domingo, 31 de maio de 2015

POEMA "BUSCA"




busca
Giselda Medeiros


Hoje quero tocar-te,
alcançar as dunas que circundam
a alvura de tuas praias.
Hoje queria ter
dedos insubmissos,
sentinelas destas mãos
que comandam a feroz audácia
de gestos indormidos.
Queria alongar-te pelo dorso manso
a inquietude de desejos secretos
até sentires a quentura gritante
da minha insaciável busca.

Sinto o tempo de amar,
o tempo de entrega.
Entanto, os meus olhos já se enublam
como um sol poente
nas águas sofridas de um rio.
E minha alma, cisne arisco,
já se inclina ante a miragem
do fogo de teus olhos.

Hoje queria tocar-te a superfície,
cadeia enervada de emoções.
Mas, que adianta!
Hoje é apenas um momento...
E o momento é breve como o canto
que te canto.
Depois... Somente a praia submersa
que se inclina
e o sol, pedaços de ânsias afogadas
na mansitude azul das águas...
 

quarta-feira, 13 de maio de 2015

ARTIGO DO PROFESSOR VIANNEY MESQUITA


PERCALÇOS NA FEITURA DE UM LIVRO
Vianney Mesquita*
Grande livro seria aquele em que a metade do gênero humano lesse o que pode e deve oferecer aos demais cinquenta por cento! (SEVERO CATALINA DEL AMO. * Cuenca, 1832; Madrid, 1871 – 39 anos).

