domingo, 30 de dezembro de 2018

MAIS UM POEMA DE ADELINA GARRIDO CHARNECA





BREVE CONTO DE AMOR SEM PRINCIPIO NEM FIM!


... que importa se não me queres,
nem me importa que me mintas;
que fazer a este coração que te ama,
não posso mais contrariá-lo,
nem esquecer tudo o que a cada dia está mais vivo em mim,
que me importa, se não mais te terei,
que posso eu fazer se os meus olhos te vêm até quando durmo.
Já está chegando o Natal outra vez, mais um ano termina,
e esta batalha de esquecer-te já é uma batalha perdida,
então...
fica para sempre no meu peito,
viverei com este sentimento em silêncio,
levo-o para onde for,
e que me mate a morte mais sublime,
a morte de morrer pensando em ti,
são tantas vidas vividas,
tantas vidas, e em nenhuma foste meu,
já não és o meu desespero,
és a minha tranquilidade
já não és o meu desejo,
és a minha feliz coincidência
já não és tu e eu,
é a minha alma e a tua,
sim...
ninguém (nem tu) pode impedir-me de querer-te até ao fundo da minha alma,
nem a vida, que parece não me querer,
nem o mundo cheio de preconceito,
ninguém... ninguém... és meu todas as noites no silêncio da noite escura,
és meu,
quando caminho, ou onde quer que eu vá,
aqui no meu peito,
a tua mão sempre me guiará,
até ao final,
e que o final seja próximo.
Isto não é uma declaração de amor,
já não necessito declará-lo,
já o sabe Deus,
já o sabe a Virgem,
até o universo... e também o sabes tu,
é uma confirmação do meu amor,
e do meu sorriso,
se te vejo sorrir,
é a felicidade de saber-te assim... feliz,
e a suprema satisfação de ter conhecido o amor,
contigo!

Adelina Garrido Charneca
(poeta portuguesa)

quinta-feira, 20 de dezembro de 2018

NATAL NORDESTINO - INUSITADO TEXTO ASSINADO POR BATISTA DE LIMA





A criança divina ainda não nasceu e já estamos comemorando treze dias antes, é o milagre do Natal. Quero, no entanto, me antecipar e montar uma árvore de natal. Será uma goiabeira carregada de goiabas maduras e verdes. Tem que ser goiabeira porque possui galhos e troncos muito fortes para sustentar tudo o que nela for colocado. As goiabas parecem com aquelas bolinhas caras vendidas nos supermercados. Os três reis magos serão três moradores de rua muito magros. Os três pastores serão três cegos que trarão lições de como ver luzes de olhos nulos.

“O presépio”, do xilógrafo pernambucano José Miguel da Silva.
O casal será Fabiano e Sinhá Vitória que há oitenta anos, exatamente, foram criados por Graciliano. O filho não será o mais velho nem o mais novo, e sim uma criança da Síria, ou da Etiópia, mas que se chama Jesus, que a mãe seja Maria Vitória e o pai José Fabiano. A oliveira pode ser uma mangueira e a tamareira, um cajueiro, com muitos cajus de castanhas grandes, todas perguntando-nos por que, como sementes, não estão dentro do caju. Quanto ao Pinheiro que não é de nosso chão vou colocar um angico que de tão duro tem a nossa consistência.

Que Jesus me perdoe essa comemoração de seu nascimento com coisas daqui da terra. Se ele por aqui vier, quando estiver maior, vai ver que não crucificamos ninguém, mas há perigo de bala perdida, de fome, peste e guerra, que nem São Sebastião tem conseguido resolver. Quanto a São José, que venha ensinar carpintaria nas escolas do Estado, já que é notório saber e cabe perfeitamente na BNCC. Nossa Senhora pode ser dona de casa, ou ensinar às jovens mães como criar bem suas crianças. Depois explicar às senhoras nossas que não precisa haver massacre de perus nessa data gloriosa, lá em Belém era mais peixe e carneiro. Outra coisa, por que as cores precisam ser vermelha e branca se nosso mar é azul e nossas matas são verdes?

