sábado, 12 de setembro de 2015

GISELDA MEDEIROS PROFERE PALESTRA NA FLI7 - COMEMORAÇÃO DOS 80 ANOS DO COLÉGIO 7 DE SETEMBRO



Em 10 de setembro de 2015, o Colégio 7 de Setembro, dentro de sua programação de festividades comemorativas dos 80 anos de sua fundação, realizou uma sessão de homenagem à Academia Cearense de Letras, a mais antiga do Brasil. Na ocasião, a Acadêmica, Professora, Escritora e ex-aluna do Colégio 7 de Setembro, Giselda Medeiros, atendendo ao convite feito pelo Dr. Ednilo Soárez, apresentou para o público presente (acadêmicos da ACL, acadêmicos da ACADE7, convidados e familiares), uma palestra, sob o título "UM INSTANTE, POETA!", uma visita breve à poesia e vida de Cecília Meireles, tomando como ilustração o seu poema MOTIVO. 

O presidente da Academia Cearense de Letras, José Augusto Bezerra, recebeu das mãos da aluna presidente da Academia de Letras dos Estudantes do Colégio 7 de Setembro uma placa de homenagem à mais antiga Academia de Letras do Brasil. 
Este agradeceu, emocionado, e, após, traçou rápidas pinceladas sobre os acadêmicos presentes.

Em seguida, foi dada a palavra à professora e poetisa, Giselda Medeiros, para sua fala. 

Ao final da reunião, houve um sorteio de livros da palestrante.

Nada melhor para dizer dessa homenagem do que as fotografias que estão exibidas abaixo.



















Coquetel de Encerramento

terça-feira, 8 de setembro de 2015

Desenho (Cecília Meireles)



Desenho
Fui morena e magrinha como qualquer polinésia,
e comia mamão, e mirava a flor da goiaba.
E as lagartixas me espiavam, entre tijolos e as trepadeiras,
e as teias de aranha nas minhas árvores me entrelaçavam.

Isso era num lugar de sol e nuvens brancas,
onde as rolas, à tarde, soluçavam mui saudosas...
O eco, burlão, de pedra em pedra ia saltando,
entre vastas mangueiras que choviam ruivas horas.

Os pavões caminhavam tão naturais por meu caminho,
e os pombos tão felizes se alimentavam pelas escadas,
que era desnecessário crescer, pensar, escrever poemas,
pois a vida completa e bela e terna ali já estava.

Como a chuva caía das grossas nuvens, perfumosa!
E o papagaio como ficava sonolento!
O relógio era festa de ouro; e os gatos enigmáticos
fechavam os olhos, quando queriam caçar o tempo.

Vinham morcegos, à noite, picar os sapotis maduros,
e os grandes cães ladravam como nas noites do Império.
Mariposas, jasmins, tinhorões, vaga-lumes
moravam nos jardins sussurrantes e eternos.

E minha avó cantava e cosia. Cantava
canções de mar e de arvoredo, em língua antiga.
E eu sempre acreditei que havia música em seus dedos
e palavras de amor em minha roupa escritas.

Minha vida começa num vergel colorido,
por onde as noites eram só de luar e estrelas.
Levai-me aonde quiserdes!  aprendi com as primaveras
a deixar-me cortar e a voltar sempre inteira.

(Meireles, C. 2001, p.523, 524)

terça-feira, 1 de setembro de 2015

HORA DO VERNÁCULO


Prof. Myrson Lima

I. Abortado

Significados:
1. Que abortou. Produzido antes do tempo. Parido antes da gestação. 

2.  Malogrado, frustrado, gorado.
Exemplos:

O negócio foi abortado. O golpe militar foi abortado pelo governo.
Na linguagem nordestina, não é nada disso.

Abortado se chama o indivíduo de sorte, feliz.
Esse cara é um abortado, nasceu com a bunda para a lua.

Estrofe de Anilda Figueredo, da Academia dos Cordelistas do Crato:
Há sujeito que tem sorte

Mesmo um desmantelado
Escapa de endemia

De polícia e delegado
De acidente e perigo

Pois é aí que eu digo:

Só tendo sido abortado!

II. Afobado
Significados:

Pessoa impaciente, agoniada, inquieta, nervosa, apressada. Com raiva. Tipo atrapalhado, avexado, em função de pressa excessiva ou de
impaciência; precipitado.
Exemplos:

O jogador afobado chutou a bola para fora. Quem é afobado come cru ou queima a boca.
Estrofe de Ulisses Germano, cordelista do Crato

Uma pessoa afobada
É nervosa e inquieta

Anda sempre agoniada

E tudo em volta lhe afeta
É no gesto aligeirado

Que o trejeito do afobado
Perde prumo, perde a reta.

III. Baitinga
Vem de baitola. Há uma etimologia talvez fantasiosa que diz que o termo nasceu na construção da primeira estrada de ferro no Ceará. O capataz encarregado do assentamento dos trilhos era de origem inglesa e possuía modos efeminados. Tinha ele a preocupação com o espaçamento padrão entre os trilhos chamado de bitola. Por influência da língua materna em que o i tem o som de ai, gritava com frequência o termo baitola em vez de bitola. Os peões por causa disso começaram a chamar o capataz de baitola.

Significado: baitola, balde, veado, gay, fresco, homossexual, bicha.
Empregado também para xingar alguém.

É termo menos ofensivo que os anteriores. Usa-se muito nas brincadeiras entre amigos. Geralmente, não tem conotação ofensiva. Tudo vai depender da entonação de quem emprega o termo.
Exemplos:

E aí seu baitinga, não vai me emprestar o cavalo não?
Estrofe de Bastinha Job (da Academia de Cordelista do Crato)

Digo com convicção
Nem preciso de mandinga

Pois falo com precisão

O sinônimo de baitinga

é o cara afrescalhado

É o popular veado

Tem na rua e na caatinga.

IV. Birita
Significados:

a) Cachaça, pinga, aguardente, por extensão qualquer bebida alcoólica.
b) Apelido que se acrescenta a um nome de um cachaceiro: Chico Birita. Manel Birita.

Estrofe de Aldemá de Morais, da Academia dos Cordelistas do Crato
“Birita” é o nome dado

A um tipo de cachaça.
O caboclo no engenho

Bebe em cuia de cabaça
É vendida em botequim

Seus clientes: “Papudim”,

“Pé inchado” e “Arruaça”.

V. Escambau
Origem provável: No Brasil Império, era comum os portugueses que aqui viviam fazer o "escambo", que consistia na troca direta de mercadorias sem o uso de moeda corrente, na maioria das vezes, gêneros de última necessidade, em uma grande feira chamada escambau.

Significados
Significa etc e tal. Comprou farinha, rapadura, carne seca e o escambau.

Escambau também se usa para denominar as pessoas de baixa condição social.
Trova

Bater fofo é não cumprir
Etecetera é escambau

Sujar muito é encardir
Quem acusa, cai de pau

Confusão é funaré
Carta curinga é melé

Atacar é só de mau.

VI. Distrenado
Sentido no cearensês: sem graça, encabulado.

Exemplo: Depois que fez esta besteira, ficou todo distrenado.
Trova de Josenir Lacerda, cordelista do Crato.

Se o sujeito tá confuso
Tristonho e encabulado

Com vergonha, constrangido

Feito um cão escorraçado
Tem gente que olha e diz:

- Aquele pobre infeliz
Tá sem graça, "distrenado".

A.C.L.P.  -  28.8.2015.