sábado, 22 de julho de 2017

A SAGA LÍRICA DE GISELDA MEDEIROS



A escritora Giselda Medeiros é homenageada, no dia de seu aniversário, pela Associação de Jornalistas e Escritoras do Brasil, AJEB-CE, com lançamento do livro "A Saga Lírica de Giselda Medeiros", livro organizado pela atual presidente, Desembargadora Gizela Nunes da Costa, trazendo resenhas sobre seus livros e comentários sobre a escritora, Princesa dos Poetas do Ceará, Giselda Medeiros. Arleni Portelada assumiu, com muita eficiência, o cerimonial do evento, acontecido no salão nobre do Náutico Atlético Cearense, dia 13 de julho de 2017, às 19h.

A Acadêmica, Dra.  Angela Gutiérrez, em inflamado e primoroso discurso, apresentou a obra, que está prefaciada pelo escritor, poeta e professor, também Acadêmico, Batista de Lima, e posfácio assinado pela escritora, Acadêmica, Beatriz Alcântara.

Foi uma noite festiva e alegre, uma vez que contou com a participação musical de Alvarus Moreno e sua esposa, Auzeneide Cândido, além da voz e violão de Renato Assunção.

Havia uma nobre e gentil plateia. A seguir, o texto de apresentação, por Angela Gutiérrez.




UM DIA AZUL NA VIDA DE GISELDA MEDEIROS[1]

Há dias azuis em nossas vidas. Hoje é um desses belos dias de cor celeste na  vida da querida amiga e escritora consagrada na Terra da Luz, Giselda Medeiros. Neste dia, de ouro sobre azul, comemoramos o aniversário da amiga – o dom de sua vida -, e o lançamento do livro A Saga Lírica de Giselda Medeiros, coletânea de textos de leitores-críticos que reconhecem na escritora o dom da poesia, enriquecido em sua bela e sempre ascendente trajetória literária.

Hoje, no entanto, não é o primeiro dia azul de Giselda. Como a escritora relata em seu discurso de posse na Academia Cearense de Letras:

Era 14 de julho. Não o de 1789, em que se decretava, na França, a vitória da liberdade, com a Tomada da Bastilha. Mas, um outro 14 de julho, numa cidadezinha acanhada do interior cearense, quando uma outra liberdade se fazia imperativa.
O véu das estrelas cobria com sua luz azul o tímido casario de Prata [...]
Senhores, naquele 14 de julho, a cidadezinha de Prata do Acaraú era toda plenilúnio. E um branco alvoroço derramava-se pelo ar para receber uma menina, a terceira filha do casal Jorge Francisco de Medeiros e Raimunda de Sousa Fernandes Medeiros. O sopro de vida, antes essência, exteriorizou-se.

Se o nascimento de Giselda foi seu primeiro dia azul, permito-me relatar alguns dias azuis entre tantos outros que brilham em sua carreira literária. No ano de 2000, a 21 de junho, a escritora ingressa  na Academia Cearense de Letras, como décima mulher a compor o quadro feminino de membros de nossa instituição, desde sua fundação, em 15 de agosto de 1894. Complementando a informação, acrescento que, depois do ingresso de Giselda, há 17 anos, somente duas mulheres passaram a ser membros de nossa Academia: Natércia Campos, tão nobre escritora e amiga que logo partiu ao encontro de seu pai, sempre lembrado Moreira Campos, e Lourdinha Leite Barbosa, Diretora Cultural da ACL, escritora talentosa, que publicou, no ano passado, a importante obra Barão de Camocim: Uma história real tecida com os fios da imaginação.

A acadêmica Regine Limaverde, que acaba de publicar belo livro intitulado dentro de mim, o mar, que tive honra e prazer em  prefaciar, com sua aguda sensibilidade feminina, sempre audaz na luta pelo reconhecimento pleno dos direitos da mulher, em discurso de saudação à poetisa Giselda Medeiros, que tomava posse na cadeira 28 da mais antiga academia de Letras do país, lembrou o papel do então presidente da ACL, Poeta Artur Eduardo Benevides  que, cito suas palavras: “foi peça importante para o preenchimento de algumas vagas na Academia com escritoras e poetisas, e decididamente findou  com a era de apenas escritores homens numa sociedade onde bens, saber, atividades, prazeres, obrigações e trabalhos devem ser divididos entre o homem e a mulher”.