Meu querido, e divino Cristo, como presente de natal nós lhe prometemos devoção, e perdoar quem nos molesta em todos os dias do ano. Mas gostaríamos que o Senhor não deixasse as criancinhas morrerem por descaso dos adultos, nem deixasse os idosos sofrerem depois de tantos anos de trabalho duro. Ah sim, Jesus, desculpe essas palavras sem jeito de me dirigir ao Senhor, e de comemorar o Natal no meio dos meus amigos. Eles esperavam ouvir nesta ocasião tocar uns sinos de Belém, falar em manjedoura, Papai Noel e aqueles mesmos animais desconhecidos arrastando um trenó no gelo. Aqui só tem poeira e mato. Até os jumentos estão em extinção, nem carroça é mais permitido ser arrastada por burro. As crianças no Natal só querem ganhar celulares, cada vez mais megahabituadas. Não meu Jesus querido, minha prece natalina é feita de esperança ao Senhor e a sua Família Sagrada.

Lembra-te ainda, Jesus sagrado, de quando fui interno no Seminário Apostólico da Sagrada Família. Eram padres alemães. Ali eu via, no carpinteiro, São José consertando carteiras, portas e janelas, via em Dona Hilda Niehoff a figura de Nossa Senhora, cuidando da cozinha do claustro, da roupa limpa dos seminaristas e Jesus personificado no padre Rodolfo Stall, cuidando da nossa espiritualidade e fazendo seus primeiros milagres na tradução do “De Bello Gallico”, das Catilinárias e do Tito Lívio.

Na árvore de natal, Jesus, vou colocar alguns livros de poemas, e outros teréns para os quais as gentes pouco ligam.

Ilustrações de Aldemir Martins para Vidas Secas.
Ainda voltando à manjedoura, não será feita de um coxo mas de gamela do engenho do Taquari, que é para o menino Jesus ficar mais confortável, forrado com folhas de bananeira, que são bem friinhas. Vou colocar um passarinho carrancudo do Horácio Dídimo para cantar canções de ninar, trepado num cajueiro pequenino carregadinho de flor, plantado pelo Juvenal Galeno. Patativa vai me mandar do local onde estiver a vaca Estrela e o boi Fubá.

Já pedi a Barros Pinho sua ajuda ovina, mas ele me preveniu cuidado, dizendo: “meu carneiro Jasmim nunca se queixou de mim”. Quando chegar o bode Yoyô trazido pelo Mário Gomes, ou pelo Chagas dos Carneiros, vou aceitar a ajuda, guardando o devido cuidado. Uma vaquinha também está presente mandada por Jorge de Lima. É uma vaca de garupa palustre e bela e dois cachorros lá de nós, Rompe Nuvem e Rompe Ferro, e os animais de carga e sela, bem feito, Memória e Gasolina e a burrinha de Tedeza e o cavalo de Parredino ali estarão sentados secundados pela cachorra Baleia, presente de Graciliano, um burrinho pedrês, uma égua Balalaica, e o burro Canário estarão ali de vigia, mandados pelo Rosa das Gerais. Não esquecerei Navegante e Rapé, Chuvisco e Surubim.

Para finalizar, digo que eu creio nos seus ensinamentos, creio em Deus pai, todo poderoso, criador do céu e da terra, e em Jesus Cristo seu único filho, Nosso Senhor, que foi concebido, pelo poder do Espírito Santo,
nasceu da Virgem Maria
padeceu sob Pôncio Pilatos,
foi crucificado,
morto e sepultado, desceu à mansão dos mortos,
ressuscitou no terceiro dia, subiu aos céus e está
sentado à direita de Deus pai todo poderoso
donde há de vir julgar os vivos e os mortos. Creio
no Espírito Santo, na santa Igreja Católica, na
comunhão dos Santos, na remissão dos pecados,
na ressurreição da carne, e na vida eterna
Amém.



quarta-feira, 12 de dezembro de 2018

Quintilhas decassilábicas acrostiquenas (ABBAB) – Vianney Mesquita





QUINTETOS PARA ANA PAULA

Vianney Mesquita*


Duas espécies de escritores possuem gênio: os que pensam e os que fazem os outros pensar. (JOSEPH ROUX, hidrógrafo e pintor.  Marselha, 1725-1793). 


Ana Paula de Medeiros Ribeiro,
Nossa autora de crase genial,
Altiva mestra, referencial,
Pedagoga alçada ao mundo inteiro:
A professora inferencial.

