quarta-feira, 29 de abril de 2015

Jose Telles e sua Poesia Vigorosa - por Giselda Medeiros


                   Não é à toa que se diz estar a arte sempre a apontar para possibilidades cada vez mais renovadas de vida, ao propiciar a criação de pontos de vista sobre o mundo e sobre o homem que, num impulso lúdico de sua criatividade torna-se senhor de sua imaginação assumindo sua intrínseca dimensão humana.
              Este posicionamento nos acerca a propósito da leitura do mais recente livro de poemas assinado pelo escritor-médico José Telles. Inegavelmente, O Lacre do Silêncio (Fortaleza: Edições Sobrames, 2004), em belo projeto gráfico de Geraldo Jesuíno, chega até nós extasiando-nos os sentidos.
              A partir do título, já se descortina a vocação plural de que é possuidor José Telles para a construção do seu universo poético, no qual o homem com suas dúvidas, angústias, medos, perdas e outras dores ontológicas parece sucumbir ante o inevitável. No entanto, carregando o sonho como sua tocha olímpica, ele segue, qual Quixote, a duelar com seus fantasmas para a vitória do amor e do sonho, que são o canto inaugural do universo poético de José Telles. Comprovemo-lo: Tentarei meu último sonho / sem o vexame das horas / (...) / Serei pérola na porcelana do teu corpo / e madrugada na lâmina da tua aurora. (“Tempo e Espera”)
              O tempo, esse construtor/demolidor de tudo, também é motivo das divagações metafísicas do Autor. Destaque-se, porém, que José Telles não se apavora ante a voracidade  de sua famélica boca, antes vive o momento em toda a sua potencialidade de relação com o mundo e com a natureza. Todo ele é dinâmica de procura, templo de encontro, liberdade transcendente. Vejamos: lágrimas impressionam meu disfarce / na varanda do tempo uma chuva faz memória. (“Disfarce”); De semita tenho o norte e as areias do mundo / mas procuro terras pra viver. (“Viajor da Lama dos Infernos”); No bonde dos sonhos / pedaços de dor ainda viajam comigo / e lágrimas acumuladas / são lâminas que se afiam cortando tempo e vingança. (“Vingança”); O tempo me marca com o rigor do mistério, / a vida se espalha e congela meu delírio. (“Delírio”); O tempo em minha pele / é um tempo flácido e vencido. (“Ária de Amor ao Tempo”); Existo? Ou assisto minha ausência sendo eu? (“O Ser e o Nada”).
              Amante e amador, por natureza, e tendo aprendido de Cecília Meireles que O destino de quem ama / é vário, / como o trajeto do fumo /, José Telles vivencia o amor em toda a sua plenitude, antes que o silêncio ponha o lacre definitivo em sua vida. E ele sabe que o grande dia é o hoje, o agora. Em razão disso, o amor o leva a preferir a lua a qualquer outro estrelato, e se faz gâmico e poligâmico, mas cultua a escolhida, porque entende estar em trânsito por trás do seu espelho. E arremata em “Cicatrizes”: duro é esse gosto de nada / e o ritmo morto das coisas.
              A amada é o cálice em que o poeta extravasa o vinho de seu erotismo para o brinde a dois. E, assim, derramado numa “Saudade Líquida”, o poeta desperta-nos a sensibilidade, ao cantar: Em parceria sou uno / a dois sou espelho / devasso lábios e mucosas / em beijos de lama e sexo / tua boca bóia em minha boca / e de tocaia / beijo tua alma / teu corpo desafio / espelho / espalho-me / saudade líquida. Atente-se para a carga plurissignificativa do belíssimo “achado” poético saudade líquida.
              Desse modo, sai o poeta (des)afiando dores: a dor medeia a flor e cresce salgando a terra; silêncios: Sou o silêncio / que incomoda vizinhos; angústias: Quero sair por aí... / exibindo minha angústia / na tatuagem que pula o muro do vizinho; medos: O medo / espiava da janela querendo paisagem; solidão: Nas celas / o sol penetra em retângulos / e encontra o ângulo da dor; saudade: Mas sem aquele flanco de saudade, que dor me restaria?; fome: No meu relógio de pedra / a fome é um silêncio que cai na boca dos mortos; rugas: Minhas rugas / são fantasias da minha alma, /.../ elas não são cicatrizes, / são árias de amor e paisagem / no armorial do corpo; e a morte, tratada sob o viés do seu característico bom-humor: Às vezes / a morte me chama / eu faço que não escuto / mas quando / chamo por ela / vai atrás doutro defunto..

              Enfim, resta-nos aplaudir a poesia vigorosa de José Telles, com a alma agradecida, leve e feliz, por nos ter propiciado esse momento infinito de estesia, esse penetrar em seu universo onírico, no qual a palavra, trabalhada sob metáforas bem construídas, oferece-nos imagens e paisagens ligadas por relações, via de regra, distintas da lógica e da casualidade, o que sói acontecer com os verdadeiros artesãos da arte.  