Dias atrás, na décima oitava oportunidade na vida, passei pela emoção de ensaiar experiência ditosa: a de recolher o recheio da étagére, abrangendo textos do meu varejo escritural, com data inaugurativa em setembro de 2014 (e previsão de lançamento em julho-2015), quando já houvera pinçado o sortimento textual que encorpou o livro Nuntia Morata – Ensaios e Recensões, publicado em 02 de  outubro do ano imediatamente transato.
Este sucesso dista do primeiro evento exatos 31 anos, quando, em Sobre Livros – Aspectos da Editoração Acadêmica (Brasília:Proed/Fortaleza: Edições UFC – 1984), trouxe ao lume, em avant première autoral, as compreensões acerca da edição de trabalhos no âmbito das casas publicadoras das universidades federais brasileiras, no ensejo em que desenvolvi as atividades de secretário-executivo da citada Editora da Universidade Federal do Ceará, vitoriosa – e ainda persistente – iniciativa do preclaro reitor Prof. Paulo Elpídio de Meneses Neto, hoje sob as mãos diligentes do Professor Antônio Cláudio Lima Guimarães, pessoa desprovida de qualquer defeito.
Os originais transitam sob a desvelada atenção do professor, imortal da Academia Cearense de Literatura e Jornalismo, Geraldo Jesuino da Costa, o mago da editoração cearense, que procede, com arte, graça e profissionalismo, aos provimentos estéticos das modernas artes gráficas, com vistas a conferir aos Guardados da Minha Étagére - Aproximações Literocientíficas - a configuração continental do volume, consentânea em relação às exigências da Modernidade no concernente à manifestação graficovisual do livro de papel. Afortunadamente, pois, não se podendo contar com a qualidade e o alcance do CONTEÚDO das minhas nem sempre assentes concepções, por seguro, pelo menos, remanescerá garantida a essência do CONTINENTE, a ser explícita por tão alteado intelectual e artista coestaduano, como fez com sua pintura excepcional nas capas do mencionado Sobre Livros, bem assim, mais recentemente, do Arquiteto a Posteriori (2013) e de Nuntia Morata (2014).
Já no Posfácio de Impressões – Estudos de Literatura e Comunicação (Fortaleza: Agora, 1989), eu já exprimia a noção de que edificar uma obra, por simples que saiam seus teores, não encerra mera operação gráfica, como pensam, decerto, aqueles ainda à espera de publicar um livro, conquanto já hajam trespassado os outros dois pressupostos ditos para o ente humano estacionar-se feliz: gerar um filho e plantar uma árvore.
Operado por dezenas de mentes, triplicado número de mãos e muitas naturezas em pensamento – inclusos os “arquitetos ao depois” - o livro, malgrado o desembaraço da editoração moderna em computação gráfica, sempre ensejará algo a se pretender, em virtude daquela heterogeneidade operacional, a torná-lo rebento de uma coletividade fundada pelas pessoas que, afetuosamente ou não, o constituíram.
Neste caminho, onde não apenas medram inteligências, mas também prosperam espinhos e calhaus ponteagudos, não sei mais asseverar se quem escreveu ou - mais bem terminante - aquele tangido pela conceição intelectiva, é, na realidade, o componente mais valioso desta complicada, dispendiosa e dulcíssima empresa.
A fim de se alevantar um produto escrito, há vera convergência de forças, para, uma vez juntadas todas as pedras desse quebra-cabeça lúdico-intelectivo, se aportar à consecução da sua finalidade.
 Por conseguinte, no emaranhado de ideações, em teia enredada de intenções, é que podem aparecer os equívocos, máxime para os leitores mais aprestados, como (folgo com isso dizer) ocorrem ser os meus, componentes do “alto clero” do “Vaticano” acadêmico do Ceará.
Sucedem, quase sempre, os vieses do autor, pretensa primeira figura do empreendimento librário. Aparecem suas proposições desacertadas e confusas, assentadas em fontes também falazes, indutoras compulsórias aos enganos. Surde a multiplicidade de procedimentos, uns editoriais, outros plásticos e demais condutas gráficas, muitas vezes carentes de concertos e consertos, sem contar com as reiteradamente descabidas incursões do escritor aos originais, para modificar, mexer, introduzir adendas, transmudar a versão anterior e, mui especialmente, a fim de desequilibrar a paciência dos operadores, os quais, no fim, jamais são reconhecidos, no entanto, restam inculpados pelos desacertos eternamente conduzidos pela publicação, a induzirem à falácia milhares, talvez milhões, de desavisados consultantes.
Acontece de ser, pois, nesta baralhada toda que o modelo enseja o registo de erros não reparáveis - raríssimamente nenhum, nas mais das vezes muitos e reiteradamente alguns.
Descansa no anedotário e no folclore das antigas tipografias, reverberando até hoje na ambiência das gráficas modernas, a mofa segundo a qual editores e operadores tipográficos asseveram – seja isto registado, e com sobrada razão – o fato de ser o autor o que mais atrapalha a obra. Para alguns, melhor seria que as produções a editar não tivessem escritores. Não fosse assim, contudo, não haveria quefazer para os críticos – os mencionados arquitetos ao depois, que desmancham as obras e, ao remontá-las, sobram esses parafusos da capa do Arquiteto a Posteriori (foto), que a diligência e o desvelo profissional do acadêmico Geraldo Jesuino da Costa retrataram na cobertura deste (quiçá) arremedo editorial da minha colheita, lançado em 2013.
Conquanto seja fato latente na execução de qualquer trabalho editorial, ordena-me a consciência evidenciar a coautoria de editor, capista, revisores, prefaciadores, autores de guarnições, bibliotecários, digitadores, amigos e conselheiros - bons muitos, mas insuportáveis outros – para se poder perlustrar ínvios quanto livres caminhos, a fim de cumprir um desiderato: o de a pessoa humana deixar marca por onde transita, como no verso de Ovídio - Non omnia moriar. (1).
De todo modo, também como sucedeu com os demais, ocorre com este nascituro projeto de livro – Guardados da Minha Étagere - Aproximações Literocientíficas com o qual me afanei, prazerosamente, em dias às centenas e no curso de milhares de horas, subtraídas ao sossego corporal para labor do espírito.
Malgrado possa ele ser objeto dos retrocitados transtornos editoriais, assevero haver sido fomentado com estreme atenção, conquanto, me insertando na posição de mortal, explique, sem a pretensão de justificar, alguns lapsos que poderão nele vir explícitos. Terêncio defende-me: Homo sum. Humani nihil a me alienum cogito (2). E caso, todavia, não tenha logrado que o nascente volume se compadeça à expectação do meu leitorado, sobejou a intenção, decerto, nobilitante de o ter pretendido fazer.
Quid deceat, quid non. (3).