Uma poetisa em plaino sendeiro,
Literata excedente, especial,
Alma inspirada, exponencial,
De estrofe branca, límpido luzeiro,
E verso rimado excepcional!

Modelar do metro brasileiro,
Em inspiração celestial;
Da prosa e poesia é o fanal,
Estro alumiado, não lindeiro,
Inspiração multifatorial.
                                                                      
Realeza do gênio verdadeiro,
Ode ao entendimento supernal,
Sucedes de Giselda - matricial

Ribeiro, de onde escorre o herdeiro
Insuperável sulco sensorial.
Beletrista, fiel desfiladeiro
Extremoso, de peça memorial,
Iminência da estese, a credencial,
Repositório das letras, celeiro
O quartzo fulgente do cristal.

sábado, 8 de dezembro de 2018

UM POEMA DE GISELDA MEDEIROS




SÓ EU E A NOITE

Giselda Medeiros


                        Um grilo enche a noite de notas...
                        Pressinto-lhe desespero na cantiga.
                        Na vidraça da janela,
a chuva desenha teu rosto
                        e me impõe a cantar meus salmos.
                        Em uníssono, cantam comigo as horas
                        em sua canção de desfolhar o tempo.
                       
Escuto Bach, longe, longe,
trazido pelo vento que, invejoso,
apaga da vidraça a tua imagem.

O grilo cala a melodia aflita,
enquanto o meu desejo espalha sons
estridentes, estilhaçando-se na noite
que parece nada ouvir
e dorme, enquanto a última estrela
persigna-se ante o Cruzeiro do Sul.

quinta-feira, 29 de novembro de 2018

RELEMBRANDO NEIDE FREIRE





NEIDE FREIRE – UMA MULHER MAIÚSCULA
 Giselda Medeiros 

            Em estudo sobre Neide Freire, no livro Ensaios e Perfis, Dimas Macedo assim se reporta muito acertadamente: “No plano especificamente cultural e humano, Neide é dotada de personalidade que a distingue do comum dos mortais. Sabe ser humilde, fraterna, compreensiva e, acima de tudo, sabe ser simples e não faz alarde jamais de seus conhecimentos, tendo recebido, recentemente, homenagem da Assembléia Legislativa do Estado, no Dia Internacional da Mulher. Trata-se, portanto, de nome que honra o Ceará e que honra a tradição das águas do Salgado e a história de sua cidade natal”. Efetivamente, não só concordo com o notável crítico literário, como assumo sua postura judicativa a respeito de Neide Freire, escritora de méritos com dois livros publicados e muitos outros trabalhos em publicações diversas. Poetisa, soube florir em versos o sentimento nacionalista, difundindo o amor pela Pátria, quer em sala de aula, quer nas reuniões literárias, onde pontificava com sua inteligência.
               Raimunda Neide Moreira Freire nasceu na cidade de Lavras da Mangabeira, sob a fertilidade do Rio Salgado, no dia 23 de maio de 1924. Nascera predestinada a levar aos carentes do saber o seu conhecimento. Daí, ainda na adolescência, viera com seus pais estudar em Fortaleza, no Colégio Imaculada Conceição. Tornou-se professora e desempenhou essa função nas cidades de Ubajara (onde fixou residência durante anos) e, também, em Ibiapina e Tianguá. Depois bacharelou-se em Teologia, pela Faculdade Universal de São Paulo. Detém o troféu Monsenhor Tarciso Melo, outorgado pela Prefeitura de Ubajara (2001).
               A professora e teóloga, entretanto, tinha em si mais um outro ideal: as Letras. Seus conhecimentos e suas experiências adquiridas pelo passar do tempo levaram-na ao país mágico da Literatura. Assim, ingressou na Casa de Juvenal Galeno, de cujas atividades litero-culturais passara a frequentar. Por sua inteligência privilegiada, logo se destacou entre as mulheres que ali mourejavam, filiando-se à destacada Ala Feminina da Casa de Juvenal Galeno e a outras entidades, a saber: União Brasileira de Trovadores (UBT - seção Fortaleza); Academia de Letras Municipais do Estado do Ceará (ALMECE); Associação de Jornalistas e Escritoras do Brasil (AJEB-CE); sócia correspondente da Academia Literária Feminina do Rio Grande do Sul e da Academia Irajaense de Letras (RJ). Foi Presidente da Ala Feminina da Casa de Juvenal Galeno, no biênio 1992-1994, ocupante da cadeira n° 53, sendo Maria Gonçalves da Rocha Leal a sua Patrona.
Neide Freire (seu nome literário) publicou Acendalhas (crônicas e poemas) e Poemas e Lembranças, além de muitas publicações em revistas, antologias, jornais. Seu nome é verbete no Dicionário de Literatura Cearense; Dicionário de Mulheres; Ensaios e Perfis; e Cearenses Notáveis.
Infelizmente, apesar de sua contínua e ferrenha luta, por muitos anos, contra o diabetes, este acabou vencendo-a. E foi assim que Neide Freire, no dia 10 de maio de 2018, em um dos leitos do Hospital São Raimundo, em Fortaleza/CE, com o consentimento de Deus, pôs um ponto-final na história de sua vida, deixando seu nome imortalizado no mundo das letras e no coração dos familiares, dos amigos e dos que a admiravam.  

