, 16 de março de 1849; Leipzig, 29 de junho de
1919, linguista e neogramático de renome. Escreveu, com Hermann Osthoff, Investigações Morfológicas.
Archibald Henry Sayce – Gloucester (Gloucestershire), 25 de
setembro de 1845; Bath (Somerset), 4 de dezembro de 1933. Este linguista e
neogramático grão-britano foi estudioso da língua assíria e dos hieróglifos
asiáticos. Filologista comparativo e egiptólogo, foi professor de Assiriologia
da Universidade de Oxford-Inglaterra, de 1891 a 1919. Escreveu Gramática Elementar com Silabário Completo e
Livro de Leitura Progressiva da Língua Assíria, mais, entre outros
trabalhos de vulto, a Introdução à
Ciência da Linguagem.
Como resultado dos seus experimentos, foram
estabelecidos alguns princípios, ainda hoje observados, com acréscimos e
algumas subtrações, em virtude da própria sincro-diacronia das línguas, ao modo
de exprimir vindo na sequência.
1 As leis fonéticas são absolutas para
vogais e consoantes.
2 Os casos nos quais as leis fonéticas
parecem não ter explicação sobram clarificados sempre pela ação da analogia.
3 A analogia renova e enriquece as línguas.
4 O Sânscrito não é o representante mais
puro da língua-mãe indo-europeia. (IBIDEM,
v.2, 73).
6 NEGLIGÊNCIA
E IMPROPRIEDADE NA EXPOSIÇÃO IDEATIVA
Há dezenas de anos inserto no ofício de
efetuar revistas de textos acadêmicos, peças literárias e escritos outros
dispostos a publicação, confronta-se superabundante rol de deslizes
gramaticais, sentenças desprovidas de relato coerente, enganos de razão,
redundâncias, aplicações inadequadas das classes gramaticais – seguramente todas, do artigo às interjeições e
locuções interjetivas – e uma junção imensa de invencionices, manias e chavões,
a empanarem a fulgência da Língua Portuguesa.
Esse
ror de registros vocabulares disparatados, em sua maior parte, tem curso na
esfera da Academia, fato lamentável e desabonador da escola elementar e média
do Brasil, a qual, em tese, não aprestou o escolar como deveria, comportou-se
com frouxidão no respeitante à imprescindibilidade da aprendizagem e de sua aplicação
prática, bem assim (des)favoreceu os estudantes terminais com um diploma
corrompido pela falsidade de sua certificação, e inócuo, a não ser do ponto de
vista legal (ilegal), pela broca de uma ministração acadêmica descometida da
indispensável e obrigatória responsabilidade.
Os (des) favorecidos com tal certificado,
porque não logram aprovação no exame vago do ENEM, nem nos concursos
vestibulares das escolas melhores, terminam matriculados nas miríades de
faculdades (“dificuldades”) e programas a distância, instalados em “cada
esquina”, principalmente, das cidades maiores do País.
Armazenam-se centenas de exemplares de “pérolas”
extraídas (concertadas e consertadas durante a revista) de teses de doutorado,
dissertações de mestrado, trabalhos de docência-livre, relatórios de pesquisa,
memoriais para concurso de professor-titular, livros didáticos e peças
assemelhadas, os quais, uma vez reunidos, formariam um volumoso in folio, tal resulta o seu total,
lance, porém, não desanimador da vontade de se oferecer, como protótipos, uma
meia dúzia de modelos tão desconformes.
Além dos teimosos e indefectíveis de repente a (à) nível de, processo,
questão, enquanto (“eu, enquanto pessoa ...) impacto, impactar, transparente,
de ponta, a partir, ferramenta, diferentes isto, diferentes isso, diferentes aquilo,
extratos sociais - este encontrado não apenas três ou quatro vezes
em textos até de sociólogos - e muitas muletas de cabeça dura e desparafusadas
do discurso verbal, ainda persistem, no Ceará (Estado onde se atua), bem menos,
em virtude da ação dos revisores, alguns dos quais excessivamente exigentes e
até demasiado cáusticos.