(1) Não morrerei completamente – frase da autoria de Públio OVÍDIO Nasão, poeta romano, retratando o fato de que o homem deixa obras edificadas. Daí, a morte incompleta: vão-se os homens,  permanecendo, porém,  suas obras.
(2) Sou homem e nada reputo a mim alheio do que é humano - sentença célebre da lavra de Públio Terêncio Afro, poeta cômico tunisino (Cartago), tirando a responsabilidade do ser humano naquilo que não pode fazer.
(3) O que convém, o que não convém. Preceito de Quinto Horácio Flaco, poeta latino nascido na Apúlia, expresso na Arte Poética, 308. Corrija-se o que é mau, conserve-se o que é bom; veja-se quid deceat, quid non.
   

sábado, 9 de maio de 2015

UM DOS MAIS BELOS POEMAS ALUSIVOS AO DIA DAS MÃES



DIA DAS MÃES

GIUSEPPE GHIARONI 





Mãe! eu volto a te ver na antiga sala
onde uma noite te deixei sem fala
dizendo adeus como quem vai morrer.
E me viste sumir pela neblina,
porque a sina das mães é esta sina:
amar, cuidar, criar, depois... perder.
Perder o filho é como achar a morte.
Perder o filho quando, grande e forte,
já podia ampará-la e compensá-la.
Mas nesse instante uma mulher bonita,
sorrindo, o rouba, e a velha mãe aflita
ainda se volta para abençoá-la 
Assim parti, e nos abençoaste.
Fui esquecer o bem que me ensinaste,
fui para o mundo me deseducar.
E tu ficaste num silêncio frio,
olhando o leito que eu deixei vazio, 
cantando uma cantiga de ninar.
Hoje volto coberto de poeira
e te encontro quietinha na cadeira,
a cabeça pendida sobre o peito.
Quero beijar-te a fronte, e não me atrevo.
Quero acordar-te, mas não sei se devo,
não sinto que me caiba este direito.
O direito de dar-te este desgosto,
de te mostrar nas rugas do meu rosto
toda a miséria que me aconteceu.
E quando vires a expressão horrível
da minha máscara irreconhecível,
minha voz rouca murmurar:''Sou eu!"
Eu bebi na taberna dos cretinos,
eu brandi o punhal dos assassinos,
eu andei pelo braço dos canalhas.
Eu fui jogral em todas as comédias,
eu fui vilão em todas as tragédias,
eu fui covarde em todas as batalhas.
Eu te esqueci: as mães são esquecidas.
Vivi a vida, vivi muitas vidas,
e só agora, quando chego ao fim,
traído pela última esperança,
e só agora quando a dor me alcança
lembro quem nunca se esqueceu de mim.
Não! Eu devo voltar, ser esquecido.
Mas que foi? De repente ouço um ruído;
a cadeira rangeu; é tarde agora!
Minha mãe se levanta abrindo os braços
e, me envolvendo num milhão de abraços,
rendendo graças, diz:"Meu filho!", e chora.
E chora e treme como fala e ri,
e parece que Deus entrou aqui,
em vez de o último dos condenados.
E o seu pranto rolando em minha face
quase é como se o Céu me perdoasse,
me limpasse de todos os pecados.
Mãe! Nos teus braços eu me transfiguro.
Lembro que fui criança, que fui puro.
Sim, tenho mãe! E esta ventura é tanta
que eu compreendo o que significa:
o filho é pobre, mas a mãe é rica!
O filho é homem, mas a mãe é santa!
Santa que eu fiz envelhecer sofrendo,
mas que me beija como agradecendo
toda a dor que por mim lhe foi causada.
Dos mundos onde andei nada te trouxe,
mas tu me olhas num olhar tão doce
que, nada tendo, não te falta nada.
Dia das Mães! É o dia da bondade
maior que todo o mal da humanidade
purificada num amor fecundo.
Por mais que o homem seja um mesquinho,
enquanto a Mãe cantar junto a um bercinho
cantará a esperança para o mundo!

sexta-feira, 8 de maio de 2015

UM POEMA DE LILA XAVIER



As palavras são cinzas de papel
As palavras, dizem o que querem
Tu as proferes com a força que te constitui
Com o teu vazio
Com a tua vitrine podre
Com a tua máscara de ilusão.

Quanto a mim, ouvi
Filtrei
Deleitei-me com a melodia que delas ressoava
Joguei-as ao vento
E elas, as palavras doces
Dissiparam-se como cinza de papel queimado.
No incêndio
A poesia era apenas pano de fundo
Chegou o fim.
Lila Xavier

quarta-feira, 6 de maio de 2015

LANÇAMENTO DE POLICROMIAS _ 8º VOLUME


Como parte das comemorações dos 45 anos de fundação da AJEB, aconteceu, no dia 14 de abril de 2015, o lançamento do oitavo volume de Policromias, Antologia da Associação de Jornalistas e Escritoras do Brasil - AJEB/CE.