Um rápido olhar sobre sua obra
              
               Esta resumida passagem pela biografia da escritora fez-se necessária para que pudéssemos adentrar a leitura do seu segundo livro Poemas e Lembranças, e, ao fim, deixar algumas impressões. Confesso que ler um livro de Neide Freire é-me tarefa demais prazerosa, haja vista o embevecimento que nos vem de seu estilo, da linguagem escorreita, do encadeamento perfeito das ideias, o que faz com que seu texto flua ininterruptamente, denso e limpo, como as águas de uma cascata.
               Conheci Neide Freire desde as lides da Ala Feminina da Casa de Juvenal Galeno, pela qual trabalhamos (ela presidente; eu, vice), durante o período 13 de setembro de 1992 a 13 de setembro de 1996, época em que reformamos o Estatuto da entidade, renovamos e ampliamos o número de sócias efetivas, publicamos o 2º volume de Um Livro da Ala, o 4º. e 5º. volumes da série Mulheres do Brasil e retomamos a circulação semestral da revista “Jangada”, após longos trinta e nove anos de ausência. Retomamos a revista em seu número 19 e a editamos até o número 36. Neide Freire resgatou, assim, o prestígio da Ala Feminina e, para as palestras da Casa, convidamos nomes expressivos de diversas entidades literárias e culturais cearenses.
               Ao longo desse tempo em que trabalhamos em uníssono, pude aquilatar o valor desta mulher, fisicamente frágil, mas de uma fortaleza espiritual indestrutível. Coerente com seus princípios, ela sabia exercitar a solidariedade, o amor, a fé, a amizade, jamais deixando que as vaidades humanas cerceassem sua visão humanisticamente cristã. A ela, indubitavelmente, cabem estas palavras de Armando Fuentes Aguirre: “Feliz é o homem que no fim da vida possui apenas o que deu aos outros”.
               Neste seu livro, Poemas e Lembranças, entrelaçam-se harmoniosamente poesia e prosa, sob a batuta de sua maestrina que, de posse das notas que a vida lhe pôs ao alcance das mãos, vai compondo suas melodias ao ritmo das oscilações de tons do cotidiano.
               Assim é que, no poema “Rota da Vida”, podemos vislumbrar uma certa angústia, um tom de desalento expressados nestes versos:

                                                “Na sala deserta
                                                o silêncio é vigia
                                                do tempo furtivo
                                                das horas que passam.”

               A efemeridade das coisas e da vida, também, está presente no poema “Transcorrência”, metaforizada na expressão “disfarce da face”. Vejamos:

                                                “Na firmeza dos dias
                                                os anos passam
                                                disfarce da face
                                                de coisas extintas,
                                                naufragados desejos,
                                                segredos, imaginação.”

               O humor também se faz notar neste Poemas e Lembranças, notadamente em “Imagem”, ainda que mesclado ao sentimento de tédio:

“Horas alopáticas
horas cinzentas de tédio
que só lembram caixas rotas
onde se guarda remédio
assim vou passando a vida
ao sabor de amargas drogas
que o relógio anuncia
oh, pontualidade marota!
Agora é a hora das pílulas,
mais tarde, é a hora das gotas.”