Giselda Medeiros

(in: "Crítica Reunida")            

terça-feira, 28 de abril de 2015

UM POEMA DE VICENTE ALENCAR



TUA AUSÊNCIA
Vicente Alencar

Silêncio,
palavra que tudo traduz
quando o coração está triste.
Há muito,
há um intenso silêncio em mim.
Só há uma explicação
para isso:
A tua ausência.
Sentida há tanto tempo

martirizando-me sempre.


segunda-feira, 27 de abril de 2015

AJEB É HOMENAGEADA PELA ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO ESTADO DO CEARÁ


Giselda Medeiros recebe placa comemorativa dos 45 anos de fundação da AJEB, durante a homenagem da Assembleia Legislativa do Estado Ceará à Associação de Jornalistas e Escritoras do Brasil, ocorrida em 23 de abril de 2015, pela sua gestão como Ex-Presidente da AJEB Coordenadoria do Ceará e Como Ex-Presidente Nacional da AJEB.



O Deputado Sérgio Aguiar, autor do requerimento da homenagem, recebe troféu de "Amigo da AJEB".

quarta-feira, 1 de abril de 2015

APRECIAÇÃO LITEROCIENTÍFICA - pelo Professor Vianney Mesquita



VIOLÊNCIA NAS RELAÇÕES DE GÊNERO E CIDADANIA*
                  Vianney Mesquita*

Mostrai-me um homem violento que tenha  chegado a bom fim e eu o considerarei meu Mestre. (LAO-TSÉ. *Tchu, Prov. Henan – China, + ou – 600 a.a.C).

A unidade de ideias violência, gênero e cidadania, em particular na atualidade, envolve conceitos a absorver cuidados do lado de estudiosos, porquanto estes se preocupam frequentemente em explicar seus entendimentos, ao lume dos diversificados esgalhos do saber ordenado, na demanda de elucidar suas manifestações, em especial, no trato, nem todas as vezes pacífico, da vinculação social.
Investigadores de variados estratos, mormente os partícipes da reflexão sociocomportamental – Sociologia, Antropologia Social, Psicologia e saberes conexos – compuseram já, em toda a generalidade da diligência reflexiva, farta literatura concernente às mencionadas áreas do conhecimento controlado, com focagens distintas, ao ponto de não ser possível estabelecer domínio absoluto acerca de volume e extensão racional de tão avultados entendimentos.
Sucede desta maneira, é evidente, pelo fato de não se cuidar de mera temática, todavia de assuntos para cujo deslinde são requeridos do investigador máxima acuidade sindicante e depurado preparo intelectivo na senda de abrangência na qual se inscrevem os léxicons objeto destas notas, principalmente no que margeia às noções de violência, atada às ideações de gênero e caráter cidadão feminino.
Eis que a professora doutora Maria do Socorro Ferreira Osterne não sorveu a taça dessas travosas dificuldades, normalmente arrostadas pelos pesquisadores catecúmenos.
Já faz algum tempo – na contingência de revedor de suas composições valiosas para o recheio da ciência e fiel admirante dos escritos que publica – acolita-se em procissão leitora o apreciável trajeto universitário e docente da autora de Violência nas Relações de Gênero e Cidadania Femininos, razão por que é lícito certificar-se, prazerosamente, sua feição de investigadora das melhores cepas, titulada com refinamento e acurácia em distintos ambientes acadêmicos stricto sensu do Brasil.
As produções editadas carreiam sinetes pessoais, contributo de estimação à causa do saber, sem servilismos a escolas da moda, tampouco subserviência a autores de gosto e nomeada atual, pois granjeou, de motu próprio, e com demarcada responsabilidade professoral, a circunstância de investigadora com clarão interior, não adventício, sem gravitar à órbita de qualquer mentor, modus procedendi com o qual ela não simpatiza.
Ao revés, a despeito de se louvar em opiniões de valor incontestável – por cujo íntimo se movimenta sem importunação, pois se aprontou para tal – arroga-se o direito e o dever do bom pesquisador de operar saber de colheita particular, o qual incorpora descobertas, consagrando aos seus ensaios o status da excelência.
O volume que se tem o lance de anotar constitui, induvidosamente, fato auspicioso, pois aí exprime magistralmente seus contornos de escritora laureada, onde também manifesta, com nitidez meridiana, todo o alcance da sua formação acadêmica, fazendo-se, com efeito, legítima componente do alcunhado Alto Clero, com assento cativo na exigente Cúria da Academia, o que, de fato, representa mais uma glória para a inteligência de sua Pátria.


*Obs. Texto modificado das guarnições de Violência da Relação Gênero e Cidadania Femininos. Fortaleza: Edições UECE, 2008. 297p.