O evento teve lugar nas dependências da Associação de Docentes da Universidade Federal do Ceará, ADUFC, a nós, gentilmente, cedido.

O livro e seus autores foram apresentados pela Escritora, Professora e Mestre Ana Vládia Mourão (ao centro), que disse palavras enaltecedoras a respeito da nossa AJEB e dos autores do livro.

Ocorreu, também, a premiação do VI Concurso Literário Professora Edith Braga.

Foi um momento de regozijo para nós, que fazemos a Coordenadoria da AJEB-Ceará, com o total apoio de nossa Presidente Nacional, Daisy Buazar (SP).

O Cerimonial esteve sob a direção do Jornalista Vicente Alencar e a parte artística sob o comando do músico Robston Medeiros.


As palavras de agradecimento foram proferidas pela ajebiana Ana Paula de Medeiros Ribeiro, Professora, Mestre e Doutora da Universidade Federal do Ceará.

               
Alguém já afirmou que não há exagero mais belo do que o exagero da gratidão. Arrimados nesta assertiva, não temos, então, o menor receio em exagerar na nossa gratidão, nesta noite soberbamente plena do aconchego humano.
               A Associação de Jornalistas e Escritoras do Brasil – AJEB – chega hoje aos seus quarenta e cinco anos de fundação. Não nos alongaremos sobre a sua história, uma vez que já foi explanada pelo nosso cerimonialista. Mas, como a noite é dedicada ao saber agradecer bem, não poderíamos deixar de louvar a atitude da jornalista e escritora Hellê Vellozo Fernandes que, lá nas terras paranaenses, há justos 45 anos, implantou a nossa querida entidade, que, aqui, no Ceará, encontrando o apoio e a determinação de Nenzinha Galeno, passou à história como a primeira coordenadoria estadual a ser fundada no Brasil, após a do Paraná. A elas, pois, a nossa gratidão.
               Policromias, em seu oitavo volume, chega-nos então como uma multiplicidade de cores humanas, ao todo, trinta e dois participantes, com seus mais múltiplos matizes, concentrados nessa aquarela sob as tonalidades de variados estudos sobre escritores daqui e de outras terras.
               E é, misturados a essa multiplicidade de cores, que continuamos a demonstrar a nossa gratidão. E o fazemos, penhorados, à Associação de Docentes da Universidade Federal do Ceará (ADUFC), Casa que nos acolhe, hoje, com simpatia. Em segundo lugar, a nossa gratidão à professora, mestre e escritora Ana Vládia Mourão que, em meio aos seus múltiplos afazeres, generosamente, acolheu nosso pedido e, com sua inteligência de mestre e sensibilidade de poeta, aceitou apresentar esta nossa Antologia, o que o fez, como bem o sabe: com propriedade, beleza, conhecimento e experiência no fazer literário. Gratos somos, do mesmo modo, à família de nossa inesquecível Sócia Honorária, Ebe Braga Frota, por nos ter proporcionado, com a agradável tessitura de sua generosidade, a realização do VI Concurso Literário Professora Edith Braga, cujos vencedores, aqui, louvamos e aplaudimos.
               E mais, nossos agradecimentos a esse gênio das artes gráficas, Carlos Alberto Dantas, pela beleza de sua policromizada tela, que constitui a capa da nossa Antologia. Agradecimentos ao Dorian Filho e a toda a equipe da RDS Editora, pelo esmero do projeto gráfico e pelo carinho com que sempre fomos tratados. Nosso agradecimento vai também para os participantes deste Policromias, hoje em seu oitavo volume, com suas belas peças literárias.  E agradecemos a presença dos insignes presidentes de entidades literoculturais, bem como aos queridos familiares e convidados, que aqui vieram adicionar mais colorido à nossa festa policrômica. Agradecimentos a todo o quadro social da AJEB: as efetivas, os colaboradores, os beneméritos e os honorários, e, de modo especial à nossa presidente, Nirvanda Medeiros, pela substancial colaboração dada a este evento. Agradecemos, outrossim, ao jornalista Vicente Alencar, pela segura condução do cerimonial. E o nosso muito obrigada a esse artista ímpar, Robston Medeiros, que nos encanta com sua preciosa arte.
               E, ao final, a homenagem maior à nossa amada AJEB, pelo transcurso do seu quadragésimo quinto aniversário de fundação.

                                                                Muito Obrigada.

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