               Quando transita pela prosa, Neide Freire conserva a mesma desenvoltura. São textos agradáveis, sóbrios, de grande densidade conteudística. Sobressaem, dentre outros, “Evocação ao Padre Cícero”; “O Rei Poeta” (belíssimo texto sobre o Rei Davi); “Apresentação do livro Interlúdio do Encantamento, de autoria da inesquecível poetisa Zênith Feitosa; “Literatura Feminina” e “Amor”, no qual Neide disserta sobre as várias formas de amor, esse sentimento maior que “põe melodia” na vida, e sobre o qual asseverou Santo Agostinho: “Não se adentra a verdade a não ser pelo amor”. Transcrevemos, aqui, o fechamento do texto de Neide, “O Amor”, que se presta a uma rica reflexão. Vejamos:
                “Concluímos daí não podermos chamar de amor as aberrações, as mais tristes e enodoantes que se agitam em nossos dias, mesmo porque, embora alguém tivesse dito que ‘amor é frase que o mundo aclama e desconhece’, o verdadeiro amor, gêmeo do amor criador e salvador de Deus, tem seus valores firmados na intemporalidade do espírito e ultrapassa o poder da morte”.
               Considero, portanto, válida e imprescindível a leitura do livro Poemas e Lembranças, uma vez que a Autora nos conduz ao exercício do pensamento do poeta chileno Pablo Neruda, ao asseverar que é preciso recobrar o vínculo com o distante leitor; é preciso caminhar na escuridão e se encontrar com o coração do homem, com os olhos da mulher, com os desconhecidos das ruas.
               Ao final, deixo expressa a nossa eterna felicidade por termos convivido com esta Mulher Maiúscula, cuja obra e retidão de caráter se eternizarão pelas gerações futuras como um sol a desbravar as madrugadas sangrentas.
(publicado em POLICROMIAS - nº10, p.84-90).
                                                 

Giselda Medeiros
Poetisa, contista, ensaísta. Pertence à Academia Cearense de Letras, entre outras. Foi Presidente Nacional da Associação de Jornalistas e Escritoras do Brasil – AJEB (2002/2006). Obras: Alma Liberta (Poesia); Transparências (Poesia); Cantos Circunstanciais (Poesia); Tempo das Esperas (Poesia); Sob Eros e Thanatos (Contos); Crítica Reunida (Ensaios); Ânfora de Sol (Poesia); e Caminho de Sol (Memórias). Detém vários Prêmios Literários, entre eles, o “Prêmio Osmundo Pontes de Literatura – Poesia” (1999) e o “Prêmio Lúcia Fernandes Martins de Poesia”, promovido pela Academia Cearense de Letras (2008). Em 2002, foi aclamada “Princesa dos Poetas do Ceará”.

sexta-feira, 2 de novembro de 2018

Soneto Decassilábico Português - Vianney Mesquita






RIMAS INVARIÁVEIS 1
(Homenagem ao Prof. Valdemir Mourão) 2

Vianney Mesquita*

A minha sorte s’esvaiu porque,
Ao vê-la sempre com desejo tanto,
Para comigo a conservar, conquanto
Não atinasse jamais para quê.

Embora sem conhecer, entretanto,
A razão de querer vossemecê,
Obedeci a intenção; portanto,
Perdi-a logo sem ver nem por quê.

Assim, um semiderrotado, entanto,
Na esperança sigo, por enquanto,
De, no amor, lograr Sua Mercê.

Auspicioso, pois, um tanto quanto,
Faço tudo de lícito, contanto
Que um dia possa reaver você.



1 De estudo, nenhum dos pés do soneto tem rima com as classes de palavras variáveis – substantivo, artigo, adjetivo e verbo.

2 O Professor (MS) Valdemir Mourão é docente universitário e imortal titular (ex-presidente) da Academia Cearense da Língua Portuguesa. Escritor e poeta. Um panegírico à pessoa humana!