Alguns desavisados entendem essa função
desacertada como significativa de status,
pois denotativos de estarem em contato estreito com a lexicografia praticada
pela Academia – e nos grandes centros – em dia com a linguagem exercida em
universidades e institutos de pesquisa.
Como se não fosse suficiente o estreitamento
vocabular, por falta de conhecimento do léxicon português, esses modismos,
frases feitas, chavões e mais e mais asneiras do discurso, maiormente o do
âmbito instituições de ensino superior, são substanciosos em suas
recalcitrâncias e concorrem, em um crescendo, para depauperar a vernaculidade
nacional, pois dições desprovidas de significante e ocas de significado, “sepulcros
caiados” da elegância terminológica.
Em disputa acirrada com A Gente – fora da demarcação normal, na familiaridade, no colóquio –
são acrescidos os “gerundismos”, na oralidade como no texto verbal escrito –
“amanhã, vou estar telefonando para o senhor”; “posso estar trazendo um
cafezinho?”; o senhor está querendo um café, uma água?”; e os
“participioismos”: “ele tem comparecido diariamente”, em vez de comparece ... ; (“eu sempre tenho
observado (“eu de sobra, pois o verbo
conjugado já denota a pessoa), no lugar de observo
... etc. etc.
Para não encompridar demais a seção e a modo
de seu fecho, citam-se as redundâncias, manifestações vocabulares
defeituosamente sobejas, as quais pelejam, palmo a palmo, com as deformações
insertas em um escrito por má pontuação, sinalização diacrítica imperfeita,
desconveniências de conteúdo ortográfico, concordância e regência nominais e
verbais, entre a considerável quantidade de delitos gramaticais e ilícitos estilísticos
perpetrados contra o Português. Este mau vezo representa indicação liminar de
descrédito do bom leitor em relação ao seu autor.
Adstrita ao escrevinhador despercebido de
predicados redacionais ou descuidoso no trato da mensagem, redundância
significa, na fala e na escrita, nomeadamente literárias, a descabida insistência
na apropriação de assertos antecipadamente enunciados ou tacitamente sensíveis
na oração, quer na significação inerente à própria palavra ou mesmo em
complemento enganoso e desnecessário a manifestações idiomáticas cujo sentido
já se completara.
Recolhem-se, pois os casos de sorriso nos lábios, sobrevivente vivo,
belonave de guerra, gato felino,
pássaro alado, lágrimas nos olhos, encarar de frente, cadáver do defunto morto e elefante de tromba, encontradiços em
vários textos, consignas de falas e mensagens de media diversificados, pois as unidades sob exemplo já armazenam nos
próprios núcleos a intenção buscada, sem a necessidade de reforço de
significação, dando azo, feiosa e equivocadamente, a danos na estesia textual e
agravos à lógica da escritura. Em passant, uma das “pérolas” – pássaro alado – foi recolhida de
tradução feita por um estudante de doutorado em Física, inserida numa seção do
livro Leçons de Mécanique Céleste, de
Jules Henri Poincaré.
7 À
MANEIRA DE ENCERRAMENTO
No Brasil, ambiente de acontecimento destas
notas, quem lê jornais, periódicos, escritos de teor investigativo-metodológico
e assiste a qualquer transmissor de informações maciças, oral e auditivo-visual,
bem como a conversas de pessoas e grupos em quaisquer circunstâncias, pode divisar
a exorbitância fenomenal, de deixar pasmado aquele mais cuidadoso do trato
verbal, na recorrência à unidade de ideia sob exame – A Gente – ao modo como está registado no módulo 3 desta
investigação.
Distante de se ambicionar,
manu militari, impingir um
ensinamento inflexível e no limite do fundamentalismo, o objeto desta chamada
de atenção, contrária e modestamente, exprime-se somente no fito de conduzir o
leitor a atentar para a imperfeição da maioria das aplicações desse expediente
idiomático. Tal pensamento visa, tão-só, a preservar a normatização da Língua
Portuguesa, gravada de tanta estesia e riqueza expressional, procedida por
estudiosos de nomeada em todas as suas ramificações disciplinares, em Portugal
e no Brasil. Estas são nações onde a população utente, oral e ortograficamente,
é maior, enquanto os dois países figuram como lugares de longo decurso analítico
no referente à história, evolução e determinações principiológicas desse primoroso
idioma, cujos usufrutuários do sistema suplantam, em medida censitária estimada
para 2017, o quantitativo de 221 milhões e 532 mil falantes-escreventes –
estando a Nação Lusa com pouco mais de quatro por cento desse total
(10.270.000), detendo, a seu turno, o Estado Brasileiro os outros mais de
noventa e cinco por cento (211.262.000).