E traçou algumas linhas do retrato da poetisa que entrava na Casa de Thomaz Pompeu:

Uma mulher que é a própria poesia, pois escreve, fala e pratica poesia com quem quer que prive de sua amizade. Uma mulher moderna. Culta, alegre, atuante nas letras de nossa terra.

No mesmo discurso, a escritora Regine, ao examinar alguns poemas de Giselda, cita uma estrofe do livro Transparências, que abriga dois versos que me encantam:

O poeta é o mar
Onde navegam as naus da esperança

Reproduzo-os aqui e agora porque dizem bem do sentimento que pode alimentar o povo brasileiro neste momento triste, brumoso, tempestuoso em que enxergamos com dificuldade um futuro digno para nossa nação e precisamos ouvir a voz da poesia para mantermos a chama verde da esperança, capaz de iluminar os caminhos de nosso país.

Quinze anos atrás, em outro dia de brilho azul, alguns traços marcantes da personalidade e das obras líricas da poetisa - a nobreza de seus sentimentos e  a delicadeza de sua escrita -,  já lhe haviam desenhado um perfil mais-que-perfeito para torná-la merecedora do título de Princesa dos Poetas do Ceará, proclamado pelas diversas entidades  culturais que assistem na tradicional e respeitada  Casa de Juvenal Galeno.  

Hoje é mais um dia cor-do-céu sem nuvens para a poetisa, no momento em que merecida distinção lhe é conferida: o lançamento de um livro de leituras de seus livros. Há prêmio mais benéfico ao coração de quem escreve do que ver reunidos textos que comentam sua obra e lhe reconhecem valor literário? A coletânea, idealizada pelos membros da Associação de Jornalistas e Escritoras do Brasil – AJEB - Coordenadoria do Ceará, de que Giselda Medeiros é Presidente de Honra, foi organizada pela atuante presidente da entidade, Desembargadora Gizela Nunes da Costa, mulher em que se unem duas imensas qualidades – dignidade e simplicidade, além de entusiasmo contagiante. Prefaciada pelo escritor e professor Batista de Lima, com a sutileza crítica de quem bem conhece a literatura tout court, a literatura cearense e a obra da poetisa homenageada, A Saga Lírica de Giselda Medeiros conta com posfácio, da também acadêmica e professora Beatriz Alcântara, escrito em linguagem poética e com delicada sensibilidade na escolha dos poemas de Giselda que cita no texto. 

Participam da coletânea, com escritos de ontem e de hoje, as companheiras ajebianas de Giselda e outros expressivos nomes de nossa literatura, listados abaixo a seguir: Artur Eduardo Benevides, Batista de Lima, Beatriz Alcântara, Carlos Augusto Viana, Débora Cavalcante, Dias da Silva, Dimas Macedo, Elinalva Alves de Oliveira, Evan Gomes de Bessa, Francisco Ferreira Nobre, Genuíno Sales, Geraldina Amaral, Gizela Nunes da Costa, José Alves Fernandes, José Telles, Linhares Filho, Maria Argentina Austragésilo de Andrade, Maria do Carmo Fontenelle, Maria Helena do Amaral Macêdo, Maria Luisa Bonfim, Maria Nirvanda Medeiros, Neide Azevedo Lopes, Nilto Maciel, Rejane Costa Barros, Rosa Virgínia Carneiro de Castro,  Zenaide Braga Marçal.