segunda-feira, 29 de outubro de 2018

LEIA EXCELENTE ENSAIO DO PROFESSOR PAULO LOBÃO




A SOCIEDADE DE CANSAÇO E A POÉTICA 
DA CONTEMPLAÇÃO DE HORÁCIO DÍDIMO

Paulo Lobão

As formas de violência multiplicam-se na sociedade contemporânea, roubando do homem o direito à existência plena. A opressão assumiu uma condição singular: a violência neuronal. Byung-Chul Han, importante filósofo contemporâneo, realiza um lúcido diagnóstico, no ensaio Sociedade do Cansaço, sobre a face dessa irascibilidade dos novos tempos. Segundo o filósofo, a sociedade do século XXI não é mais a sociedade disciplinar, mas uma sociedade de desempenho. Também seus habitantes não se chamam mais “sujeitos de obediência”, mas sujeitos de desempenho e produção. São empresários de si mesmos” (Byung-Chul Han, p.22).   A arquitetura da violência neuronal vincula-se ao excesso de positividade, causando no sujeito a saturação e a exaustão extrema como consequência de uma estrutura organizacional de desempenho, a mais nova forma de dominação. Os infartos psíquicos, conforme assinala o filósofo, são sintomas dessa nova ordem. A locução verbal “posso fazer” traduz, de forma precisa, a as exigências da sociedade do desempenho, o que superaquece a nossa capacidade de realizar. A resposta negativa às imposições dessa sociedade constitui um monumento ao fracasso, incutido por um conceito de negatividade, tornando o indivíduo refém do desempenho a ele exigido. Fracassar é um verbo estranho ao pensamento que ordena esse mecanismo de dominação. Assim a opressão vem de dentro, de uma autosabotagem. Quem não for capaz de atender as demandas sofre um processo de marginalização, pois a expressão maximização de resultados é o axioma que se instalou na cabeça do homem contemporâneo, arrancando-lhe o tempo de existir. Adoece-se por não se saber mais empregar o advérbio de negação “não”; morre-se por se dizer sempre sim ao não. Instrumentos de resistência a essa condição imposta pela sociedade do desempenho parecem escassear. A virtuose da contemplação, elemento fundamental para a construção da consciência, é um poderoso mecanismo para escapar desse labirinto alucinante. E sim, a literatura certamente é um território de resistência. Tome-se como exemplo a poética de Horácio Dídimo. Impregnada de um lirismo de contemplação, a poesia Horaciana revela-se como literatura humanizadora, atravessada pela esperança, permitindo ao homem uma imersão no silêncio que grita na comunicação dos arranjos linguísticos empregados pelo poeta. É uma poesia iluminada, provocadora e epifânica, construindo um grande repositório da existência. Some-se a toda essa inclinação reflexiva a inventividade formal, dialogando com as diferentes formas estéticas, o que lhe confere contemporaneidade, mas sem que lhe escape esse olhar mais profundo para nossas entrâncias e reentrâncias. Constrói-se, portanto, um caleidoscópio literário, firmado por seus inventos poéticos. Há um transbordamento da linguagem, cujo resultado é original e inusitado, permitindo ao poeta um livre trânsito entre as diferentes vertentes da poesia: desde as reflexões sobre o fazer poético até as inclinações surrealistas. A obra A palavra e a Palavra ilustra, de maneira contundente, as experimentações horacianas, definindo o poeta não apenas como um representante da moderna poesia brasileira, de clara adesão concretista, mas também como um poeta que consegue alcançar, por meio dos versos que escorrem de seus dedos, as dimensões mais profundas da alma humana, ressignificadas pela palavra divina, gerando a importância da espiritualidade frente à lamina cortante de uma nova ordem sosical que decepa sonhos e “declara à vida guerra”.  Não se esqueça aqui do pleno domínio do poeta no que concerne às possibilidades da gramática na sua riqueza polimórfica e plurissemântica, extraindo da dureza dos substantivos perfilados a dor de estar emparedado, representada pelo desespero de um murro e de um grito, resultante de desdobramento da palavra nas suas possibilidades estruturais e significativas. Observe o poema:

o emparedado

muro
muro
muro
muro
muro
(...)
muro m(urro)

A decomposição mórfica de um substantivo em suas unidades gráficas e fonéticas também serviu ao poeta como representação simbólica de uma existência efêmera, evocando no leitor uma consciência sobre esses tempos nebulosos. A analogia imagético-verbal aproxima a parca existência ao consumo do cigarro. A fumaça é o elemento representativo em contiguidade semântica com a vida frágil e fugaz. A severidade do tema ganha certos contornos de ironia no consórcio significativo entre os vocábulos “cinza” e “sarro”.  Se por um lado o sarro é a crosta marcante após o consumo do cigarro, por outro pode representar o ato peremptório de divertir-se de outrem.