De tal maneira, bem se alcança pelas
anotações da audiência aos cinco segmentos pinçados para ouvida, claramente
indicativas de tão sucessivas tachas linguísticas, o aferro empobrecedor ao
móvel deste curto experimento, o qual sobra transgressor, como é notório na
Seção 4 desta monografia (EMPREGOS DE A
GENTE), quando as pessoas em maioria recorrem indevidamente à dita unidade
para cobrir todas as acepções de Gente, expendidas pelas obras lexicográficas mencionadas
nas Referências bibliográficas destes conceitos, os quais, conforme já
antecipado, encerram pouca ou nenhuma presunção.
Os falantes e escreventes assim o fazem,
como se todas as significações de Gente fossem
– e não o são - substitutas de Eu, Nós, Se, Ninguém e demais vocábulos
suplentes, restando, pois, defeso o recurso a A Gente, a não ser em se cuidando de conversação orografada de
aspecto coloquial, consoante
resulta, exempli gratia, das
respostas de ouvintes do Jornal Radiofônico constantes da seção Produto das
Audiências, uma das quais (se repete) é: “A Gente fica preso e os marginal
solto”. (Sic).
Frequente e reiteradamente, se ouve um
jornalista de televisão - aqui pelo autor entendido como em um momento não
familiar (seja dito), pois um programa de tal quilate reclama língua de cultura
- ao ler o roteiro de sua narração, assim falar: “A Gente vai agora a São Paulo, para saber a previsão do tempo, com
M.J.C.[...]”.
De tal molde, parece lícito se debitar, em
parte, o mau vezo de A Gente ao
descaso ou mesmo intento exercitado, de estudo, para transgredir determinações
gramaticais, distantes das gramatiquices, em prejuízo da pureza e da elegância,
de acordo com o visto na leitura do quadro explicativo das cinco audiências,
inclusas duas transmissoras universitárias, de radioemissão e teledifusão, fato
deveras desalentador.
Também, de acordo com percepção relatada
antecipadamente, entende-se desprovida de juízo verossímil a possibilidade de A Gente, quase sempre, tomar os lugares
de Eu, Nós, Se, Ninguém etc., atendo-se o fato às
compreensões da dicotomia síncrono-diacrônica, denotativa do dinamismo das línguas, referido com
rapidez no começo destas opiniões.
Por
consequente, resulta descabido, consoante sobeja patente nesse trecho do artigo
(5 – SINCRONIA-DIACRONIA), e ainda por sensível insuficiência de motivos, contabilizar
o descomedimento de servir-se equivocamente de A Gente à conta da taxionomia há mais de cem anos operada por
Ferdinand de Saussure e seus adeptos-continuadores.
A modo de fechamento sintético desses
comentários desafetados, sem a jactância da palavra derradeira e
inquestionável, bem ao reboque dos padrões fundamentalistas, declara-se
receptivo, portanto, a outras discussões, afigurando-se racional, entretanto,
se oferecer resposta à indagação do título, vazada nos argumentos manifestos no
curso de todo este escrito: na aplicação hiperbólica e absolutamente
generalizada de A Gente na
fala-escrita atual, não há efeito síncrono-diacrônico, existindo, todavia,
emprego ingênuo e desleixo idiomático,
em virtude da inobservância, muita vez proposital, das uniformizações e
regramentos lexicais.
Pelo latíssimo e geometricamente evolutivo espectro
de uso desconforme e universal da expressão comentada - pessoas, meios de
propagação coletiva, discurso universitário etc. - não há de se esconder o
temor de se haver travado uma batalha perdida.
Desventuradamente
...!
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