Gostaria de convocar à minha fala a companhia de palavras de todos os colegas escritores da coletânea que Gizela, nesta noite festiva, entrega ao público leitor de nossa cidade, aos colegas escritores e acadêmicos, aos participantes de todas as associações de Letras a que a homenageada pertence. No entanto, se assim o fizesse, não só tomaria o lugar de descoberta do leitor, como estaria assumindo, também, o papel de Pierre Menard do conto de Borges, instigante personagem que quer escrever el Quijote com as mesmas palavras com que o genial Miguel de Cervantes Saavedra escrevera as aventuras do  Hidalgo de la Mancha. E nesse caso, considerando que Menard tem sido visto como metáfora do escritor latino-americano que repete sempre o mesmo destino de desmanchar os fios da escrita do Outro para criar novas teias e tessituras em seus, nossos livros, não estaria longe do paradigma que nos é atribuído.
Porém, se repetir as palavras dos colaboradores da coletânea deixaria meu texto mais bonito, por outro lado, muito o alongaria e, certamente, anularia o prazer do primeiro encontro dos leitores com a coletânea. Assim, hei de contentar-me em lembrar uma única voz, que já não se faz ouvir em nosso mundo, com sua bela sonoridade humana, mas permanece em nossa memória em toda sua musicalidade e sabedoria.
Recordo, pois, uma voz inesquecível, a do grande poeta Artur Eduardo Benevides, quando comenta dois momentos do itinerário poético de Giselda.  Ao escrever sobre o primeiro livro de Giselda, disse o poeta:

Alma Liberta é um livro de estreia. Giselda, com ele, se apresenta de corpo inteiro, aos seus leitores, assumindo a responsabilidade de ser uma voz a serviço da paz, do amor, da beleza e da verdade. Numa palavra, a serviço da poesia.
Saúdo-a com esperança e dou-lhe as boas vindas. O seu talento fará o resto.

As palavras premonitórias do Mestre da Poesia confirmam-se e, em texto posterior, o Poeta de Pacatuba, como gostava de denominar-se aludindo afetuosamente à sua terra de berço, reafirma que a escritora “... sabe tirar proveito, sempre, de seu comprovado talento, sendo uma das poetisas de maior expressão, nos dias que passam, na Literatura do Ceará”.

Que mais posso dizer, depois que Magister dixit?
- Giselda, sua poesia e sua amizade são pedras preciosas, safiras... diamantes azuis, para guardar, como diz Milton Nascimento, em sua “Canção da América”:
Debaixo de sete chaves,/ Dentro do coração/.../ No lado esquerdo do peito...

                                                                                   Angela Gutiérrez,
                                               escritora, membro da Academia Cearense de Letras
                                                            e do Instituto do Ceará



[1] Apresentação da coletânea A Saga Lírica de Giselda Medeiros, dia 13/7/2017, no Náutico Atlético Cearense, por Angela Gutiérrez.


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OS AGRADECIMENTOS DA HOMENAGEADA