a fumaça

cigarro
cigarr
cigar
ciga
cig
ci
c
cinza
sarro

A concisão da linguagem, uma conclusão unânime de ensaístas sobre a poética de Horácio Dídimo, fundamenta-se num elaborado e sofisticado domínio no manejo das potencialidades das palavras, arrancando-lhes possibilidades, às vezes impensadas, provocando no leitor contemplativo as mais inusitadas e lúdicas surpresas linguísticas e envolvendo-o no encantamento do fazer poético. No processo de substantivação dos termos “pouco” e “muito”, por meio da derivação imprópria, o poeta sentencia que a lição é dura, embora sensível: a importância do suficiente numa sociedade dos exageros e da extremada positividade. Assim, o termo “pouco”, de claro valor indefinido, ganha uma lógica de pretensa precisão, sofrendo uma ressignificação semântica ao apresentar a ideia da suficiência. Observe os versos:

o pouco pode ser o muito
disfarçado

             A poesia de Horácio edifica e renova as convicções humanas. Nessa “Roda viva” do cotidiano, em que caminhamos para as lonjuras do destino, a poesia de Horácio se impõe como mediadora da esperança em um mundo quase desesperado, resgatando-nos dos abismos da descrença e da negatividade, constituindo-se num espaço de contemplação e descobertas em meio a essa sociedade do cansaço de que nos fala Byung-Chul Han. É uma poesia engenhosamente arquitetada; uma grande festa da linguagem artística em suas formas, cores, texturas, sentimentos e reflexões. Essa comunhão mágica realiza-se pela plenitude lúdica da palavra. Eis o poeta da palavra que desfila densidades no exercício da inventividade; eis o poeta que retira do intervalo entre a palavra no papel e o silêncio da leitura as razões do seu ofício: aliviar o peso do mundo que acreditamos carregar.

Bibliografia
DÍDIMO, Horácio. A palavra e a Palavra. Fortaleza, Edições UFC, 2002.
HAN, Byung-Chul. Sociedade do Cansaço. Petrópolis: Editora Vozes, 2017.
  

sábado, 20 de outubro de 2018

AJEB/CE COMEMOROU, EM ALMOÇO NO IDEAL CLUBE, ANIVERSÁRIO DE GISELDA MEDEIROS, SUA PRESIDENTE DE HONRA.

Evento acontecido no Ideal Clube, em 14 de julho de 2018


A Família


Ana Paula, Giselda Medeiros e Ricardo Caratti


Nirvanda Medeiros, Ana Paula Medeiros, 
a aniversariante, Révia Herculano,Gizela Nunes da Costa, Margarida Alencar e Norma.


A aniversariante e Conceição Seabra


Casal Margarida e Vicente Alencar, Giselda, 
Affonso Taboza e Nirvanda Medeiros


Vládia Mourão, Presidente Elinalva Oliveira,
Zinah Alexandrino, aniversariante e Maria Luísa Bomfim


Elinalva Oliveira, Giselda Medeiros, Vládia e Zinah.

sábado, 13 de outubro de 2018

Ajebiana Rosa Virgínia homenageia Hilma Montenegro, em seu centenário de nascimento.




Águas de Mim


Fico pensando em Hilma...                                                              
Tudo valeu a pena! Minha amiga,
Quão feliz estás nos céus!
Deus, por certo, deu-te asas para vir a Terra
No dia três de outubro.
Teu filho, Seridião, vestiu a alma
De um rubi tão puro e rubro
Que dos olhos do coração caíram lágrimas
Azuis das saudades de ti.
E tu em luz – ali –
Iluminante Estrela-Mãe!
Todos os teus filhos e netos no Palácio da Luz
Em corpo, em nome e palavras
No santo sinal da cruz
A família da tua lida – eternizada.
As amigas da tua alma, das escritas,
Ali contigo, na Esplanada da vida.
“Esplanada da Vida” nos roteiros de Deus.
Seridião, nobre filho amado,
Cruzou os portais do tempo sublimado.
Das esferas do Universo
Nasce a Música do silêncio dos dias ausentes de ti.
Essa saudade se fez palavras – Um livro –
Em jardins nos labirintos de sóis e luas de ti.
Obrigada, Princesa dos verdes mares,
Águas viajantes de mim.

Rosa Virgínia
13. out.2018