sábado, 21 de abril de 2018

UM POEMA DE GISELDA MEDEIROS





CANÇÃO EXTRAVIADA
Giselda Medeiros


 A mim não importa a solidão.
Sou um rio que se vai
nas sombras – alimento – da paisagem
que escorre de meus dedos.
                           
Minha voz é este verso
que carrego nas entranhas.
Com ele, expulso meus medos
construo sílabas na cartilha do Amor
ou rezo salmos à passagem dos mortos.

Com meu verso
velo o sono dos que se entregam a Eros
no desespero dos espelhos narcísicos
ou na obstinada esperança de Orfeu.
Com ele, coso a túnica dos sonhos
que resta, alva, entre solitários lençóis.
                           
Meu verso é vento que se derrama
nos pórticos dos oráculos
e sabe o martírio dos surdos,
o desespero de Tântalo,
a perplexidade dos andarilhos
que não têm aonde ir.

Por isso, meu verso
é este tempo que não quer ruir
é esta linha que não se espanta
ante o martírio da pauta extraviada
pelo incêndio das horas metálicas
que interceptaram o som da nossa canção.

segunda-feira, 9 de abril de 2018

DE PORTUGAL PARA O BRASIL - ADELINA CHARNECA



PENAS QUE EU NÃO CONTO

Se eu contasse as minhas penas
faria calar o mundo
hollywood não faria mais cenas
e os navios iam ao fundo

Contava uma por uma
no fio de uma navalha
o mar não mais teria espuma
morria quem fosse canalha

Umas vão e outras ficam
de penas hei-de morrer
lá no sitio onde habitam
ninguém me pode valer

Hei-de ao mundo revelar
quantas penas já passei
se o mundo me escutar
juro que as esquecerei !
''autora'' Adelina Charneca (Portugal)