ORAÇÃO À AMIZADE

SENHORAS, SENHORES

                  
                   Aprendi, desde cedo, de minha mãe, que “A palavra doce multiplica os amigos”. Por isso, digo-vos, hoje, que não há maior doçura do que a de saborear uma amizade. Porque os amigos são como a oliveira verde que foi semeada para dar azeite na longa noite das nossas agonias. São a candeia que se acende quando as sombras empalidecem nosso céu. Ou a flor brotando, linda e majestosa, do pântano de nossas dores. São pomos dulcíssimos que nos saciam a fome de carinho. São pálios abertos a nos proteger das agressões do tempo.
                   Feliz é o que tem amigos para cantar. E hoje, nesta noite macia de afetos, como poderia deixar de bendizer a Deus pela amizade com que me cercais, meus queridos amigos? A vossa palavra é para mim canteiro de perfumadas rosas. São suavíssimas auroras a descerem sobre a tarde da minha existência. E é em vosso regaço que busco o contorno da minha poesia. Inundais com vossa luz de amor os vales do meu destino. Sois as delícias do meu viver!
                   Nesta noite, asseguro-vos, tudo é alegria! Alegria, sobretudo, de ser acariciada com esta homenagem que me faz a Associação de Jornalistas e Escritoras do Brasil, Coordenadoria do Ceará, homenagem, digo-vos, liderada e organizada por sua atual Presidente, Dra. Gizela Nunes da Costa, para este dia do meu natalício. E quem, dizei-me, quem não sentiria um tropel de emoções explodir-lhe no peito, diante de tamanha reverência? O que fiz para merecê-la senão buscar sempre em cada alvorada as cores da poesia com as quais aprendi a traçar o desenho da vida, construindo retas, contornando curvas, apagando traços supérfluos, retomando linhas, burilando os tons, tecendo o fio do amor, pelo qual vieram os amigos e sentaram-se à mesa para celebrarmos juntos o sagrado rito da amizade? Pois foi dessa palavra que absorvi o favo da solidariedade. E são tantas as delícias, e tantos os afagos com que me brindais, amigos! Vossas mãos me abrem o silêncio, plantando versos para a minha próxima colheita. Vossa palavra desabrocha-me o pensamento ébrio de metáforas. Afastais, com vossos passos, as ervas daninhas que se alastram pelos caminhos. Extinguis, com vossa luz, as trevas da falsidade, da inveja e da maldade. Por isso, tenho por vós tamanha lealdade, e tão contínua, como o sol que torna sempre todas as manhãs, e tão abundante, como o rio que corre e, ao voltar sobre si mesmo, vem acrescido de seus afluentes.
                   Vejo vossos rostos a sorrir em meu destino. Rostos amados, os de agora, e os dos que já passaram, porque “Deus renova aquilo que passou” e que foi amado. E minha alma se enche do sal da vossa amizade e do aroma do vosso coração.
                   E, agora, deixai-me agradecer! Em primeiro plano, ao meu grande Deus, que me nutre a alma e que me faz ser eternamente aprendiz, para que possa viver sabiamente. Ao presidente desta Casa, Dr. Pedro Jorge Medeiros, por nos ceder o espaço romântico do Náutico, bem como à sua mãe, Nirvanda Medeiros, nossa Diretora de Eventos. À Presidente da AJEB-CE, Dra. Gizela Nunes da Costa, elo fundamental na corrente da AJEB; À Rejane Costa Barros, revisora da obra e autora das orelhas; À Acadêmica, e minha querida amiga, Angela Gutiérrez, cuja palavra acabamos de ouvir e que nos chegou como notas soantes de uma canção de sabedoria e competência. À Universidade Federal do Ceará, pela concessão da chancela à obra e pela aprovação do livro na “Coleção Diálogos Intempestivos”. Aos Acadêmicos Batista de Lima e Beatriz Alcântara, pela aquiescência ao pedido da Organizadora, para a feitura do Prefácio e do Posfácio, respectivamente. Ao editor, Dorian Filho, meu querido amigo e zeloso profissional. A Carlos Alberto Dantas, o diagramador e capista da obra, que, com sua sensibilidade artística, deu à luz este primoroso projeto gráfico. Aos escritores, que deixaram plasmada, no livro, a percuciência de suas palavras. À minha amada Família, templo que me acolhe e me alimenta a alma com a hóstia do Amor. Enfim, a minha saudação a todos os integrantes da AJEB, da Academia Cearense de Letras, da Academia Cearense da Língua Portuguesa, da Academia Fortalezense de Letras, da Academia de Letras e Artes do Nordeste, da União Brasileira de Trovadores, da Sociedade Amigas do Livro e da Associação Brasileira de Bibliófilos; e a vós todos, amigos, que aqui estais a comungar comigo desta homenagem. Bem sei que sairei daqui carregando o cheiro do incenso de vossa amizade. E, doravante, hei de seguir com a felicidade daqueles que têm esperanças e luares brotando de suas mãos.
                   Resta-me, por fim, amigos, a certeza de, neste momento de júbilo que hoje experimento, ter multiplicado substancialmente minha gratidão a todos vós, cuja palavra quererei ouvir sempre.
                   E, ao final, ratifico, com estes versos de Cecília Meireles, tudo o que me ditou a emoção do momento:
                   “Basta-me um pequeno gesto,
                   feito de longe e de leve,
                   para que venhais comigo
                   e eu para sempre vos leve...”
                                                                      Muito obrigada.
                                                             Giselda Medeiros
                                                                                                  13/7/2017