quarta-feira, 18 de maio de 2016

MAGISTRAL ESSE TEXTO DE ROSEMBERG CARIRY


Mestre Aldenir - meu herói

Conheci Mestre Aldenir ainda menino. Ver a apresentação do seu reisado, nas ruas descalças da periferia e na feira do Crato, era para mim um momento do mais puro encantamento. À frente dos seus guerreiros, mais valente do que Ferrabrás e mais alumioso do que Roldão, Aldenir era o Rei Carlos Magno, comandante de uma embaixada mágica, saída das brumas do tempo, dos romances de cavalaria, dos duelos sagrados entre mouros e cristãos, nas lonjuras da península ibérica e nos desertos sem fim do Magreb. 
 
Ao som do apito do jovem Mestre Aldenir, tocavam as violas, tremiam os pandeiros, ressoavam os surdos e os maracás. As polifonias que saíam dali enchiam o mundo com o lirismo dos versos e das melodias mais simples e comoventes. Eu assistia a assombrosas pelejas e batalhas do fim do mundo. O Mateus e a Catarina eram os bobos da corte, os subversores da lei, os portadores das heresias. Depois, vinha a bicharada esquisita, do reino do encantado.
 
Nas batalhas, erguiam-se espadas ligeiras e brilhantes, entre danças, ritos e gestos milenares. Os coloridos das roupas dos brincantes, bordadas com aplicação de pequenos pedaços de espelhos, refletiam o sol e faiscavam raios de alegria, enchendo de encantamento os nossos pequenos corações.
 
Naquele tempo, a fama do Mestre Aldenir já era grande. Certa vez, ouvi falar de uma embaixada de guerreiros alagoanos que veio a pé, até Juazeiro do Norte, para cumprir duas promessas. Uma feita ao Padim Ciço, guardada em segredos de penitências. A outra era encontrar-se com o Mestre Aldenir. Aquele guerreiro alagoano não buscava a disputa da dança de espadas e nem mesmo o torneio das canções mais belas. Queria simplesmente encontrar o Mestre Aldenir e aos seus pés depositar a sua espada, consagrando-o, assim, em rito de cavalaria, “o maior mestre de reisado do mundo”. Nesse tempo, para nós, meninos, o mundo era bem pequeno, talvez fosse do tamanho do Cariri. O Mestre Aldenir ficou sendo, assim, o rei de todos nós, meninos curiosos e andarilhos do Crato-Juazeiro-Barbalha, privilegiados habitantes do Reino do Encantado.
 
Neste tempo de crises, lembro-me do Mestre Aldenir e dos seus guerreiros. Se é certo que vivemos um tempo de fascismos e crueldades profundas, sob bota do Grande Capital, maior verdade é que o coração do povo é maior do que todas as tiranias. Confio no Mestre Aldenir e no seu exército popular alumioso, no menino que fui e em todos os meninos que farão o nosso futuro Brasil. Com eles unidos, em sonho e magia, sei que não haverá derrota. Não passarão! 
 
Rosemberg Cariry
cariri.filmes@uol.com.br
Cineasta e escritor